O pretexto é ?nobre?: fomentar as categorias de base. Mas a Federação Paranaense de Futebol vai lucrar muito com seu mais novo tributo. Desde 15 de agosto, os clubes paranaenses são obrigados a ceder à FPF 1% do valor de todas as transferências de atletas. A taxa, criada unilateralmente e sem autorização das agremiações, pode render à entidade mais de R$ 1 milhão anuais.
O presidente da FPF, Onaireves Moura, apregoa que o tributo é irrisório. ?Dizem que ganharemos uma fortuna. Vai dar só uns R$ 20 mil mensais?, afirma Moura. Mas uma conta rápida mostra que a contribuição compulsória deve gerar uma pequena fortuna. Se a resolução estivesse em vigor desde o início do ano, a federação teria lucrado só com as vendas de Roberto Brum, Adriano, Fernando, Miranda e Rafinha, pelo Coritiba, e Jádson e Fernandinho, pelo Atlético, cerca de R$ 720 mil – ou R$ 90 mil por mês, de janeiro a agosto. Isso sem contar com as outras 53 transações de clubes paranaenses para o exterior desde o início de 2005.
Segundo Moura, o valor arrecadado pelo ?Fundo de Apoio à Iniciação Esportiva? será investido em competições para as categorias de base.
?Organizamos cerca de 50 competições por temporada. Algumas delas demandam custos altos e esperamos que esse fundo possa contribuir?, afirma o presidente da FPF.
Outra parte dos recursos seria aplicada num portal da internet, com informações de atletas de todos os clubes filiados. O objetivo seria facilitar eventuais negociações, principalmente para times do interior. Para manter um convênio com o site futebolpr.com.br, que cedia sua estrutura para divulgar súmulas, borderôs e alguns comunicados, a federação pagava pouco mais de R$ 2 mil mensais.
Moura reclama que a receita da FPF é insuficiente para cobrir o orçamento anual de R$ 1,8 milhão. ?As arrecadações das partidas estão cada vez mais baixas. Nossa maior fonte de renda é o aluguel do patrimônio?, afirma o dirigente. Mas só com os 5% da renda dos jogos de Paraná, Coritiba e Atlético no primeiro turno do Campeonato Brasileiro, a federação arrecadou R$ 205 mil. A entidade ainda tem direito a 10% da renda de todos os jogos do Campeonato Paranaense.
Embora timidamente, os clubes começam a reagir contra a cobrança. O Atlético ainda avalia que providência tomar, mas acredita que uma assembléia entre os clubes seria um meio indicado de debater a questão. O Coritiba, que só com a venda de Rafinha perdeu cerca de R$ 150 mil, mas mantém bom relacionamento com a federação, mostra-se mais resignado. O Paraná Clube, que também pode ter prejuízo se realmente negociar o atacante Borges, acionou seu departamento jurídico para estudar a questão. ?Mas, à primeira vista, a cobrança não me parece legal?, afirma o presidente José Carlos de Miranda.