Ricardo Teixeira teria fraudado a CBF e se “apropriado” de dinheiro da seleção brasileira. A constatação é da Audiência Nacional na Espanha que, em uma decisão emitida nesta quinta-feira, aponta uma vez mais para o suposto esquema montado pelo ex-presidente da CBF para lucrar com os amistosos do Brasil.
A decisão se refere a um pedido do aliado de Teixeira, Sandro Rosell, de aguardar seu julgamento em liberdade. Ele foi preso em meados do ano, justamente por ser acusado de fazer parte deste esquema de desvio de recursos. O apelo dos advogados de Rosell, porém, foi negado e o homem forte do futebol espanhol passará as festas de fim de ano na prisão.
O documento, porém, detalha sua avaliação sobre o papel de Teixeira no esquema milionário e aponta que o ex-cartola brasileiro recebeu recursos que não repassou de volta para a entidade máxima do futebol nacional.
O esquema criado em 2006 – e revelado com exclusividade pelo Estado em 2013 – consistia em contratos falsos que justificavam o pagamento de comissões a uma empresa, a Uptrend, de propriedade de Rosell. Para cada jogo da seleção brasileira, a companhia que obteve os direitos sobre os jogos, a ISE, teria de repassar um porcentual para a Uptrend. No total, o desvio teria chegado a 14 milhões de euros.
A Uptrend, segundo a Justiça espanhola, teria sido criada para “camuflar pagamentos a Teixeira”. Uma parte do dinheiro também iria para Rosell.
Na prática, a empresa que comprou os direitos pagou pela seleção um valor 14 milhões de euros (cerca de R$ 53 milhões) superior ao que a CBF de fato recebeu por ceder à ISE os direitos sobre o time brasileiro. “A CBF vendeu algo que o comprador comprou por muito mais dinheiro que ela recebeu e essa diferença foi apropriado por outros”, indica o documento da Justiça.
Madri decidiu cooperar com o Brasil e, em outubro, decidiu enviar o processo relativo a Teixeira ao Ministério Público Federal, em Brasília. O objetivo é de que o cartola seja investigado e eventualmente processado no Brasil.
No documento emitido nesta quinta-feira, a Justiça espanhola deixa claro que espera que a cooperação com o Brasil resulte em uma transmissão de informações de Brasília para Madri, principalmente sobre as relações financeiras entre Rosell e Teixeira.
De acordo com o documento, não há provas por enquanto de que dinheiro recebido pela Uptrend, de cerca de 14 milhões de euros, teriam sido legais.
Os espanhóis deixam claro também que a investigação sobre Teixeira e Rosell ocorreu em parte graças a informações oferecidas pelo FBI, nos EUA. Para a Audiência Nacional, a única possibilidade de que o catalão possa acompanhar o processo em liberdade seria uma eventual garantia financeira milionária, depositada nas contas do estado.
Procurada, a defesa de Teixeira por enquanto não se pronunciou sobre as acusações que constam dos documentos da Justiça espanhola.
SUPREMO – Em uma outra decisão, de 6 de dezembro, o Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, declarou que a assistência prestada no Brasil ao processo de investigação nos EUA contra os ex-dirigentes da CBF foi correta.
Em 2015, a Polícia Federal realizou uma operação em diversos escritórios, como parte de uma cooperação com o FBI. A meta era a de colher informações que poderiam alimentar o processo nos EUA. Mas um recurso apresentado barrou a manutenção da cooperação.
Agora, com o caso já sendo julgado em um tribunal de Nova York, o STJ concluiu que a operação brasileira ocorreu dentro da lei.