O meia Thiago Neves sofreu nova derrota ontem, na Justiça do Trabalho. Ele não conseguiu o fim de seu vínculo com o Paraná Clube, como pretendia, orientado pelo empresário Léo Rabello. Esta foi a decisão da juíza Ingrid Castellano Ayres, da 18.ª Vara de Curitiba. A partir da sentença, o jogador terá que depositar o valor integral da multa rescisória – R$ 3,9 milhões – para garantir a rescisão do seu contrato com o Tricolor, que vai até 31 de janeiro de 2009.
Considerando ilegítima a participação da Systema Assessoria Financeira Ltda. e da L.A. Sports Ltda., a juíza excluiu ambas do processo. A validade dos contratos firmados entre as empresas e o Paraná Clube teria que ser julgada na área cível. A oposição feita pelo Palmeiras, como parte interessada (por ter um contrato assinado com o jogador) também foi considerada extinta. A juíza Ingrid Ayres, assim, julgou procedente a ação declaratória de Thiago Neves, desde que o jogador cumpra as obrigações assumidas.
Para ficar livre do vínculo com o Tricolor e seguir no Fluminense, Thiago Neves terá que depositar a multa prevista em contrato ou entrar em acordo com o Paraná. Na sua sentença, a juíza desconsiderou o pedido de redução da pena rescisória solicitada pelo jogador, com base na Lei Pelé. Cabe recurso a essa decisão, mas uma ação neste sentido faria com que Thiago Neves ficasse impedido de jogar enquanto não se chegasse a uma solução.
?Particularmente, acredito que o acordo é o caminho mais viável, pois as competições começam dentro de um mês?, disse o vice jurídico do Paraná, Luís Carlos de Castro. O clube, até o início dessa ação ? interposta pelo próprio jogador – acreditava não ter direito financeiro algum sobre Thiago Neves. O fim do processo e o fato de o contrato firmado entre o ex-presidente José Carlos de Miranda e o empresário Léo Rabello ter sido colocado sob suspeita, deu novas perspectivas ao caso. O clube ainda não decidiu se seguirá para a Justiça Comum para anular os contratos com Rabello, relativos a Thiago Neves e Eltinho.
Conselheiros dão a palavra final
Os relatórios elaborados pela comissão de investigação só se tornarão públicos após a reunião desta noite – com início previsto para 19h, em segunda convocação – porém, há três vertentes distintas. Os conselheiros evitaram comentários mais incisivos, tentando manter o sigilo dos documentos. Mauri Roika, Benedito Barbosa e Ocimar Bolicenho elaboraram os relatórios que hoje serão analisados pelos conselheiros do clube.
Mesmo nesse período do ano, diante da importância do caso, acredita-se que pelo menos 150 conselheiros (de um total de 400) estejam presentes à assembléia. Eles irão se deparar com relatórios distintos e também pensamentos divergentes quanto à seqüência do processo. Alguns acham que Miranda deveria ser julgado -desde que os deslizes sejam comprovados – pela junta disciplinar do clube. Neste caso, estaria sujeito às penalidades de um sócio comum, ao cometer um delito no clube: ou seja, da simples advertência à expulsão.
Outros, com mais peso, até onde foi possível apurar, entendem que o fórum de debate é o próprio conselho, a partir desses relatórios. Este foi o objetivo, na visão de parte da comissão, da formação deste grupo de investigação. ?Se fosse para encaminhar à junta disciplinar, ela deveria ter avaliado o caso?, disse um dos conselheiros, que pediu para não ser identificado. Os relatórios seguem três linhas distintas. Uma delas, creditando os deslizes a toda a diretoria, mas tratando o caso de forma menos incisiva.
Outra linha, mais contundente, implica Miranda (e só ele) nos ?erros administrativos?. Este grupo contaria com cinco adesões. Já o outro relatório, que faria o ?meio-de-campo? entre essas duas vertentes, confirma irregularidades cometidas pelo presidente afastado e ainda sugere que outros diretores -cujos nomes surgiram ao longo do processo – também sejam alvo de investigação mais profunda.
Três relatórios da CPI do Miranda
Valquir Aureliano |
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Futuro do ex-presidente está nas mãos do conselho deliberativo. |
O escândalo envolvendo o presidente afastado José Carlos de Miranda tem hoje novo capítulo. O conselho deliberativo se reúne à noite para analisar o relatório final da comissão de investigação. Ou melhor, relatórios. O grupo formado por nove influentes conselheiros do Paraná Clube não chegou a um veredicto definitivo. Após quase um mês de interrogatórios e reuniões, três correntes se formaram e o presidente da comissão, Benedito Barbosa, decidiu apresentar as três conclusões para análise dos conselheiros.
O caso veio à tona no final de setembro, quando ao sofrer pressão de um grupo de conselheiros, José Carlos de Miranda afastou-se do comando do clube. Alegando problemas de saúde, ficaria a princípio longe do futebol. Na seqüência, comprovou-se que o então presidente fora destituído de suas funções. A ?queda? foi provocada por uma gravação – à qual poucos tiveram acesso – onde Miranda recebia propina do empresário Luiz Alberto Martins de Oliveira Filho relativa às transações de Xaves e Gérson para o Atlético Mineiro.
O silêncio de Miranda foi como uma admissão de culpa. O dirigente, no entanto, sempre frisou que jamais desviou dinheiro dos cofres do clube. Só que a partir daí, muitas transações passaram a ser alvo de investigações, em especial os negócios envolvendo o empresário Léo Rabello. Casos como os de Thiago Neves e Eltinho, que tiveram percentuais de seus direitos econômicos transferidos à Systema, empresa de Léo Rabello. Durante mais de um mês, a comissão de investigação ouviu empresários, Miranda e demais dirigentes do clube, tentando juntar as peças e formatar um relatório.
Esta comissão foi formada por Benedito Barbosa, Luiz Antônio Gusso, Ocimar Bolicenho, Mauri Roika, Édson Medeiros, Roosevelt Taborda, Carlos Augusto de Mello, Marcelo Denardi e Moacir Carlos Baggio. O presidente do grupo, Benedito Barbosa, revelou que o relatório elaborado por Roika teve apenas uma adesão. Diante disso, um novo documento foi preparado por ele, recebendo outros quatro votos. Há ainda uma terceira conclusão. ?Só não vou entrar em detalhes sobre o teor desses documentos, pois não quero criar um pré-julgamento para os nossos conselheiros?, justificou Barbosa.
Procurador federal, Benedito Barbosa não vê a possibilidade de o caso ?terminar em pizza?. Na sua avaliação, esse termo é um defeito cultural. ?No Brasil, quando não há punição, diz-se que terminou em pizza. Isso fere o princípio básico da defesa?, justificou. Barbosa também deixou claro que a missão da comissão foi cumprida: levantar fatos e verificar a consistência das denúncias. ?Agora, o desdobramento do que foi feito nas últimas semanas está nas mãos do nosso conselho?, explicou. Em posse das análises, os integrantes do deliberativo definirão o destino do processo e, conseqüentemente, de José Carlos de Miranda no clube.
