Temporada de grandes ondas faz brasileiros se mudarem para o Havaí

Em sua casa alugada em Waialua, no North Shore havaiano, Carlos Burle gosta de cozinhar para a família ouvindo música brega. A alguns quilômetros dali, Sylvio Mancusi e a esposa Bia não podem esquecer o horário de buscar o filho Benjamin na escola, pois cada minuto de atraso custa um dólar. Também por lá, Felipe Cesarano, o Gordo, vai ficar mais um Natal longe de casa. Em comum entre eles está a paixão pelo surfe e a decisão de se mudar todo ano para o Havaí, por alguns meses, para aproveitar a temporada de boas ondas.

Adriano de Souza, o Mineirinho, campeão mundial na última quinta-feira, cogitou a possibilidade de permanecer a temporada havaiana de inverno treinando no arquipélago por mais um mês, mas foi convencido de que era melhor voltar para o Brasil para curtir o bom momento com a família e, por isso, retorna ao País na terça-feira.

Burle é um surfista especializado em ondas grandes, um dos mais renomados do mundo. E é no Havaí que ele monta seu escritório entre novembro e março, onde surfa, participa de campanhas, dá palestras e conversa com seus patrocinadores. Mas ele também leva uma vida caseira, brincando com o filho Reno-Kai e ajudando a esposa Ligia.

Um dos principais motivos é a disputa do Eddie Aikau, um campeonato de ondas grandes que só ocorre em Waimea quando as ondas estão maiores que 13 metros de face. Ele é tão raro de acontecer que só houve oito edições nos últimos 30 anos.

Para se dedicar à profissão, mas não deixar de perder as boas temporadas de ondas, Burle mantém duas estruturas para se dedicar à vida de atleta, no Brasil e no Havaí. Isso implica equipamentos para fortalecer o preparo físico e dezenas de pranchas. Se tivesse de ficar transportando tudo de um país para outro, seria muito complicado. “A maior diferença é que no Brasil eu costumo ter mais compromissos profissionais”, explica o surfista.

Sylvio Mancusi, também especialista em ondas grandes, vai há 20 anos para o Havaí. Mesmo depois de começar a namorar sua esposa Bia Silveira Mancusi, há nove anos, a situação não mudou. “O amor que tenho pelo que faço fez com que eu preparasse a minha família para poder estar aqui comigo. O Havaí tem um peso muito grande nessa minha decisão de vida.”

Ele explica que o Havaí é a meca para surfistas de ondas grandes. Quem quer se manter em alta e trabalhar com isso tem de estar no arquipélago norte-americano. “Eu fiz faculdade de jornalismo e publicidade, e passei a fazer outras coisas além do surfe, pois é um dos melhores lugares do mundo para esportes relativos ao mar”, comenta.

Atualmente, ele tem um programa no Off, canal de TV à cabo especializado em esportes de ação, e usa o período que fica no Havaí como fundamental para seu trabalho. Tanto que incorporou a mulher na equipe, de uma maneira bem inusitada. “Uma amiga trabalhava comigo, mas não queria mais esse ritmo e me falou que eu tinha um mês para arrumar outra cinegrafista. Aí ela começou a ensinar a Bia a filmar. O difícil dessa história foi falar para meu sogro que ela não iria voltar ao Brasil e sairia do emprego, com um namorado de três meses”, revela, rindo.

Bia, formada em enfermagem, deixou de trabalhar em um hospital e passou a fazer a parceria com Sylvio. Agora, no Havaí, são inseparáveis. “Na primeira vez que vim para cá, me apaixonei. É diferente do Brasil, mas tento fazer o que faço lá. Procuro ter uma rotina, e a gente tem uma qualidade de vida muito melhor. Andamos bastante de bicicleta, vamos à praia quase todos os dias, nosso filho pode brincar na rua”, elogia.

Aos dois anos, Benjamin vai à escola perto de casa. Já está aprendendo inglês e convivendo com crianças americanas. “A gente estava preocupado, mas na escola ele está super entrosado, acho que até ele ama o Havaí. Quando resolvemos colocar ele na escola, a diretora me falou que vários surfistas colocam seus filhos lá, porque eles ficam no Havaí durante a temporada de ondas. Isso é muito comum”, comenta Bia.

LONGE DE CASA – Felipe Cesarano aprendeu a passar as festividades de final de ano sem a família. O surfista de 28 anos faz a mesma coisa desde os 18: aluga uma casa, recebe amigos e conhecidos, e monta sua base para praticar o esporte do final de novembro até o início de março. “No só eu, mas muita gente faz isso todo ano. Quem vive do surfe não tem como ficar no Brasil nessa época”, lembra.

No Brasil, ele tem um bar no Jardim Botânico, no Rio, e sabe que poderia ganhar até mais dinheiro se permanecesse em sua terra natal por mais tempo. Mas ele não vê a possibilidade de mudar sua rotina. “A vida aqui é mais calma, apesar de estar trabalhando. É um cotidiano simples e tranquilo. São três meses pegando onda.”

Usando o Havaí como base, ele, Burle e Mancusi e vários brasileiros partem para outros lugares se alguma grande ondulação surge nos radares, como na Califórnia ou no México. Cesarano já colocou a namorada no cotidiano e há três anos ela fica com ele no Havaí. “Não troco por nada a qualidade de vida que tenho aqui”, diz o surfista, um dos muitos brasileiros contaminado pelo “Espírito Aloha”.

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