Teliana Pereira, a número 1 do tênis brasileiro

Depois de viver a melhor temporada da carreira e virar número 1 do Brasil em 2007, Teliana Pereira projeta 2008 como o ano da afirmação. A tenista nascida em Alagoas, criada em Pernambuco e radicada desde os 7 anos de idade em Curitiba, sonha tornar-se uma das 100 melhores do mundo no ranking da WTA (Associação Mundial de Tênis, que organiza o esporte para as mulheres) até dezembro. Na lista divulgada neste mês, ela aparece em 205.º lugar.

A projeção, que parece modesta, seria um feito e tanto num país sem qualquer tradição no tênis feminino. Para se ter uma idéia, a última brasileira a figurar no top 100 foi a paulista Andréa Dadá Vieira, que chegou a n.º 76 do mundo no longínquo 1989. E façanha ainda maior para quem saiu do agreste pernambucano com a família, para tentar a vida em Curitiba, e encontrou no esporte um meio de projeção.

Antes de rumar para uma temporada de três meses disputando torneios na Europa, Teliana, 19 anos, contou à Tribuna seus planos para a temporada, criticou colegas que só reclamam da falta de apoio mas pouco agem e falou da meta de dividir as quadras com estrelas do quilate de Maria Sharapova, Ana Ivanovic, Justine Henin e as irmãs Willians em torneios do Grand Slam (os quatro principais do circuito mundial) até 2009. Teliana embarcou para a Europa, acompanhada do técnico Didier Rayon. Teliana participa do torneio em Latina, na Itália. Depois jogará em Patra, na Grécia, de olho em uma vaga em Roland Garros, na França.

Tribuna: Você pulou do n.º 604 no ranking, no final de 2006, para pouco acima do 200. Chegar ao top 100 é um caminho muito árduo?

Teliana: Acho totalmente alcançável. Claro que, numa posição alta do ranking, se você ganha dois torneios pequenos dá um salto bem grande. A partir do top 200 fica mais difícil. Mas vou dar duro e treinar muito para chegar lá. Tudo vai depender de meu desempenho nos torneios da WTA (mais concorridos que os chamados ?Challenger? que Teliana vem disputando).

Tribuna: As maiores tenistas do mundo chegaram ao topo e ganharam Grand Slams na sua idade (19 anos) ou até mais novas. Ainda pode chegar ao nível delas?

Teliana: Esse ano será fundamental para mim. Mas não dá para comparar o Brasil com a Rússia, por exemplo. Lá as meninas treinam desde os 5 anos de idade já pensando em ser profissionais. Mesmo assim penso em chegar ao top 50 em dois anos, e meu grande sonho é chegar um dia ao top 10. Sem sonhos você não se move.

Tribuna: A força ganhou importância no tênis feminino, e seu tipo físico é mais franzino. Pode fazer frente a tenistas como Davenport e as irmãs Williams?

Teliana: Acho que a força é mais importante no masculino. Claro que jogadoras como a Davenport nem precisam correr, com o saque poderoso que têm. Mas gosto mais do estilo da Justine (Henin, atual n.º 1 do mundo), que devolve bem, se mexe bem e varia bastante o jogo. É um espelho para mim.

Tribuna: Qual seu calendário para os próximos meses?

Teliana: Vou jogar torneios na Itália, na Espanha e talvez na França. Fico três meses na Europa e nesse tempo vou treinar e tentar passar no quali (qualifying, ou eliminatória) de algum torneio da WTA. Também pretendo disputar o quali de Roland Garros e do Aberto dos Estados Unidos.

Tribuna: O bronze nas duplas do Pan aumentou a vontade de disputar as Olimpíadas?

Teliana: É muito gratificante disputar uma competição por seu país. Seria maravilhoso jogar as Olimpíadas, mas ainda não sei qual será o critério. Prefiro deixar como um sonho e não contar muito com isso.

Tribuna: Por que o tênis brasileiro continua atrasado, mesmo depois da Gugamania?

Teliana: No masculino alguns estão aparecendo, como o Marcos Daniel e o (Thomaz) Bellucci. O feminino está mais parado, até nos torneios juvenis tem poucas jogadoras. No Brasil existe pouco apoio e o patrocínio é raro, não aparecemos no jornal, de cada hora de programação tem 55 minutos de futebol e 5 de outros esportes. Mas também falta as tenistas darem mais duro. Se você fizer sua parte, uma hora alguém vai te ajudar. Tem que primeiro tentar mostrar pra depois querer aparecer.

Tribuna: Você veio de uma infância difícil, começou como catadora de bolinhas e hoje habita o glamouroso mundo do tênis profissional. Já se considera uma vencedora na vida?

Teliana: Tenho certeza que sim. Se não tivesse vindo para cá, estaria trabalhando na roça em Pernambuco, casada e com dois ou três filhos (risos). Hoje conheço o mundo, falo três línguas e posso comprar minhas coisas. Sempre que perco uma partida penso nisso e ganho força para subir ainda mais. Ainda quero virar uma grande jogadora e poder ajudar toda minha família.

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