?Confiança a gente não tem muito, não. A gente tem fé.? As palavras do estudante Arturo Gomes dos Santos refletem bem qual é o pensamento da torcida do Coritiba para a partida de domingo, contra o Internacional. Movidos por uma esperança muito mais mística do que racional, os torcedores do Cori continuam comparecendo em bom número ao Couto Pereira, em busca de um ingresso para o jogo que definirá o futuro do clube.
Afinal, não é fácil acreditar que o Coxa, um dos piores times do Campeonato Brasileiro, vá encontrar agora, na última rodada, o futebol que não apresentou durante toda a competição. Principalmente diante do Inter, que vem a Curitiba ainda brigando pelo título. Mas em tempos de decisão, a lógica pode ficar de lado. Nessa hora, vale mais a crença na superação da equipe, na força da torcida e, por que não?, em uma certa ?justiça divina?.
?O Coritiba não vai cair porque a torcida não merece.
O time só tem chances ainda por causa da torcida, porque se dependesse da direção e dos jogadores, já estava na segunda divisão.? A opinião de Adriano Marchiori parece ser a grande motivação que a galera alviverde encontra para ir ao jogo de domingo.
Na tarde de ontem, não havia grandes filas ao redor do Couto, mas o movimento nas bilheterias era constante. Além do importante momento vivido pelo clube, a galera está aproveitando a promoção no preço dos ingressos.
A arquibancada está custando apenas um real e mais um quilo de alimento não perecível (de preferência arroz, feijão ou macarrão). Os mantimentos arrecadados serão entregues para a ONG ?De mãos unidas?, que atende 17 entidades de assistência social. Até a manhã de ontem, quase 10 mil bilhetes já haviam sido vendidos.
À tarde, a expectativa era de que até o fechamento das bilheterias o número se aproximasse dos 20 mil.
Entre todos os que compareceram para garantir seu ingresso, um sentimento era unânime: o de que depende da ?nação alviverde? a permanência do Cori na elite do futebol nacional. ?Com a torcida ajudando, vai dar. Vamos lotar o Couto. Estou apostando que vai dar 3 a 1 para o Coxa?, dizia o estudante Pedro Henrique Dallagassa Pires, já com seu bilhete na mão.
Porém, a situação do Coritiba não é nada fácil e, parando para pensar, o torcedor percebe que não adianta apenas o time se superar em busca da vitória. É preciso torcer para que outros, bem distantes do drama alviverde, também dêem uma força. E aí, acreditar em um final feliz para o Cori fica bem mais difícil. ?Eu acredito no Coxa. Mas não posso dizer o mesmo do Cruzeiro e do Brasiliense?, lamenta o eletricista Edson Fernando Marchena, lembrando que para seguir na primeira divisão a torcida tem que ser também contra o São Caetano e a Ponte Preta.
Mas se a esperança às vezes fraqueja, a galera coxa-branca garante que o amor pelo Coritiba não tem fim. ?Deus me livre, cair para a segunda divisão. Mas eu sou alucinada pelo meu Verdão?, diz Gleice Canute dos Santos. ?Se for preciso, estaremos juntos na Segundona.?
Coxa tem palavras-chaves para a fuga
Cristian Toledo
?Acreditar, fazer, ousar?. O técnico Márcio Araújo já passou para os jogadores as três palavras que resumem seu pensamento para o jogo contra o Internacional, domingo, no Couto Pereira – a definição da vida alviverde, se na primeira ou na segunda divisão. Para ter a condição de ousar, ele precisa mentalizar o elenco que é possível acreditar e fazer, mesmo enfrentando o vice-líder do Campeonato Brasileiro, equipe que ainda luta pelo título.
Para ?acreditar?, é necessário primeiro esquecer o que há em volta. ?Não podemos ficar pensando no que as outras equipes precisam fazer, e sim nas nossas possibilidades?, comenta o zagueiro Anderson. Isto quer dizer que o Cori tem que deixar São Caetano e Ponte Preta de lado. ?Os jogos vão acontecer no mesmo horário, nem dará para ficar pensando?, completa o treinador coxa.
Outro fator importante para que os jogadores ?acreditem? é lembrar do que aconteceu nas últimas rodadas. ?O Coritiba mudou completamente. Estamos mais confiantes, temos a consciência de onde podemos chegar?, diz Anderson. ?Nosso pensamento é vencer, e precisamos acreditar que isto é possível?, completa o capitão Reginaldo Nascimento.
O volante e zagueiro sabe que só acreditar que é possível tirar o Coritiba da degola não basta. ?Daí temos que fazer. Precisamos chegar em campo e fazer a nossa parte?, argumenta Nascimento. Ele deixa claro que a posição dos jogadores tem que ser a mesma do torcedor. ?A nossa torcida está fazendo tudo que pode, apoiando o time mesmo fora de casa. Cabe à gente responder positivamente a essa iniciativa deles?.
Com a parte ?mental? resolvida, Márcio Araújo poderia partir para a fase fundamental de seu plano para o jogo diante do Colorado. ?Eu posso ousar se eles tiverem confiança nas próprias qualidades. E o fato de eu ter um pensamento mais agressivo mostra para o atleta que eu acredito nele?, filosofa o técnico, que pensa em uma formação tática bastante ofensiva para encarar o vice-líder do Brasileiro. ?É o que precisamos. Temos que vencer, de qualquer maneira?, resume.
Por isso, mesmo os jogadores de defesa sabem que será necessária ousadia para tirar o Cori do sufoco – e isto significa mais trabalho para eles. ?Claro que precisamos de responsabilidade, mas teremos que atacar mais, teremos que atacar melhor. É o que nos resta, e nós vamos fazer o possível e o impossível para terminar o Brasileiro fora da zona de rebaixamento?, finaliza Reginaldo Nascimento.
Márcio, momento é pra acreditar
O Coritiba vive a contagem regressiva para o jogo mais importante dos últimos anos -dependendo do resultado, a equipe pode cair para a 2.ª Divisão. É uma semana de tensão e concentração para o elenco. E um período em que as palavras do treinador podem fazer a diferença. Márcio Araújo sabe o que precisa fazer nestes dias que antecedem o jogo contra o Inter. Em entrevista ao Paraná-Online, ele garante ter reanimado o grupo.
Paraná-Online – Como estão os jogadores depois do empate com o São Caetano?
Márcio – Já no vestiário eles estavam bem. É que você fica chateado ao ver que poderia ter vencido, que jogou bem e dominou o adversário, e tomou gol no fim. Num primeiro momento, há um grande abatimento. Logo em seguida, eles entendem que fizeram seu trabalho. Foram corajosos, assim como nossos torcedores. Isso faz com que você se recomponha para o decisivo da última rodada. E não tem que haver constrangimento, tem que haver confiança. As palavras da semana são ?acreditar?, ?fazer? e ?ousar?. Temos que ser guerreiros.
Paraná-Online – Por ser uma equipe experiente, faltou catimba no ABC?
Márcio – Foi mais virtude do São Caetano e, principalmente, do Claudecir. E se a gente pegar o jogo da Ponte Preta com o Corinthians, eles caíram várias vezes e não houve jeito. O Corinthians ganhou. O resultado vem quando você acredita, quando faz a diferença. O Coritiba estava se defendendo, não retrancado. É do jogo.
Paraná-Online – Vem se falando em facilidades para o Internacional no domingo…
Márcio – Acho que a imprensa gaúcha pode estar incentivando os jogadores. Não creio que a comissão técnica do Inter faça isto. Mesmo sabendo do momento deles e do nosso, eles sabem que o futebol é imprevisível. As coisas vão se resolver no campo. O Coritiba, mesmo nesta situação, está em um momento de equilíbrio emocional, bem consigo próprio. E temos condições de sair desta situação.
Paraná-Online – Você fala ao elenco sobre as contas para deixar a zona de rebaixamento?
Márcio – Se a gente puder torcer, não custa nada. Mas o que vem antes de tudo é o Coritiba. Temos que fazer a nossa parte. Agora, torcer um pouco para Cruzeiro e Brasiliense não faz mal.
Paraná-Online – A torcida vai lotar o estádio de novo, e ainda acredita na salvação.
Márcio – Isto é fantástico. O que o torcedor vem fazendo no Couto Pereira e fez em São Caetano é algo extraordinário. A torcida do Coritiba deu show no Anacleto Campanella. A torcida apoiou o tempo inteiro. Eles vêm dando um show de amadurecimento. E é este torcedor que a gente precisa, vibrante, emocional e ao mesmo tempo inteligente. E os jogadores têm correspondido. Nas nossas conversas, eu digo para eles perceberem o que a torcida está fazendo. E que eles precisam retribuir com, no mínimo, grande esforço. Garra, um time guerreiro.
Paraná-Online – Os jogadores do Coritiba querem manter o time vivo?
Márcio – Querem. Nós poderíamos ter saído desta situação domingo.
E poderíamos ter caído, caso perdêssemos. E era um resultado que poderia ter acontecido, porque o São Caetano estava jogando em casa e tem uma boa equipe. Mas isso não aconteceu. É uma brecha grande. E nós não podemos deixar de iluminar esta brecha, que pode significar a possibilidade de dar um prêmio a estes jogadores, é a chance de mudar este quadro. No momento em que o Náutico teve um pênalti e o Grêmio teve quatro expulsos, a chance do Náutico era de 99%. E o Grêmio venceu. Na vida da gente, tem situações que você percebe que tem condições de suportar, de sair. E isto não é um castigo, é um presente. Imagine ganhar do Inter e salvar o Coritiba. Quem é que agüenta esta emoção? É só com ambulâncias e remédio debaixo da língua.