Passadas as comemorações pelos 80 anos do Atlético, alguns dos movimentos organizados da torcida voltam à carga e preparam uma entrada na justiça contra a cobrança de R$ 30,00 pelo ingresso no campeonato brasileiro.
Está programada para amanhã uma reunião entre Procon e torcedores, que estão colhendo assinaturas para engrossar uma reclamação coletiva. A entidade, inclusive, já abriu investigação contra o Rubro-Negro e aguarda as planilhas de custos para avaliar se abre ou não processo.
“Nós não devemos ter nenhuma novidade por parte da diretoria. Não conversaram comigo, nem conversaram com Os Fanáticos”, disse Doático Santos, presidente da confraria Esquadrão da Torcida Atleticana (ETA). Ele esperava para ontem um aceno com os dirigentes, mas não houve nenhum contato entre as partes. Com isso, o próprio ETA, junto com a torcida organizada Os Fanáticos e grupos de discussão na internet vão retomar a mobilização contra o preço do ingresso. “Não conversamos ainda, mas provavelmente nós vamos também”, confirmou Juliano Rodrigues, vice-presidente da organizada.
“Queremos fazer uma reclamação coletiva com milhares de assinaturas. A idéia é colocar uma barraca na calçada principal da Baixada e onde for possível”, revelou. Para ele, a bronca está na falta de setores diferenciados dentro do Estádio Joaquim Américo. “De uma hora para outra sumiu o ingresso popular”, disparou. Além da ação no Procon, novos protestos devem acontecer na partida contra o Londrina, marcada para domingo, na Arena.
Para o presidente do clube, João Augusto Fleury da Rocha, nada na política de preços deverá mudar. “Nós temos um compromisso com a coerência. Não podemos chamar quem comprou o pacote e dizer que sobrou dinheiro”, ponderou o dirigente. Segundo ele, a possibilidade de ingresso popular não é viável. “Não queremos que a Arena seja mutilada para essas pessoas que estão esperneando. Só precisamos de 24 mil pessoas para fechar essa parceria”, finalizou o presidente do Rubro-Negro.
Diretoria busca meios de dialogar
Alheia à possibilidade de torcedores entrarem na Justiça contra o polêmico ingresso de R$ 30,00 no campeonato brasileiro e depois da trégua nas comemorações do aniversário do clube, a diretoria do Atlético resolveu repensar a comunicação com os torcedores. Esta semana está reservada para encontros entre representantes da direção e torcida para acertar os ponteiros entre as partes. No entanto, está descartada qualquer possibilidade de diminuição no valor das entradas para as partidas do campeonato brasileiro.
“Vamos buscar meios para neutralizar essa insatisfação. Temos que entrar num consenso que seja bom para todos e que não cause prejuízo ao clube”, aponta o presidente João Augusto Fleury da Rocha. De acordo com ele, a diretoria do Rubro-Negro avaliou mal a reação que o novo preço causaria, mas está definindo estratégias para mostrar que está certa e para “desarmar os discursos emocionais”. “Fica muito fácil pensar que o futebol é feito só para torcedores. O futebol é feito para seus apreciadores”, discursa.
Além disso, Fleury destaca que a reação contra os R$ 30,00 vem de setores isolados. “Não existe essa propalada reação como está sendo falada. Os nossos sócios estão de acordo com as nossas propostas”, ressalta. Para ele, acabou a era do futebol deficitário e o clube não pode mais voltar atrás. “Estávamos acostumados com o futebol a preço vil. Essa fonte secou. Os torcedores têm que mudar essa mentalidade assistencialista”, propõe.
O otimismo do dirigente está calcado na procura pelos pacotes no primeiro dia de vendas. Sem divulgação promocional, 61 torcedores pagaram para assistir os jogos do Furacão e outros 167 fizeram reserva. “Nós queremos que as pessoas se engajem com a gente. Esse preço (R$ 30,00) é para o assistente eventual”, finaliza.
Média de público é a melhor do campeonato
O Atlético não é líder apenas na pontuação geral do campeonato paranaense. Na média de público da competição, o Rubro-negro lidera, com 5.930 torcedores, contra 4.430 do Coritiba. Entretanto, nos últimos dez anos, o Coxa foi o clube que mais torcedores colocou nos estádios no estadual. A exceção foi o ano de 2001, liderado pelo Atlético. A possível ida das duas equipes para a final do campeonato – o Coxa está muito próximo disso – deve acirrar a briga até o último jogo.
Mesmo líder até o momento, a média de público do Atlético caiu em relação aos anos anteriores. E não foi apenas a do time da Arena. Este ano, a média geral de torcedores nos estádios é a menor dos últimos anos. Em 2000, ela foi de 4.317, caiu para 3.402 em 2001 e para 2.799 no ano passado – 2002 não foi computado por ter tido um campeonato diferenciado, com o supercampeonato. Em 2004, até o momento, a média geral do certame é de 2.315.
As surpresas são o Cianorte, no seu segundo ano no profissionalismo, que aparece com média melhor que Londrina e Paraná. Como dificilmente jogará em casa, o semifinalista deve mesmo terminar em quarto, atrás do Rio Branco. O Grêmio também impressiona, pois o público de Maringá mostra que continua gostando de futebol, apesar da péssima campanha da equipe.
O motivo mais provável da fuga dos torcedores dos estádios é a queda do poder aquisitivo da população. No caso do Coritiba, de modo específico, a presença do time na Copa Libertadores da América, que aumentou o número de jogos no Couto Pereira, e a cobrança de R$ 15,00 em jogos do estadual, são os motivos mais prováveis para a queda, apesar de que, no Brasileirão do ano passado, o clube já tenha cobrado esse valor pelos jogos. Com arrecadações tão baixas, muitas vezes os clubes não cobrem sequer as despesas de borderô. No último jogo do Atlético na Arena, contra o União Bandeirante, o clube lucrou pouco mais de R$ 6 mil. “Apesar de termos um pouco mais de cinco mil torcedores naquele jogo, a maior parte da arrecadação foi usada para cobrir gastos para abrir o estádio. É a triste realidade”, diz o presidente do clube, João Augusto Fleury.
Para tentar reverter essa situação, o clube acabou lançando mão da polêmica decisão de majorar o preço do ingresso para o Brasileirão em 100%. A reação do torcedor foi imediata e uma minoria apoiou a cobrança de R$ 30,00 para assistir a um jogo. O incidente levantou uma questão. O que vale mais? Lotar os estádios cobrando menos pelo ingresso ou cobrar um alto preço e ter casa vazia, diretamente proporcional a rendas ínfimas?