Não há dinheiro que pague a concretização de um sonho. O meia Tcheco recusou ontem nova proposta do exterior, preferindo permanecer no Coritiba e lutando por uma vaga na seleção brasileira.
A diretoria alviverde também agiu rápido, e promete para as próximas semanas concretizar a compra de 50% dos direitos federativos do jogador.
A tarde de ontem foi mais agitada que o normal para um dia de folga. O procurador do meia Ruy Gel recebeu no final da manhã uma proposta oficial do Al-Ittihad, que oferecia um milhão de dólares pelo passe de Tcheco, que é dividido entre o jogador e o Malutrom. Além da compra, o time da Arábia Saudita também ofereceu um contrato de três anos no valor de 800 mil dólares. “Era uma proposta muito forte”, reconhece o jogador coxa.
Até a metade da tarde, Tcheco estava fora do Coritiba. Foi nesse momento que a direção alviverde começou a conversar com Ruy Gel, com o próprio Tcheco e entre si, tentando achar um jeito de fazê-lo ficar no Alto da Glória. “Disse a ele que nos desse tempo e confiança para viabilizarmos algo semelhante dentro do clube”, conta o secretário Domingos Moro. “O Tcheco queria uma garantia de uma compra de parte do passe dele”, revela Gel.
E o Coritiba conseguiu esse voto de confiança do seu principal destaque.
“Sei que o clube está esperando um posicionamento sobre a negociação do Liédson (o Cori tem direito a 30% da venda do atacante para o Sporting) e também tenho que lembrar que foi aqui que eu tive a grande oportunidade no futebol”, afirma Tcheco. “O interesse do atleta em permanecer falou mais alto”, comemora Domingos Moro.
Além disso, Tcheco pensa alto, e sonha com uma vaga na seleção brasileira. O nome dele é um dos cotados para a lista que será completada por Carlos Alberto Parreira às 14h30, no Rio. “Fico empolgado só de ter sido citado, mas acho que tem outros jogadores em momento melhor que o meu. Um deles é o Renato”, comenta o meia, que entretanto confia em uma possível convocação. “Acho que pode acontecer nas próximas partidas. Quem sabe não sou chamado para o jogo aqui em Curitiba?”, afirma, pensando na partida do dia 19 de novembro, contra o Uruguai.
Seria o passo decisivo de um projeto bem calculado. “Estou pensando no meu futuro”, confessa Tcheco. “Não adianta eu aceitar uma proposta da Arábia, ganhar um bom dinheiro e sumir de vez do futebol brasileiro”, completa o meia.
Marcel também está na mira dos clubes do exterior
Enquanto segurava Tcheco no Brasil, a diretoria do Coritiba lidava com outro problema. As propostas do exterior para levar Marcel devem aparecer esta semana, mas ninguém no clube aceita se desfazer do atacante. E outro homem de frente pode ser a ?salvação da lavoura?: se Liédson finalmente for vendido, o dinheiro que entrar para o Coxa será revertido para o departamento de futebol.
O Coritiba ainda não recebeu nenhuma comunicação oficial do Prudentópolis sobre a venda do atacante. “Só ouvimos falar através da imprensa paulista”, comenta o secretário Domingos Moro. Ontem, o presidente Giovani Gionédis tinha agendada conversa com o empresário Hugo Westphalen (?mecenas? do Prude) para buscar informações mais precisas.
Fechada a venda de Liéddson para o Sporting, no mínimo R$ 2,7 milhões seriam repassados para o Coritiba. “Nós vamos saber de qualquer forma, porque a liberação do atleta passa pelo clube, e nós ficaremos sabendo”, conforta-se Domingos Moro. “Estamos esperando uma definição desse negócio. Se recebermos esse dinheiro, não haverá mais problema na temporada”, garante o dirigente.
Enquanto não sabe se o dinheiro vem (e quando viria), o Cori recebe sondagens por Marcel. “Nós estamos estudando algunas situações”, confessa Domingos Moro. Segundo o procurador Ruy Gel, três times turcos já manifestaram interesse no artilheiro coxa – e do futebol paranaense – na temporada. “Estou esperando uma liberação da diretoria do Coritiba para iniciar conversas”, conta Gel. Desses times, dois são os conhecidos Fenerbahce e Galatasaray, que estariam dispostos a pagar um milhão de dólares por Marcel.
Mas mesmo que o valor seja interessante em um momento de dificuldades financeiras, o Coritiba não quer se desfazer de ninguém. “Estamos fazendo o impossível para manter todos os jogadores. Dos 24 clubes do brasileiro, apenas o Coritiba não perdeu nenhum atleta, e queremos continuar assim”, avisa o secretário coxa.
Passa a ser uma questão de honra, já que o planejamento alviverde foi seguido até agora, mesmo que à duras penas. “Nós realizamos um trabalho com muita segurança nessa temporada, e estamos recebendo os dividendos com a nossa campanha no brasileiro. Não podemos largar tudo por nesse momento”, finaliza Moro.
Largada estragou, mas ainda dá para compensar
A vitória sobre o Figueirense provou que o Coritiba vive mais uma boa fase no campeonato brasileiro. E, na somatória de bons momentos, a campanha alviverde impressiona, se não forem contados os primeiros quatro jogos, quando o Coxa teve um empate e três derrotas. Nas 24 rodadas restantes, é difícil encontrar rendimento igual ao alviverde, que já não luta mais pela vaga para a Libertadores, mas sim pelo título nacional.
Da derrota para o Cruzeiro em diante, o Coritiba venceu quatorze jogos, empatou seis e perdeu apenas quatro, conquistando 48 pontos em 72 possíveis. O aproveitamento de 66,67% é superior ao do Santos, hoje líder do Brasileiro, tem em toda a competição (65,48%), mas inferior ao que o time paulista obteve no mesmo período – 50 pontos em 72 possíveis, com rendimento de 69,44%.
Os rivais diretos pelo título e pelas vagas na Libertadores ficam atrás do Cori nessa conta. O São Paulo conseguiu 46 pontos nos últimos 24 jogos, o Cruzeiro 43 e o Internacional 35 (ou 37, se contarmos os dois obtidos no STJD). No segundo turno, o Coxa é o segundo colocado ao lado de Atlético, Vitória, Santos e São Caetano, com 10 pontos – a melhor campanha é do Goiás, com 13.
Fora de casa, o rendimento alviverde segue entre as melhores. Com o triunfo em Florianópolis, o Cori chegou à sexta vitória longe de Curitiba, mesmo número dos três primeiros do Brasileiro. Mas Santos e Cruzeiro ficam para trás na soma geral de pontos: o Coxa já marcou 22, ficando atrás apenas do São Paulo, que marcou 24.
E como é quase certo que a CBF confirme que a quinta vaga do país para a Libertadores seja dada ao quarto colocado do campeonato brasileiro (ou quinto, se o Cruzeiro ficar entre os primeiros), aumentaram sensivelmente as chances do Coritiba disputar pela segunda vez o maior torneio interclubes da América. Segundo o matemático gaúcho Tristão Garcia, o Cori tem 58% de possibilidades de representar o país na Libertadores de 2004.