Como se não bastasse o fato de que caiu com o Cruzeiro na derrota por 2 a 1 para o Real Garcilaso, de virada, em Huancayo, no Peru, na noite da última quarta-feira, o volante Tinga ainda deixou o gramado revoltado com o fato de que foi alvo de racismo por parte de torcedores locais durante o confronto que marcou a estreia do time mineiro na Copa Libertadores de 2014.
Após substituir Dagoberto no decorrer do duelo, o jogador passou a ser hostilizado e ouviu a torcida emitir sons de macacos cada vez em que tocava na bola. “No começo achava que era uma simples vaia, até por a gente ser um pouco conhecido aqui por ter jogado algumas Libertadores. Depois que eu vi que era um insulto racista, fiquei um pouco chateado, mas eu permaneci focado na partida, queria ganhar. A gente fica bem chateado por acontecer uma coisa dessa”, lamentou Tinga.
O atleta ficou perplexo com a atitude dos torcedores, pois já é um veterano na Libertadores e garantiu nunca ter passado por esse tipo de situação na competição.
“Estava muito focado em conseguir a virada, dar uma resposta dentro de campo, por isso que eu estava brigando tanto, acabei me motivando com aquilo (com o racismo contra ele). Confesso que fiquei surpreso, já é minha oitava Libertadores, nunca tinha acontecido isso. Fico bem chateado”, repetiu.
Tinga foi além ao dizer que nem mesmo no futebol europeu sofreu com racismo, onde esse tipo de episódio é mais frequente contra jogadores negros, assim como desabafou ao dizer que trocaria todos os seus troféus pelo fim dos atos racistas no futebol. “Joguei alguns anos na Europa onde se fala muito disso e nunca aconteceu isso. De repente, em um país tão próximo, tão parecido com a gente pela mistura (de raças), acontece uma coisa dessa”, disse o atleta, para depois enfatizar: “Eu trocaria todos os meu títulos pelo fim do preconceito. Trocaria por um mundo com igualdade entre todas as raças e classes”.
Tinga já foi campeão da Libertadores por duas vezes, em 2006 e 2010, ambas com a camisa do Internacional, e o Cruzeiro promete cobrar uma punição da Conmebol ao Real Garcilaso após ver o jogador ser alvo de racismo. Alexandre Mattos, diretor de futebol cruzeirense, reclamou: “O que fizeram com o Tinga foi uma palhaçada, uma sacanagem. O que sentimos aqui é um retrocesso da humanidade. É pensar pequeno, em um lugar pequeno, que nem devia existir no futebol”.
OUTROS PROBLEMAS – Não será apenas por causa de Tinga que o Cruzeiro cobrará punições ao Real Garcilaso. O clube brasileiro entrará com uma representação na Conmebol também em razão de uma série de outros problemas que enfrentou no Peru.
“Nossa van foi revistada pela polícia, depois de novo aqui dentro (do estádio em Huancayo), uma indelicadeza muito grande. Este estádio não tem condição nenhuma, uma cidade sem hotel, sem água. É um perigo ali na lateral do campo, jogador cair naquela pista e machucar. Na hora que um arrebentar a cabeça eles vão tomar providências, mas vai ser tarde demais”, afirmou Alexandre Mattos, para depois seguir com sua indignação: “Esse campo não tem condição de jogo, não só pelo gramado. O que fizeram aqui hoje (quarta-feira) não tem palavras. Não tem água no vestiário. O Cruzeiro vai muito forte nesta Libertadores, porque hoje eles mexeram com um gigante e nós vamos atropelar agora”.
O técnico Marcelo Oliveira foi outro que se revoltou com o racismo contra Tinga e espera por punições contra o Real Garcilaso. “Esse (tipo de atitude racista) é o mais grave, tem de tomar providência, esse tipo de preconceito, tipo de coisa não pode acontecer mais. Todos devem tomar providência para que seja punido, que isso não sirva de exemplo para outras pessoas”, ressaltou.