Em 6 de agosto de 1984, Joaquim Cruz ganhou a única medalha olímpica de ouro do atletismo brasileiro em provas de pista, nos 800 metros dos Jogos de Los Angeles, nos Estados Unidos. Passados 30 anos daquela conquista, o País volta a ter uma promessa no meio-fundo: o carioca Thiago do Rosario André, de 19 anos completados na última segunda-feira.
O esguio atleta, de 1,79m e 57 kg, disputou o Mundial Júnior de Eugene, nos Estados Unidos, no fim de julho. Saiu da competição com dois quartos lugares e impressionou pela capacidade de encarar os adversários africanos. Tanto que, segundo membros da delegação brasileira, ganhou a torcida dos norte-americanos, que lotaram o estádio da Universidade do Oregon, e até do locutor oficial da competição. Também foi cumprimentado por atletas e técnicos quenianos.
Eugene, cidade em que Joaquim Cruz treinava, é um divisor de águas na carreira de Thiago. Até antes do Mundial, tinha os 1.500 metros como prova principal. Mas o resultado nos 800 metros deve colocar a prova mais curta também em sua programação.
Apesar de ele estar no último ano de juvenil, o técnico do corredor, Adauto Domingues, não descarta a possibilidade de vê-lo competir nos Jogos do Rio, em 2016. “O Joaquim foi campeão olímpico com 21 anos”, lembrou. “O Thiago tem ambição. Ele sonha, é um cara vencedor, não gosta de perder. E essa é uma grande vantagem”.
A ambição ficou latente no Mundial. Thiago estava na terceira posição faltando menos de 100 metros para o fim da prova dos 1.500 metros, mas foi ultrapassado pelo atleta do Djibuti, que acabou com a prata. Perdeu a medalha e chorou copiosamente, no ombro do técnico. “Mas sou teimoso e falei para o professor que iria correr os 800 metros”, contou. “Eram três tiros (eliminatória, semifinal e final) e se não fosse para a final queria correr para bater o recorde pessoal”.
Thiago, chamado pelo técnico de “moleque brigão e atrevido”, conseguiu os dois objetivos na distância mais curta. “Foi um quarto lugar diferente. Nesse eu fiquei feliz, orgulhoso”.
Natural de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, Thiago começou a correr com 14 anos por influência de um amigo. No ano passado, deixou o Rio e transferiu-se para a equipe BM&F Bovespa-SP. Começou a trabalhar com Adauto, técnico de Marilson Gomes dos Santos, com o objetivo de passar das provas de rua para as de pista.
Os resultados de Thiago na temporada impressionam. Ele bateu o recorde sul-americano dos 1.500 metros duas vezes. Nos 800 metros, melhorou a sua marca pessoal na final do Mundial e repetiu a dose no Ibero-Americano – torneio adulto disputado no fim de semana, em que foi vice-campeão.
O técnico é otimista sobre o futuro, mas diz que tem o desafio de fazer o garoto correr, no adulto, marcas de relevância internacional. “Ele tem deficiências, mas é jovem. Os africanos dominam essas provas, mas tenho de me preocupar com ele, fazer com que o Thiago corra (no adulto) o que os caras estão correndo. Foi assim com o Joaquim: ele foi campeão olímpico porque correu 1min43. Se corresse 1min45, não seria”.
O principal compromisso de Thiago no que resta da temporada é o Troféu Brasil, em outubro. Adauto diz que não se surpreenderá se ele for campeão nacional adulto. O trabalho para melhorar as marcas continua, com o objetivo de ver o “atrevido” corredor classificado para o Mundial de 2015, em Pequim, na China.