Tcheco dá adeus ao Coritiba chorando

O final foi adiado, mas o desfecho foi o mesmo. Três dias depois de aceitar a proposta do Al-Ittihad, da Arábia Saudita, Tcheco disse adeus ao Coritiba de forma oficial ontem à tarde, após uma emocionada entrevista coletiva no Estádio Couto Pereira, local em que passou treze meses, os mais importantes de sua vida.

Agora, como o 56.º jogador que deixa o futebol brasileiro nos últimos sessenta dias, Anderson Simas Luciano parte para a mais arriscada aposta de sua carreira. E ele, apesar da tristeza, parece ter consciência disso. O Coritiba, por sua vez, ainda acredita em uma reviravolta, baseada em sua parceria com o empresário Juan Figger.

A diretoria alviverde liberou Figger para negociar o jogador mesmo com o fato pretensamente consumado. “Tenho certeza que este não foi o último ato do Tcheco no Coritiba”, garantiu o secretário Domingos Moro. Uma das idéias ventiladas no Alto da Glória é, através da relação do empresário com o São Paulo, acertar uma possível negociação do jogador com o time paulista. Nesse negócio, o Coxa (via Figger) compraria 15% dos direitos federativos do jogador. “Meu santo protetor é São Paulo. Vou rezar para ele todo dia”, disse Moro, meio na brincadeira, meio na verdade.

Mas a proposta da Arábia é “irrecusável”, nas palavras do próprio jogador. É bom lembrar: Tcheco recebe, na mão, 500 mil dólares (R$ 1,484 milhão) pela metade de seus direitos federativos – mesmo valor que o Malutrom receberá -, além de 800 mil dólares (R$ 2,375 milhões) por um contrato de dois anos, o que representa um salário mensal de aproximadamente 100 mil reais. Apenas em transferência e salários, o meio-campista receberá – se ficar na Arábia -, na cotação de ontem, R$ 3,859 milhões. Além disso, há a promessa de prêmios inenarráveis, carros e viagens à disposição, e tudo aquilo que os petrodólares podem comprar.

Mas é isso, por enquanto. Não se sabe se tudo que foi prometido pelo time de Jedá será cumprido, e as impressões dadas por Maurílio, que jogou nessa equipe nos primeiros meses de 2003, não foram as melhores. Por isso, Tcheco segue hoje para a Arábia, ao lado do procurador Ruy Gel, do presidente do Malutrom Juarez Malucelli e de um advogado do clube de São José dos Pinhais. “Tenho que ver se eu vou gostar do local, se o que foi falado será cumprido. Por isso eu nem vou rescindir meu contrato com o Coritiba”, contou.

Se ele gostar, o Coxa não fará novas objeções. Até mesmo a possibilidade de embargar o negócio utilizando a RDI 03/02, que limita a data de transferências para o exterior, foi rechaçada por Moro. “Só tenho a agradecer ao Coritiba, que me deu a chance de aparecer para o futebol brasileiro, e peço desculpas por ter que ir embora”, finalizou Tcheco, com lágrimas nos olhos.

O desalento da triste despedida

Para Tcheco, havia um quê de estranho naquela coletiva. Foi daquela forma, em julho do ano passado, que ele foi apresentado como reforço do Coritiba. Tanto naquele momento quanto ontem havia no rosto do atleta um sentimento difuso: o passado corria como um filme sobre sua mente, enquanto o futuro acenava com a realização de sonhos e objetivos pessoais e familiares.

Ele mesmo pediu à assessoria de imprensa do Cori a organização da entrevista. “Queria falar algumas coisas e me despedir de muita gente que eu não vou poder encontrar”, começou Tcheco. Diferente da pessoa que sempre foi, o meio-campista aparentava tristeza, desconsolo e constrangimento. “Tomar uma decisão como essa judia a pessoa”, confessou.

O armador pediu desculpas à torcida (“… por deixar o Cori no meio do campeonato”), ao técnico Paulo Bonamigo (“dei minha garantia que iria ficar”), aos companheiros e à diretoria. E reconhecia que não estava se sentindo bem com o desfecho do caso. “De domingo até hoje (ontem) eu não consegui dormir dez horas ao todo. Não consigo me despedir das pessoas, ouço muitos pedidos para que eu fique”, contou.

Era o ato final de uma sofrida seqüência de decisões. “Olha, foram os piores dias da minha vida”, revelou. Na sua mente ainda passavam as conversas com a diretoria alviverde, os apelos que vinham de toda parte. “O que o Coritiba fez por mim, tentando me negociar com um clube daqui para que eu jogasse o final do Brasileiro, eu não vou esquecer nunca”, disse. Mas os pequenos gestos fizeram o jogador ir às lágrimas. Tcheco contou que estava no Coritiba também para agradar seu pai, “seu Zezé”, que também pediu para que ele permanecesse no Alto da Glória.

Elenco volta e aproveita parada para avaliação

O Coritiba reinicia hoje seus treinamentos valorizando ao máximo o verbo ?reiniciar?. Ao estilo da pré-temporada, os dois primeiros dias de trabalho na parada do brasileiro serão reservados para os testes físicos, supervisionados pelo fisiologista Alfredo Borba e pelo preparador Róbson Gomes. Mesmo com mais da metade da competição passada, o Coxa toma esse momento como ideal para realizar um balanço do momento do clube.

Para Róbson Gomes, é a hora de ver como estão os jogadores. “Nós teremos o real estado atlético de cada um, e isso será importante nessa reta final de temporada”, comenta. A preocupação do fisicultor é saber se o planejamento feito no início do ano surtiu efeito. “Nós programamos um pré-ápice de rendimento para a fase final do campeonato paranaense, e outro para a virada do turno. Agora precisamos ver como os atletas reagiram.”

Ainda mais porque parte do elenco jogou quase a totalidade das partidas do Cori na temporada. “Alguns jogadores atuaram em 90% dos jogos do ano, e é natural que eles sofram um desgaste maior do que outros”, explica Róbson Gomes. Um possível desnível não seria tão surpreendente, portanto. “Nosso interesse agora é recuperar esses atletas, fazendo com que eles estejam prontos para atingir o pico de preparação”, afirma o fisicultor.

Principalmente porque está chegando a hora da verdade. Em um campeonato com 46 rodadas, já se passaram 29, e o Coritiba mantém-se entre os melhores. “Nós temos consciência de que o momento é importantíssimo, e esperamos fazer com que todos estejam no ponto ideal nas últimas rodadas do Brasileiro”, confirma Róbson Gomes.

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