Uma cena simples, mas representativa dos bastidores políticos da CBF, aconteceu momentos antes de Tite anunciar a lista de convocados para os amistosos diante de Rússia e Alemanha, nesta segunda-feira. A comissão técnica entrou no auditório da sede da entidade seguindo o coronel Antônio Carlos Nunes, presidente em exercício da entidade, e Rogério Caboclo, diretor executivo de gestão e futuro presidente – os dois, nessa ordem, puxaram a fila. Em comum à dupla, está o fato de terem chegado ao cargo mais importante da CBF graças a articulações do presidente afastado, Marco Polo Del Nero.
Ex-mandatário da Federação Paraense de Futebol, o coronel Nunes chegou à presidência graças a uma manobra eleitoral de 2015. Já Caboclo, executivo que de fato toca as contas da CBF, será aclamado presidente para o quadriênio que se iniciará em 2019 após Del Nero, mesmo afastado, conseguir enterrar a ínfima oposição que havia na CBF. Uma das únicas vozes dissonantes era a do presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Francisco Novelletto. E ele foi nomeado para chefiar a delegação para os dois amistosos deste mês.
As manobras políticas foram assunto na coletiva do técnico Tite, que evitou a todo custo gerar um mal-estar com os mandatários da CBF, sentados dois metros à sua frente. “Eu não gostaria de receber essa pergunta, porque acho que o momento não é propício”, disse Tite. “Se teve o compromisso e nos foi dado por toda a direção de desenvolver o trabalho na seleção brasileira, ele tem que ser com os elogios e críticas pertinentes a ele.”
Sempre ressaltando a questão ética no trabalho, o técnico demonstrou algum desconforto sobre o tema. “Claro que outros fatores (extracampo) podem ser abordados, mas em outro momento, de outra forma, com outras pessoas”, afirmou Tite.
Sobre Francisco Novelletto ser nomeado chefe de delegação, o treinador pontuou que a função “não é da nossa alçada”, referindo-se à comissão técnica. “Eu passei toda a lista de convocação antes ao nosso presidente, da mesma forma como a gente colocou, que seria assim nosso trabalho. Há um respeito, uma ordem de hierarquia, assim como de autonomia de trabalho.”
Por fim, Tite demonstrou que, se dependesse dele, o assunto não deveria ter sido abordado na coletiva que se seguiu à convocação. “Tem tanta coisa legal pra gente falar de seleção, de preparação importante… Não é fórum pra gente falar (sobre isso)”, declarou.