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Tite é o mesmo desde o Guarany de Garibaldi, dizem ex-companheiros de time gaúcho

Tite está à beira do gramado esperando a saída dos jogadores para cumprimentá-los, um a um, pelo desempenho na partida. O time venceu mais uma e cumpriu à risca suas instruções. A campanha é praticamente irrepreensível, o que dá confiança à equipe e à torcida. A história pode ser um resumo da seleção brasileira atual ou do pequeno Guarany, da cidade gaúcha de Garibaldi, onde ele começou a carreira de treinador no início da década de 1990.

O jeito de agir de Tite não mudou nada após 27 anos como técnico. É o que garantem jogadores e dirigentes que atuaram com ele no Guarany. “A palestra motivacional era muito forte, mexia muito com a gente. Ele entrava sempre pra vencer. Hoje vejo o Tite do lado de fora esperando e cumprimentando a todos. Era assim naquela época”, diz Rogério Loss, que atuava nos juniores e ganhava chances no time principal.

Tite tinha uma loja de artigos esportivos em Bento Gonçalves, cidade vizinha a Garibaldi, e havia decidido parar de jogar. Foi convencido por dirigentes do Guarany a voltar aos gramados em 1990, e naquele ano, assumiu a equipe como treinador. Teve resultados concretos já na temporada seguinte.

“Foram 21 jogos na Segundona gaúcha, com 17 vitórias, três empates e uma derrota. Infelizmente subia apenas um, e perdemos a classificação no último jogo”, recorda o atacante Edison Draghetti. “Acabamos subindo depois, e ele conquistou tudo e chegou à seleção.”

Os ex-comandados são unânimes sobre a capacidade de trabalho de Tite. As palestras ficaram marcadas. “O Tite dizia: ‘no vôlei, eles treinam a exaustão, pro levantador não errar nenhuma bola. Se errar, fica bravo. No basquete, o cara vai lá e arremessa dez, se errar uma, fica bravo. E o que se faz no futebol? O cara bate dez faltas, e quando acerta uma sobre a barreira ele vai embora’. Então ele cobrava muito, se tivesse que treinar quatro horas de manhã e quatro horas de tarde, a gente tinha de ir”, recorda o meia Paulo Cesar Santos, o PC.

Entre os dirigentes, o lado humano de Tite é o mais exaltado. “O clube pagava em dia, mas não tinha vale (antecipação). Mesmo assim, sempre depois dos jogos, o pessoal pedia”, conta Eldemor Pezzini, o Tinho. “O clube não antecipava, mas o Tite era muito bom e bancava. Depois eu não sei se ele cobrava.”

A história mais lembrada por outro dirigente, Jones Demari, é mais recente. No início da década, seu filho sofreu um grave acidente e ficou quatro anos em tratamento em Porto Alegre, a 110 quilômetros de Garibaldi.

“O Tite foi humano demais. Eu morei quatro anos em Porto Alegre por causa do acidente, e nos últimos dois eu não tinha onde ficar. Liguei pro Adenor Bachi (Tite) e ele me disse ‘me dá dois dias’. Me apresentou o apartamento, fiquei um ano e meio lá e não me cobrou nada”, relembra Demari.

O dirigente foi um dos responsáveis por levar Tite ao Guarany. Nunca mais perdeu contato. Em 2012, após comandar o Corinthians na conquista da Libertadores, o técnico deu a Demari uma camisa autografada pelo elenco. “Pode me oferecer R$ 30 mil, que eu não vendo.”

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