Torcedores tentam comprar ingressos até de madrugada

A Copa do Mundo tem deixado muitos torcedores brasileiros com insônia. A falta de ingressos para os jogos tem feito as pessoas vararem madrugadas no site de vendas da Fifa ou em comunidades de troca de entradas e, em São Paulo, já resultou na criação de uma “bolsa de valores” para as partidas, que funciona no ponto de retirada de entradas oficiais, no Ginásio do Ibirapuera, na zona sul.

“Quero ver qualquer jogo em São Paulo. Não me conformo em não ver nenhum jogo. Não verei outra Copa por aqui”, argumenta Roberta Rosa, assessora parlamentar de 39 anos, uma das pessoas obstinadas na busca pelos tíquetes na rede. Ela tenta somente no site oficial da Fifa, que vende ingressos pelos preços “reais”. “Pago até R$ 200 por uma entrada, não mais do que isso”, garante.

A recepcionista Adriana Bispo dos Santos, de 32 anos, adota a mesma tática, mas está resignada. “Quando iniciaram as vendas, coloquei despertador de hora em hora para entrar no site. Às 4 horas, tinha ingresso para várias cidades, mas não para São Paulo, e fiquei sem. Fiz isso outras vezes e agora sempre dou uma olhada para ver se surge, mas já desanimei.”

Dada a dificuldade na compra oficial, o bancário David Miranda, de 29 anos, diz ter adotado os sites Fura Fila e Scorpyn, que informam com antecedência a disponibilidade de ingressos e “levam” o usuário diretamente para a página de compra da Fifa. “Mas comigo ainda não deu certo”, lamenta. Agora, já cogita adquirir ingressos de terceiros. “A Fifa solta o lote e, em dez segundos, já não tem mais. Eu pagaria até o dobro de quanto a pessoa pagou pela entrada. Estou atrás de qualquer jogo e vou tentar até a final.”

POR FORA – O problema, no entanto, é o preço. “Pagar o dobro”, como disse Miranda, pode ser apenas uma frase de impacto. Tanta demanda para tão pouca oferta fez os preços subirem até 650%. Na tarde de sexta-feira, um ingresso para as quartas de final com provável presença da Argentina era negociado por R$ 2.500. No site da Fifa, sai por R$ 330. “Está muito difícil conseguir, por isso estão cobrando esse valor”, disse um vendedor, que se identificou como Ivan e não sabia que falava com um repórter.

No Ibirapuera, os cambistas rodeiam quem vai retirar ingressos. “Vai sobrar um aí? Tô comprando” é a senha para iniciar uma aproximação. Eles ficam perto da entrada da área de retirada dos bilhetes. Negociam abertamente e disfarçam quando a Polícia Militar chega. As negociações, então, são interrompidas até os PMs irem embora. Os cambistas também fazem as ofertas de compra e venda do lado de fora do ginásio.

Quem vende as entradas diz que alguns torcedores que conseguem ingressos no site da Fifa, depois de muitas tentativas, acabam comprando mais do que precisam – segundo eles, para fazer algum dinheiro. Não é o que afirmam torcedores que, distantes do Ginásio do Ibirapuera, negociam os ingressos na internet.

No Facebook, há desde comunidades criadas com o mote “Compre Ingresso da Copa Sem Cambista” até grupos que negociam abertamente as entradas, como cambistas virtuais – os preços, no entanto, parecem mais “justos”.

Uma empresária de 52 anos, que pediu para não ser identificada, afirma que essa foi a melhor forma de comprar entradas. “A maioria dos integrantes dos grupos é gente do bem e que só tem o objetivo de assistir aos jogos”, disse ela, que já viu uma partida e ainda quer levar os dois filhos à final, no Maracanã.

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