Mais conhecida por ser a mãe dos tenistas Andy e Jamie Murray, a escocesa Judy Murray vem se tornando forte voz em busca da igualdade na modalidade. A ex-capitã da Grã-Bretanha na Fed Cup acredita que o tênis já tem boas conquistas no quesito, mas ainda precisa superar um domínio histórico dos homens no esporte.
“O tênis é um esporte mais favorável que os outros neste assunto porque há uma relativa igualdade em termos de premiação e visibilidade. Mas ainda há maior domínio masculino”, disse a ex-tenista em entrevista ao Estado. “O atual presidente da WTA (Associação de Tênis Feminino) é um homem. O mesmo acontece com a ATP, ITF e a Comissão dos Grand Slams. Os homens vão sempre pensar primeiro neles.”
Para Judy, já reconhecida pela família real britânica pelos serviços prestados ao tênis e à busca da igualdade, é necessário criar mais oportunidades para as mulheres na modalidade “para que elas possam se desenvolver no tênis, para haver melhor distribuição das atividades e maior equilíbrio entre homens e mulheres. Os esportes sempre foram dominados pelos homens ao longo da história.”
Para tanto, ela cobra uma maior atuação dos principais tenistas do circuito. “Precisamos que mais jogadores de nível Top usem suas vozes e suas carreiras para pedir maior igualdade e causar mudanças”, afirmou a mãe de Andy Murray, orgulhosa da atuação do filho a favor das mulheres. “Quando ele fala alguma coisa em defesa das mulheres, tem mais impacto do que quando uma mulher fala. Só por aí já dá para ver o desequilíbrio das coisas”, disse a escocesa.
Judy esteve no Brasil nesta semana para orientar técnicos e professores de tênis do País, a convite da Liga Tênis 10, circuito de eventos para crianças de 5 a 10 anos realizados no Rio. Por telefone, conversou com o Estado e, além de defender maior igualdade entre os sexos no esporte, comentou sobre o futuro de Andy, que pretende se aposentar após Wimbledon.
Ela acredita que ainda há chance de o bicampeão olímpico seguir competindo, após nova cirurgia no quadril, no fim do mês passado. “Tem o caso do Bob Bryan, que fez a mesma cirurgia em agosto e conseguiu voltar a jogar em janeiro, no Aberto da Austrália. Mas é claro que é diferente jogar duplas, não é tão exigente fisicamente. Vamos ter de esperar para ver o que acontece. Ninguém sabe o que vai acontecer”, comentou.
Judy garante, contudo, que o maior objetivo de Andy é se livrar totalmente das dores. “Ele ainda é jovem, tem toda a vida pela frente. Já tem algum tempo em que vive com dor e ele tem dois filhos pequenos, a esposa, uma família adorável. Para ele, a qualidade de vida após a aposentadoria no tênis é muito importante”, explicou.
Caso a nova operação não traga resultado, Judy revela as opções de Andy para o futuro. “Ele criou uma agência de marketing esportivo e atua como mentor de jovens tenistas. Poderá ser muito útil fora de quadra”, disse, antes de revelar os interesses econômicos do filho: “Ele também tem um hotel, na Escócia. Está interessado em comprar algumas propriedades. E quer ajudar pessoas que estão tentando abrir seus próprios negócios.”
ELOGIOS À BIA HADDAD – Questionada sobre os melhores da atualidade, Judy citou espontaneamente a número 1 do Brasil. Para aquela que treinou Andy e Jamie, que somam juntos nove títulos de Grand Slam, Beatriz Haddad Maia é “muito talentosa”. “Eu assisti a ela jogando no Aberto da Austrália. Fiquei muito impressionada. Ela tem muito potencial para fazer sucesso no circuito”, disse a escocesa.
Judy aponta a norte-americana Serena Williams e o sérvio Novak Djokovic como os melhores da atualidade. Mas admite que o suíço Roger Federer é o mais talentoso de sua geração, à frente inclusive do seu filho Andy Murray. “É o jeito como ele joga em quadra, seus movimentos… mas é difícil falar em melhor da história, porque não dá para comparar as diferentes gerações”, ressalta.
Se Federer, Djokovic, o espanhol Rafael Nadal e o próprio Andy dominaram as principais competições nos últimos anos, Judy acredita que a ausência de um Big 4 no tênis feminino pode ter sido positivo para o desenvolvimento da modalidade.
“Acho que no tênis feminino temos muitas atletas com potencial para vencer Grand Slam. Antes do Aberto da Austrália, tivemos oito diferentes campeãs nos Grand Slams. No masculino, o número é bem menor. Eu gosto da ideia de que nunca sabemos quem vai vencer um Grand Slam no feminino”, afirmou.