Taxas consomem quase 70% da renda dos jogos

O futebol no Brasil vem se mostrando um negócio de custo bastante elevado. Para chegar a esta conclusão, basta ver o quanto sobra de uma renda bruta de R$ 151.155,00, como a registrada no confronto do penúltimo domingo à noite, quando o Atlético venceu o Cruzeiro por 3 a 1, na Arena da Baixada. Deste total sobraram para os cofres rubro-negros apenas R$ 43.941, o que representa menos de 30% (mais precisamente 29,07%) do que foi arrecadado com a venda dos 12.222 ingressos – sobraram na bilheteria 5.588 entradas não adquiridas.

Pode-se embutir ainda neste valor (lucro para o clube, no caso) os R$ 22.673,25 referentes ao aluguel de campo. Assim o clube arrecadaria R$ 66.613,94 ou 44,06%. Mas como há um custo alto para manter um estádio do porte do Joaquim Américo, nem se pode dizer que este seja mesmo o valor. Afinal, quem vai pagar o que se gasta com água, energia elétrica, tinta, adubo, grama e outros tantos gastos que fazem parte da manutenção, senão o próprio aluguel?

E onde foram parar R$ 84.542,06. Ora meu caro torcedor, isso é o que podemos definir como o “custo-futebol” – um neologismo “recrutado” e adaptado do “economês”, onde se utiliza o termo “custo-Brasil”, para demonstrar que existe uma excessiva carga de tributos e taxas.

Para tentar fazê-lo entender o “custo-futebol”, vamos tentar destrinchar os valores circulantes nos bastidores de um jogão de bola. Afinal, pelo menos no último domingo, o torcedor atleticano pode considerar o dinheiro que gastou um bom investimento, pois acompanhou a vitória de sua equipe sobre o atual campeão brasileiro.

Descontos

O primeiro a tirar seu quinhão é o governo federal. Já na fonte, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) arrecada, em alíquotas que variam de 5 a 20%. No caso do confronto contra a Raposa, o Rubro-Negro recolheu, ou encaminhou para a Federação Paranaense recolher, R$ 11.819,68.

Para a CBF, a título de ajuda à Série C do Brasileirão, existe uma taxa de 5% da renda (R$ 7.557,75), mesmo valor repassado à Federação Paranaense (5% – R$ 7.557,75). E mais R$ 1.511,55 (1%) destinados a associação de árbitros.

Depois de toda esta “sangria”, vêm os custos propriamente ditos. Para preencher a súmula e controlar a realização do jogo, a FPF envia representante e tesoureiro, que saem por R$ 900,00.

Com os funcionários do próprio clube, a título de prestação de serviço fora do horário de trabalho, lá se vão mais R$ 2.835,00 (1,87%). Quem foi contratado apenas para trabalhar no jogo (terceiros) custou ao clube R$ 3.814,61.

Como reza o regulamento, R$ 1.833,30 foram destinados a pagar o seguro obrigatório, repassado à CBF.

A arbitragem, parte atuante no espetáculo, teve custo total de R$ 7.816,90, sendo R$ 4.600,00 pelo trabalho em campo e mais 3.216,90 de passagens e diárias. Há ainda o exame antidoping, com custo de R$ 2.240,00 e taxa de R$ 750,00.

E tem mais. O quadro móvel (segurança, plantões, ambulância) tem custo de R$ 15.430,80 pago em nota fiscal e mais R$ 7.124,00 não especificados. Vale lembrar, que aí estão todos os tipos de funções que ajudam a fazer o espetáculo. Ninguém aparece, com algumas exceções, como os gandulas. Outros porém, ficam nos bastidores ou ajudando o público, como bilheteiros, seguranças, catraqueiros, organização, seguranças, plantões, orientadores, equipes de higiene e limpeza entre outos.

Para finalizar, R$ 920,00 para pagar o lanche dos policiais militares. Vale essaltar, que por obrigação fiscal, os 1.680 sócios do clube são registrados no boletim financeiro como pagantes de ingressos de R$ 7,00. Mas isso só consta para efeito de impostos a serem pagos, pois na verdade, esse dinheiro não é contabilizado.

Torcida prefere os R$ 15,00. Ou meia

Para a partida contra o Cruzeiro, disputada na noite do último domingo, a diretoria atleticana colocou à venda 17.810 ingressos, com preços variando de R$ 7,50 (cadeira de sócio contribuinte ou cadeira comum para quem paga meia) a R$ 50,00 (cadeira social superior). Neste intervalo de preço, a melhor resposta foi dada pelos torcedores que optaram pelo menor valor do torcedor comum, vendida pelo preço de R$ 15,00 (cadeira comum inteira), que comprou 5.640 entradas das 7.400 disponíveis nas bilheterias – 76,22%.

Segundo dados do IBGE, a renda mensal média da população economicamente ativa de Curitiba, gira em torno de dois salários mínimos (R$ 560,00). Isso ajuda a entender a razão pela qual, dos 2.500 ingressos de R$ 30,00 colocados à venda, apenas 14,6% (365) reverteram em caixa para compor a renda (ou R$ 10.950,00).

Já o meio ingresso da cadeira comum, teve a melhor saída. Dos 4.000 colocados à venda, 3.781 foram vendidos, representando 55,97% dos recursos da renda bruta e um percentual de venda de clássico: 94,53%.

Outro detalhe que pôde ser observado diz respeito aos que têm como pagar caro. A resposta é muito boa, percentualmente: dos 200 ingressos a R$ 50 (cadeira executiva inteira na reta da Getúlio Vargas) 51% foram vendidas (R$ 5.100,00) e as meias entradas deste setor tiveram desempenho ainda melhor. Nada menos que 63% dos cem colocadas à venda foram comercializadas, gerando R$ 1.575,00. Em compensação, os ingressos do chamado retão (tirados da torcida comum) decepcionaram ao preço de R$ 30,00: apenas 365 dos 2.500 foram vendidos. Isto se percebe também na meia desse local: de 1.500 à venda, só saíram 316.

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