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Suspeito de receber propina do Rio-2016 renunciou antes de ser suspenso

Suspeito de ter recebido propinas no caso do Rio-2016, o auditor da escolha do Rio de Janeiro para sediar os Jogos, Frank Fredericks, decidiu abandonar seus cargos dentro do Comitê Olímpico Internacional (COI) horas antes de o Comitê de Ética da entidade revelar ao público que ele seria suspenso.

Ele não será mais o presidente da comissão de avaliação dos Jogos Olímpicos de 2024 e não votará para a escolha da próxima sede, em setembro. Mas, com a cumplicidade do COI, driblou um constrangimento internacional para tentar mostrar que foi ele mesmo quem havia optado por sair.

De acordo com o Ministério Público francês, a família do dirigente esportivo Lamine Diack, suspeita de ter recebido US$ 1,5 milhão de empresários próximos aos organizadores do Rio-2016, transferiu US$ 299,3 mil pela empresa Pamodzi para a empresa offshore Yemli Limited. O depósito ocorreu em 2 de outubro de 2009, dia da vitória do Rio na decisão da escolha da sede dos Jogos. Mas a empresa beneficiada tinha uma relação direta com Fredericks, que foi justamente um dos monitores do COI no momento do voto nas eleições de 2009 e vencidas pelo Rio.

Nesta terça-feira, ainda pela manhã, Fredericks emitiu um comunicado pelo qual ele afirmava que deixaria seus cargos para permitir que o processo pudesse ocorrer sem distrações. Ele ainda prometia colaborar nas investigações e apostava que a Comissão de Ética o inocentaria.

O que ele não revelou é que, horas depois, seria essa mesma Comissão de Ética do COI que faria as seguintes recomendações: remover a participação e a presidência da Comissão dos Jogos de 2024 de Fredericks, suspendê-lo provisoriamente da coordenação dos Jogos da Juventude de 2018 e retirar seu direito de voto para a escolha da sede de 2024 na disputa entre Paris e Los Angeles.

A Comissão indicou que respeitava o princípio de inocência e que não estava na posição de examinar o conteúdo das acusações. Mas também indicou que tinha como missão “proteger a reputação do movimento olímpico”. “Não apenas os fatos, mas também a percepção de possível falta de imparcialidade por um membro precisa ser levado em consideração”.

A crise levou o COI a reunir seu Conselho Executivo. Repetindo seu mantra de que está comprometido a cooperar com a Justiça francesa, a cúpula do COI “enfatizou a presunção de inocência” do suspeito e diz ter “tomado nota” de sua renúncia. Mas, numa manobra, optou por simplesmente aceitar a renúncia do dirigente, sem ter de puni-lo ou recorrer à decisão da Comissão de Ética. “Ele tomou a decisão de aplicar uma auto-suspensão”, indicou o comunicado do COI.

Depois de uma “deliberação cuidadosa”, o Conselho do COI tomou as decisões de “aceitar sua renúncia, em linha com a recomendação do Comitê de Ética”. Ele ainda anunciou que não participará das reuniões de julho com as cidades candidatas para receber os Jogos de 2024, o que também foi aceito pelo Conselho do COI.

Mas a entidade fez questão de “relembrar a importância de respeitar o princípio da presunção da inocência” e lembrou que Fredericks “categoricamente rejeita as alegações”. Em seu lugar, assumirão os cargos vagos Patrick Baumann, secretário-geral da Federação Internacional de Basquete, e Lingswei Li.

Antes de ser punido, Fredericks fez questão de elogiar o COI. “Eu acredito na integridade do processo eleitoral do COI e nunca notei nada de errado que me fizesse duvidar disso”, garantiu o suspeito em um comunicado. “Reitero que nunca fui envolvido em manipulação de votos ou práticas ilegais”, disse. “Mas ainda assim decidi pessoalmente que é do melhor interesse para o bom funcionamento do processo de Candidatura do COI que eu saia do cargo de presidente da comissão de avaliação 2024, já que é essencial que o importante trabalho de meus colegas seja visto como sendo verdadeiro e justo”, escreveu.

“As duas cidades (Los Angeles e Paris) estão preparando duas candidaturas fantásticas e não gostaria de me tornar uma distração a essa grande competição”, disse Fredericks. Na segunda-feira, ele também deixou seu cargo num grupo de trabalho da Associação das Federações Internacionais de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês) destinada a avaliar o doping na Rússia. “Categoricamente nego qualquer envolvimento direito ou indireto e confirmo que nunca quebrei a lei, as regras de ética em relação a qualquer tipo de eleição no COI”, escreveu.

Na declaração, ele deixa claro que não é ele o alvo das reportagens. Mas sim a “integridade do sistema de escolha de sedes do COI e o processo de eleição de sedes”. “Claro que todos os processos de eleição devem ser livres e justos”, insistiu. O ex-atleta da Namíbia prometeu que continua “ativamente cooperando com a Comissão de Ética do COI para que possam conduzir uma investigação independente e adequada”.

O suspeito indicou que deu uma declaração à Comissão do COI e que vai aguardar os resultados desse “processo independente”. “É de meu maior interesse limpar meu nome dessas insinuações negativas e de meu papel dentro do COI assim que possível para evitar um maior dano para a minha reputação e para o COI”, disse. O ex-atleta diz confiar que a comissão de Ética do COI vai concluir que as menções a ele nos jornais são “difamatórias”.

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