A tocha olímpica começa nesta terça-feira (1) a sua peregrinação por 21 países, depois de ter sido recebida nesta segunda (31) em Pequim em uma cerimônia marcada por um fortíssimo esquema de segurança. As autoridades chinesas temiam que o evento fosse ofuscado por manifestações pela independência do Tibete ou ataques à situação dos direitos humanos no país, como ocorreu há uma semana em Atenas, quando a tocha foi acesa na cidade de Olímpia.
A praça da Paz Celestial, onde ocorreu o evento desta segunda-feira (31), foi totalmente isolada do restante da cidade por cordões de policiais que mantiveram a população a cerca de um quilômetro de distância do local. Só convidados foram autorizados a entrar na praça, entre eles grupos de estudantes, trabalhadores, minorias étnicas e diplomatas estrangeiros. Cerca de 600 jornalistas credenciados também puderam acompanhar o evento.
A maioria dos convidados tinha nas mãos bandeiras da China ou da Olimpíada. Com exceção dos policiais, não havia ninguém ao redor da imensa praça. As pessoas que tentavam se aproximar do local eram barradas e orientadas por policiais a assistirem o evento em dois telões instalados na Wanfujing, a principal rua comercial de Pequim.
A preocupação com a segurança levou o governo a mudar na última hora a estrutura da cerimônia. A princípio, ela seria realizada à tarde e teria duração de três horas. No início da noite de sexta-feira (28), no entanto, os organizadores anunciaram que o evento havia sido transferido para a manhã e teria duração menor – ao todo, ele foi de uma hora e vinte minutos.
Além disso, não foram divulgadas informações sobre o trajeto que a chama olímpica iria percorrer do aeroporto de Pequim até a praça da Paz Celestial e os detalhes da cerimônia só foram revelados aos jornalistas pouco antes de seu início.
O evento começou às 10h30, com a apresentação de show de artistas chineses. Às 10h58, o presidente da China, Hu Jintao, e o vice-presidente, Xi Jinping, entraram na praça. E coube ao presidente a missão de "reacender" a tocha, a partir da chama olímpica trazida de Atenas.
Longe do público – As pessoas que se reuniram na Wanfujing na esperança de ver a tocha passar na rua principal da cidade se frustraram. Depois de acessa pelo presidente Hu Jintao, ela foi entregue ao atleta Liu Xiang, atual campeão olímpico dos 110 metros com barreiras e um verdadeiro herói para os chineses.
A expectativa dos que estavam fora da praça era a de que o atleta passaria correndo com a tocha na principal avenida da cidade, perpendicular à Wanfujing. Assim, depois que a cerimônia acabou na Paz Celestial, os que a assistiram pelos telões correram para a avenida.
Um cordão de policiais manteve a população a aproximadamente dois metros da cerca que separa a calçada da rua. Mas, ao invés de Liu Xiang, o que passou por lá foi um comboio de carros com vidros escuros, um dos quais carregava a tocha.
"Fiquei muito desapontado. Estou aqui desde as 8h30 e esperava ver a tocha sendo carregada por Liu Xiang e a única coisa que vi foram carros", disse He Jia, que vive na província de Hubei, no centro-sul da China.
Longo caminho – A tocha começa nesta terça-feira (1) a sua jornada global de 130 dias. A primeira parada será na cidade de Almaty, no Casaquistão. No total, ela percorrerá 137 mil quilômetros – dessa vez, o Brasil não está incluído no percurso – e voltará a Pequim em 6 de agosto, dois dias antes da abertura dos Jogos Olímpicos.
Depois da etapa internacional, a tocha percorrerá 113 cidades chinesas, em todas as províncias do país. A chama olímpica foi dividida em duas nesta segunda-feira (31) e acendeu uma outra tocha, que será enviada em maio ao Monte Everest, o mais alto pico do mundo.
Todo o trajeto da tocha olímpica será percorrido sob a sombra de possíveis manifestações contra o governo chinês. Pequim conseguiu manter o controle da situação nesta segunda-feira (31), mas estará totalmente impotente em relação ao que pode ocorrer em outros países, onde grupos de defesa de direitos humanos já preparam protestos contra a China durante a passagem da tocha.