Quando o pênalti chutado por Lima passou pelas mãos de Fernando e balançou as redes, uma louca festa teve início na Arena da Baixada. O mesmo Atlético que ultimamente manifestava menosprezo pelo Campeonato Estadual comemorou como nunca a retomada da hegemonia local.
Depois de dois anos assistindo à festa dos alviverdes, os rubro-negros foram à forra. "Perdi dois títulos em 2004. Estava engasgado na garganta. Quem ri por último ri melhor", falou o capitão Marcão, pouco depois de levantar o troféu em meio a uma chuva de papel picado.
O goleiro Diego, que em dois anos de Atlético não havia conquistado nenhum título, também desabafou. "Prometi, desde o dia de minha chegada, que faria o Atlético campeão. Agora posso pôs a cabeça no travesseiro e dormir tranqüilo", comemorou, emendando um discurso de humildase. "Ainda bem que não peguei nenhum pênalti, porque senão haveria um herói. E nesta conquista não há um herói, e sim o esforço de todos".
Para alguns atletas, a conquista teve sabor especial. A exemplo do atacante Lima, que virou maior personagem da decisão, jogadores como o meia Fabrício e o atacante Dênis Marques experimentaram a sensação da volta por cima. "No início do ano recebi várias propostas, até do Exterior. Mas preferi voltar para o Atlético, porque me sentia em dívida com o clube e com a torcida", disse Fabrício. "Parte desta dívida foi paga com o título, mas ainda há muito para ser conquistado", completou.
Dênis, por sua vez, foi talvez o jogador mais vaiado deste Campeonato Paranaense. Mesmo no jogo de ontem, a torcida começou a pedir a entrada de Lima ainda no primeiro tempo. Coube a ele, ironicamente, marcar o gol que levaria a decisão para a prorrogação. "Agora todos me aplaudem. Torcedor é assim mesmo. Tive uma fase difícil, que espero ter deixado para trás definitivamente", disse o atacante, que ao lado de Diego, do meia Ticão e do zagueiro Baloy estavam entre os mais animados na festa do título.
Já o técnico Edinho lembrou o trabalho de Casemiro Mior, dizendo que o antecessor tem a "parte importante do título". "O que fiz foi tirar a pressão que havia sobre os jogadores", disse.
Trio elétrico
Depois da entrega de troféus e da volta olímpica, alguns jogadores foram à Praça Afonso Botelho, onde um trio elétrico embalava a festa da torcida atleticana. Marcão, Diego, Aloísio, Maciel, Fabrício, Alan Bahia, Dênis Marques e Lima, entre outros, subiram no caminhão de som e festejaram com a multidão. A idéia da diretoria era levar todo o time sobre o trio elétrico até um restaurante de Santa Felicidade, local da comemoração oficial. Mas a aglomeração popular impediu o caminhão de sair do lugar.
No restaurante, jogadores, comissão técnica, dirigentes, os respectivos familiares e alguns torcedores comemoram a conquista até de madrugada. Com promessa de uma gostosa moderação – já que há um treino marcado para hoje à tarde e quarta-feira tem jogo pela Libertadores.
Decepção
A torcida do Coritiba se concentrou no Couto Pereira para acompanhar a final do Estadual em um telão. Mas a grande maioria foi embora antes do tempo e decepcionada, já que o jogo não foi transmitido pela TV. Somente nos 25 minutos finais os organizadores conseguiram captar as imagens através de uma antena parabólica. Os poucos torcedores que ali permaneciam foram embora tristes, mas de forma ordeira, com a derrota na decisão por pênaltis.
Fleury: torcida pode debochar desses "manés"
O primeiro título a gente nunca esquece. Que o diga o presidente atleticano João Augusto Fleury da Rocha, que comemorou a conquista como um menino e aproveitou para alfinetar os rivais. E mais: garantiu ter usado intencionalmente o terno verde na apresentação do técnico Edinho, terça-feira.
Após a partida, Fleury afirmou que, ao escolher a vestimenta com a cor do adversário, pensou em chamar para si a polêmica a respeito do clássico. "Deixei de ir ao CT depois disso, para que o foco continuasse sobre mim. Assim, os jogadores e a comissão técnica puderam trabalhar com tranqüilidade. Foi uma armadilha para pegar bobo", falou.
A contratação de Edinho, por sinal, foi um dos principais fatores que levaram ao triunfo, segundo o presidente. "Precisávamos chacoalhar o elenco. Por isso trouxemos um líder, um homem vitorioso como jogador. Deu resultado", disse, criticando a postura do adversário durante a decisão. "Conturbaram o andamento da partida, imaginando que ganhariam nos pênaltis. No fundo, sabiam que o time do Atlético tem mais qualidade", cutucou.
Por fim, Felury abandonou de vez a diplomacia e partiu para o ataque mais direto. "Fiz um sacrifício e me submeti ao ridículo para que nossa torcida pudesse passar a semana toda debochando desses manés", detonou.
Fanáticos enfrentam PM. Coxas acertam carro
O KA de Margot teve vidro quebrado. |
A Polícia Militar não teve muito trabalho na tarde de ontem. Talvez da forma como a decisão foi definida (pênaltis), pois poucos incidentes foram registrados.
Segundo o major Czerwonka, que estava em frente à Arena, no momento em que os rubro-negros comemoravam o título, foi justamente ali que aconteceu um incidente. ?Parte dos integrantes da organizada ?Os Fanáticos? avançou sobre o contingente policial. Eles tentaram nos atingir com garrafas e pedras, mas com a carga eles retornaram à Mena Barreto Monclaro (rua onde fica a sede da organizada). Felizmente, nada de grave aconteceu?, revelou o major.
Caso grave
Mas foi longe dali que aconteceu um dos incidentes mais graves de ontem. À noite, por volta das 19h, a locutora e estudante de jornalismo, Margot Dobignies, descia pela rápida que liga a região do bairro onde mora, Boa Vista, para levar o filho menor (R.D.L.M.F.) à casa de um parente, para comemorar o título. Ambos com a camisa do Atlético. Quando chegavam à altura do Centro Cívico, próximo à Avenida Cândido de Abreu, um grupo de torcedores, com a camisa do Coritiba, atingiu seu veículo (um Ford Ka) com pedras, quebrando o vidro traseiro do lado do passageiro, onde estava seu filho.
Apesar do medo, a indignação de Margot foi maior, e ela seguiu os agressores. Ligou para a Polícia, mas uma viatura iria demorar cerca de vinte minutos.
No entanto, Margot não se deu por vencida. Seguindo em direção às Mercês, ela encontrou um policial na rua. O soldado Antônio, da 2.ª Cia. do BPTran, ouviu o pedido de Margot, e a acompanhou até o local da ocorrência.
A insistência foi ?premiada?. O policial pôde ver os agressores agindo novamente. Foi quando ele deu voz de prisão aos arruaceiros, chamando viaturas que ajudaram a prender Luiz Alberto Silva Albini, de 19 anos. Levado para o 3.º Distrito, nas Mercês, foi lavrado o termo circunstanciado e ele deve responder por danos.