O banco que mantinha a conta de Ricardo Teixeira em Mônaco ordenou a uma de suas administradoras na época que retirasse qualquer menção ao futebol nos documentos envolvendo o brasileiro. A revelação foi feita por Celine Martinelli, uma das ex-administradores de contas do Banco Pasche. Segundo ela, qualquer referência às funções do ex-cartola na Fifa ou na CBF não poderia ser citadas, para ajudar a proteger Teixeira.
Em outubro, o Estado publicou com exclusividade a existência de uma conta com 22 milhões em nome de Teixeira em Mônaco. A suspeita é de que o dinheiro viria de um fundo do Catar, que fez o depósito semanas depois de um amistoso entre Brasil e Argentina, também em Doha. O jogo está entre os suspeitos de terem servido para justificar pagamentos de propinas a Teixeira, em troca do voto do brasileiro para que o país do golfo pudesse seriar a Copa de 2022.
No domingo, o site francês Mediapart apontou que a suspeita do FBI e da Justiça brasileira é de que o dinheiro era ainda repartido entre pelo menos três ex-dirigentes da Fifa: Nicolas Leoz, Mohamed Bin Hammam e Jack Warner.
Ao Estado, Martinelli contou que, um certo dia, chegou a sua mesa um pedido da direção do banco para que fosse autorizada uma garantia para que Teixeira comprasse um imóvel. “Era algo grande e que não via como teríamos estrutura”, disse.
O pedido de aprovação do crédito veio do diretor do banco, Jurge Schmid, pego em um áudio afirmando que sabia que “nenhum outro banco de Mônaco” aceitaria Teixeira como cliente.
Segundo a ex-gerente de contas, o pedido de crédito a Teixeira veio sem qualquer tipo de informação por parte da direção sobre quem seria o brasileiro. “Eu quis me informar sobre quem seria o beneficiário, de acordo com os padrões do banco e de acordo com o padrão que é conhecido como Conheça seu Cliente”, explicou.
“Procurei na Internet e coloquei em evidência suas funções no passado e no presente no mundo do futebol”, disse. “Entreguei isso tudo a Schmid e a seu assistente. Mas eles vieram até minha mesa quando leram para dizer que não poderíamos fazer referências a qualquer uma de suas atividades e relações com o mundo do futebol”, afirmou. “No banco, tínhamos que esconder que Teixeira tinha relação com o futebol”, explicou.
A interpretação é de que, ao fazer referências ao futebol, os documentos e transações de Teixeira poderiam chamar a atenção das autoridades. Naquele momento, em 2013, Teixeira já estava sob suspeita nos EUA e suas atividades no mundo do futebol o causaram problemas inclusive com procuradores na Suíça, que o acusaram de ter recebido propinas no caso da ISL.
“Eu me recusei a modificar meu trabalho”, garantiu a ex-gestora. Segundo ela, essa história ela também revelou à polícia francesa, quando prestou depoimento sobre o banco.
Em meados de 2013, ela e outros dois funcionários foram demitidos do banco por colocar questões sobre a instituição e dar sinais que queriam controlar contas, inclusive a de Teixeira. Ela hoje vive em outro país e teme que escutas tenham sido colocadas em seu telefone.