O futebol dos nossos dias, o futebol moderno, nos deixou mais frios, mais
céticos e normalmente mais chatos. Exigimos timaços, mas temos
administrações horríveis, em campeonatos fracos. Os cantos da torcida são
literalmente gritos de guerra que falam em briga, desrespeitam a polícia e
falam até sodomizar sexualmente o torcedor rival, além de sugerir que
comamos “a carne do diabo”. Vivemos uma época em que a estupidez leva
torcedores a jogar bombas na torcida adversária.
Eis que no meio de todo esse ódio e rabugice um gesto simples transforma
vidas e nos põe a refletir. Durante o aquecimento dos goleiros no gramado
da Arena da Baixada no último domingo, contra o Figueirense, um grande
grupo de torcedores “pegaram no pé” de um senhor que estava no setor
Getúlio Vargas inferior. “Tira a camisa! Tira a camisa”.
Alceu do Rosário, 72 anos, morador de Paranaguá e sócio do Atlético há
cerca de dez anos, tropeçou na falta de atenção, mesmo alertado pela filha
Maristela. “Tinha um exame em Curitiba e ela que preparou minha mala. Pôs
uma camisa verde e ainda me alertou para não ir com ela no jogo. Mas não vi
ou não lembrei”, contou a Tribuna 98.
E “seo” Alceu foi com a bendita (porque seria maldita?) camisa. Ao perceber
a movimentação da torcida, ouvir os gritos e visualizar o já acuado
aposentado, o goleiro Weverton surpreendeu. Tomou uma atitude de homem
(diferente daquela tomada por alguns covardes que chegaram a ameaçar o
torcedor). “Vendo-me naquela situação complicada, com todos pedindo para eu
tirar a camisa veio ali, tirou a camisa dele e passou para mim. Foi uma
emoção fora de série, que eu nunca mais vou esquecer pelo resto da minha
vida”, disse.
A atitude ganhou o apoio da parte mais racional dessa história. “O pessoal
bateu palma, me elogiou e achou bacana a atitude do Weverton., E ainda
falaram que com aquela atitude ajudei o time a ganhar (risos)”, disse o
orgulhoso fã do goleiro atleticano. Aliás, só fã não. “Gostei da atitude
dele. Hoje não sou mais um fã. Sou um amigo do Weverton”, emocionou-se.
Ontem, o filho de Alceu, Alceu do Rosário Júnior, mandou uma mensagem de
agradecimento e uma foto do pai com o presente para Weverton. O goleiro
agradeceu e postou a foto no facebook. “A coisa gerou mais repercussão do
que eu sinceramente esperava. Era só para ser um agradecimento para ele,
mas foram várias postagens e tomou uma proporção que não esperávamos. Somos
muito gratos pelo que ele fez”, comentou o filho, também sócio do clube.
“Entendo a situação, o que os torcedores fazem. Eu não faria isso. É uma
questão de respeito. Somos atleticanos de coração. Não da para concordar. O
que vale é o sentimento que a pessoa tem não a roupa”.
Alceu do Rosário, o pai, gostaria de encontrar o goleiro. “Eu queria
conversar com ele e agradecer a ele pela atitude que ele tomou. Mas estou
ali na arquibancada e não dá jeito. Se fosse depois do jogo ou outra hora,
gostaria muito de agradecer pessoalmente”. A Tribuna 98 sugeriu esse
encontro ao Atlético e se colocou à disposição para registrar esse momento de
gentileza num mundo onde a falta dela é regra.
No Furacão desde 2012, Weverton teve seu vínculo com o Atlético ampliado
ontem em mais uma temporada, passando a vencer apenas em maio de 2017.
Tempo suficiente para que a legião de fãs do goleiro, como Alceu, aumente a
cada gentileza e defesa do camisa 12 do Furacão.