Mulheres e homens realizaram na noite desta terça-feira manifestação contra a possível contratação do ex-goleiro Bruno Fernandes, de 35 anos, pelo Operário-MT, confirmada na última segunda. Bruno foi condenado na Justiça mineira a mais de 20 anos pelo sequestro, assassinato e ocultação de cadáver da ex-namorada e modelo Eliza Samúdio.
O ato ocorreu na entrada do Estádio Municipal Dito Souza, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, antes e durante a realização do jogo do Operário contra o Poconé no Campeonato Mato-Grossense de 2020. Ao som de tambores e com cartazes, os manifestantes gritavam “quem contrata um feminicida apoia o feminicídio”. Enquanto isso, um carro de som dava suporte para os manifestantes e circulava lentamente ao redor do estádio.
A procuradora do Estado e presidente do Conselho Estadual da Mulher, Glaucia Amaral, disse que o ato não era contra a ressocialização de Bruno, mas “contra o retorno dele à condição de ídolo”. Segundo Glaucia, as manifestações contra a contratação do goleiro não acabam com o ato em frente do estádio em Várzea Grande. “Faremos outras intervenções”, antecipou. O conselho pediu reunião com os dirigentes do clube, mas ainda não obteve resposta.
Já o vice-presidente da torcida organizada da Força Jovem do Operário, Lonerado Castro, afirmou que não iriam se manifestar sobre a contratação de Bruno, mas “apoiar o time, independentemente de quem vista a camisa do clube”. Segundo ele, a “história do clube é linda e não será prejudicada pois o Operário é maior que o jogador”.
Campanha nas redes sociais contra a contratação de Bruno já começou a apresentar seus primeiros efeitos com patrocinadores do Campeonato Mato-Grossense. Dois deles, a cooperativa de crédito Sicredi e a Eletromóveis Martinello, desautorizaram o uso de suas marcas nos uniforme do clube.
A Sicredi, apesar de informar em nota que não comenta as contratações de jogadores feitas pelos clubes, justificou que a “exposição da marca nas camisetas do clube Operário não ocorre em função da nossa estratégia de marca”.
Também em nota, a Martinello esclareceu que não é seu papel ou direito intervir nas decisões administrativas das equipes participantes do campeonato, mas que não permitirá, “ainda que por força de medidas judiciais, que a equipe operário Futebol Clube seja vinculada à nossa empresa utilizando uniformes que contenham a nossa marca ou que conceda entrevistas em frente ao painel com a nossa marca, enquanto mantiver a decisão de integrar ao seu quadro o ex-atleta em questão”.
O Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso repudiou, em nota, a contratação do goleiro. Segundo o comunicado, “trata-se de alguém que demonstrou profundo ódio e total desrespeito às mulheres ao tratar dessa forma cruel e bárbara aquela que seria a mãe do seu filho”.
O Núcleo Feminino da Força Jovem Operário também se manifestou. Em nota, disse que “aceitar a contratação dele de forma tranquila é naturalizar e ser conivente com as opressões que lutamos. No Brasil, uma mulher é morta a cada duas horas vítima de violência”.