Uma reunião realizada na noite da última terça-feira, em Extrema (MG), selou o pacto corintiano pela busca do título de campeão brasileiro. Durante 30 minutos, jogadores e membros da comissão técnica conversaram em um dos salões do hotel em que a delegação ficará concentrada até amanhã. Questões técnicas e táticas foram deixadas de lado.
Segundo o treinador Carlos Alberto Parreira e alguns líderes do grupo como Guilherme e Vampeta, foram discutidos basicamente os fatores que podem ajudar na recuperação emocional do time, após a derrota de domingo para o Santos por 2 a 0. “”Foi ótimo ter vindo para Extrema por isso. O grupo terá a chance de se fechar ainda mais. Basicamente, pedi para que o resultado do último final de semana fosse esquecido”, disse Parreira. “Logo após o primeiro jogo da decisão senti um clima desfavorável, de muito abatimento, mas agora já estamos melhores. Nossa tarefa é simples de ser definida e entendida: temos de vencer por dois gols de diferença”, prosseguiu o treinador.
Mesmo não contando com a simpatia de boa parte do elenco, Guilherme pediu a palavra durante a reunião. Ele não entrou em detalhes sobre o que falou, mas disse ter lembrado a enorme expectativa que a partida acaba gerando entre os torcedores e a responsabilidade que pesa sobre os ombros de cada um. “A confiança que a torcida está nos passando será fundamental. Os jogadores colocaram na cabeça que a chance de virar é real, está em nosso alcance”, disse o artilheiro.
O volante Vampeta admitiu ter pedido maior “comprometimento” dos companheiros. “Isso certamente faltou no primeiro jogo. Mas tenho certeza de que o comportamento apático não vai se repetir. Fico imaginando a festa que vai acontecer se o Corinthians ganhar o campeonato. Será um título sofrido, do jeito que a torcida gosta”. Vampeta alertou, no entanto, para os riscos de a equipe sair para buscar o gol e abrir espaços na defesa. “Não podemos fazer como os índios, que partem para o ataque de qualquer maneira. Mas, se bobear, teremos 5, 6 ou até 7 jogadores na frente”, disse ele.
Pressão na marcação
Parreira garantiu que o Corinthians vai marcar a saída de bola do Santos, uma característica da equipe, que no primeiro semestre conquistou os títulos da Copa do Brasil e do Torneio Rio-São Paulo. Ontem, ele interrompeu seguidamente o treinamento para pedir mais empenho na marcação. O treinador se mostrou surpreso ao ser perguntado sobre possíveis alterações na equipe para a decisão. “A mudança na equipe será apenas de atitude. Teremos que arriscar, tomar a iniciativa. De resto, não há o que fazer.”
Parreira ainda demostrou irritação com algumas matérias divulgadas. “O Santos não é a pedra no sapato do Corinthians, conforme a imprensa vem falando nos últimos dias. E mistério é uma palavra que não existe no meu vocabulário. Vocês (jornalistas) têm olhos e podem ver que não estou escondendo nada. Caso tivesse essa intenção, era só mandar fechar o treino. Tenho esse direito”.
Uma pedra sobre as polêmicas
Os jogadores do Corinthians querem deixar as polêmicas de lado e pensar exclusivamente no jogo de domingo contra o Santos, que vai definir o vencedor do Campeonato Brasileiro. Ontem, o técnico Carlos Alberto Parreira e os jogadores resolveram encerrar os comentários sobre o fato do meia santista Diego ter ofendido o lateral Kléber chamando-o de macaco em um jogo da primeira fase da competição.
Para o treinador, assuntos como esse não trazem qualquer benefício ao time, que neste momento precisa se concentrar em vencer o adversário por uma diferença de dois gols para conquistar o terceiro título da temporada. Por este motivo, os atletas foram orientados a não alimentar rivalidades extra campo. “O grupo não pode tirar o foco do que realmente interessa que é a partida contra o Santos”, diz Parreira.
O elenco atendeu prontamente aos apelos do treinador corintiano. O atacante Gil acha que, embora a atitude de Kléber de revelar o que estava acontecendo não estivesse errada, não há porque dar ênfase à discussão desse assunto nos próximos dias.
Fabinho, esperança da “Fiel’ no título brasileiro
A importância de Fabinho para o esquema tático do Corin-thians pode ser medida nas palavras de Carlos Alberto Parreira. O treinador, que não costuma analisar individualmente seus atletas, abriu uma exceção após o treinamento de ontem, em Extrema (MG), para dizer que o volante trará ao meio-campo corintiano muito mais consistência para o clássico de domingo, contra o Santos.
Fabinho, que não jogou na derrota por 2 a 0 para o Santos por estar suspenso, mas está confirmado para a decisão do campeonato brasileiro, apenas sorriu ao saber dos elogios do treinador. E preferiu voltar ao passado para explicar porque é considerado titular absoluto do Corinthians. “Não aprendi a marcar de uma hora para outra. Joguei em muitas posições no São Caetano, até na lateral, quando a equipe era dirigida pelo Jair Picerni. Mas não tenho como esquecer de citar que o grande responsável pelo meu crescimento profissional foi o Parreira”, afirmou. E completou: “Seu cuidado em relação ao aprimoramento dos fundamentos do futebol é muito grande. Sem contar que o considero como um pai. Tem um caráter incrível, trata a todos com igualdade”.
Na partida final, Fabinho terá uma função espinhosa. Evitar que Diego e Robinho tenham espaço para articular os ataques santistas. “São dois jogadores que não podem sequer dominar a bola. Ambos têm um raciocínio muito rápido, um comportamento imprevisível. Saem com desenvoltura tanto para o lado direito quanto para o esquerdo”, elogiou o corintiano.
Apesar de não ser uma das vozes principais do grupo, Fabinho assumiu em Extrema a postura de líder. Ao abordar a derrota para o Santos na primeira partida da decisão, salientou que a equipe tem obrigação de jogar melhor. “Nas últimas horas discutimos muito em cima dos nossos erros. Mas chegamos à conclusão de que o Corin-thians não chegou por acaso a três decisões na mesma temporada. Temos condições de reverter a desvantagem de dois gols.”
Ingressos? Só com cambistas
Já estão esgotados os ingressos para a finalíssima do Campeonato Brasileiro, domingo, no Morumbi. Pelo menos, nas bilheterias dos pontos-de-venda. Mais uma vez os cambistas foram rápidos e estão com grande parte da carga de 74.126 bilhetes liberados pela Federação Paulista de Futebol.
Ontem à tarde, os poucos ingressos que restavam nos guichês do Parque São Jorge eram para o setor laranja da arquibancada especial, localizado atrás do gol, ao preço de R$ 25. As filas já não existiam e o torcedor que ainda mostrava alguma disposição em correr atrás de um bilhete era recepcionado por funcionários do Corinthians, instruídos em avisar sobre os poucos ingressos que restavam.
Um desses funcionários, que preferiu não se identificado contou que “antes das 7h30 já havia fila. Houve torcedor que passou a noite aqui. O maior problema são os cambistas. Sempre temos que dar preferência para idosos, gestantes e mulheres com criança de colo, e esse pessoal aproveita.”
No Pacaembu, a situação era idêntica. Os poucos torcedores santistas que chegavam ao estádio eram recepcionados por bilheterias fechadas e avisos nas paredes: “ingressos esgotados”.