Quanto o técnico Tite anunciou a lista dos convocados para a seleção brasileira que vai enfrentar a Arábia Saudita e a Argentina, dias 12 e 16, respectivamente, nenhum nome chamou tanto a atenção quanto o de Pablo. Tanto que nem ele mesmo acreditava que seria uma das novidades da lista, ao lado de Walace e Malcom.

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Mas já que ganhou a primeira oportunidade de defender a seleção brasileira, o ex-zagueiro do Corinthians e destaque do Bordeaux não quer deixar a chance da sua vida passar. Em entrevista ao Estado, o defensor de 27 anos admite surpresa com a convocação, mas nega o rótulo de ser um “tapa-buraco” de nomes já testados e mais conceituados. Ele quer mostrar que chegou para ficar no time nacional e mais uma vez surpreender.

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Seu nome foi a maior surpresa da lista do Tite. Sinceramente, você imaginava ser convocado?

Eu imaginava como qualquer jogador pode imaginar, mas achava que seria algo quase impossível. Não é querer desmerecer o Bordeaux, pelo contrário, mas eu acreditava que só os jogadores de grandes clubes europeus poderiam ter uma chance. Sei que o Bordeaux não está entre os times top da Europa, mas isso mostra um pouco a postura e a forma de trabalhar do Tite.

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Como assim?

O Tite faz uma observação individual do atleta, sem se preocupar com o clube em que ele joga. Tanto que tem jogadores convocados que jogam na China, Ucrânia e outros países que não são considerados dos mais fortes. Isso dá maior motivação para todos os jogadores trabalharem.

Muita gente vê sua convocação apenas como um “nome qualquer” para ocupar a vaga que é disputa por Dedé, Geromel, Felipe, entre outros. Você acha que chega como um “tapa-buraco” da convocação?

De jeito nenhum. Chegar na seleção brasileira é uma coisa surreal. Imagine quantos atletas o Tite poderia convocar neste momento. Milhões de pessoas gostariam de estar no meu lugar. Só ser chamado já é uma coisa maravilhosa e grandiosa e meu futuro na seleção dependerá de mim. O que eu fizer em campo e nos treinamentos vai definir se fico ou não. Tenho que aproveitar a chance para mostrar que posso, sim, buscar meu espaço na seleção e entrar na disputa pela vaga.

No ano passado, você teve uma temporada muito boa pelo Corinthians e não foi convocado. Agora, no Bordeaux, ganhou uma chance. Quanto acha que o trabalho feito aqui no Brasil pode ter influenciado?

Minha convocação foi surpreendente mesmo e é claro que meu trabalho no Corinthians, aliado ao que tenho feito no Bordeaux, ajudou. Uma coisa atraiu a outra. No ano passado eu até esperava uma chance e chegaram a especular isso, mas não aconteceu. Hoje, ninguém cogitava (ele ser convocado). Vejo a convocação como uma prova de que fiz as escolhas certas e que estou fazendo o melhor para a minha carreira. Agora é manter a regularidade.

Como ficou sabendo da convocação?

Foi até engraçado (risos). Eu, sempre que acordo, costumo olhar as notícias do Brasil e vi que teria a convocação para a seleção. Pensei em assistir, mas, chegando próximo do horário, eu resolvi deixar para lá e me preocupei em me arrumar para o treino do Bordeaux. Afinal de contas, convocação era um sonho bem distante, né? Subi para me arrumar, fiquei um tempo sem mexer no celular e quando fui pegá-lo, vi que tinha um monte de mensagens, várias ligações do meu pai e de amigos… achei que tinha morrido alguém ou acontecido algo assim (risos).

E quem te deu a notícia?

Meu pai me ligou de novo, atendi e ele já começou a chorar, falando que eu tinha sido convocado. Achei que ele estava brincando comigo, até que minha mulher e eu fomos ver na internet e ela começou a chorar também.

Alguém do Corinthians falou com você depois da convocação?

Vários. A amizade continuou, mesmo eu saindo. Gabriel, Balbuena, Kazim, o Carille. Felizmente tenho muitos amigos e muitos me mandaram mensagem parabenizando.

Por falar em Corinthians, talvez não fosse bom ter ficado? A chance poderia ter chegado mais rápido…

Tentamos ficar, mas não teve acordo. Foi um ano de duas conquistas (Campeonato Brasileiro e Paulista) e com prêmios individuais. Isso significa que estou no caminho certo. Creio que não faria nada de diferente, porque eu queria permanecer no Corinthians e fiz tudo para que isso acontecesse, mas não deu certo. Acredito que as coisas acontecem por algum motivo. Foi ruim deixar o meu país e o Corinthians, mas voltei em um outro patamar para o Bordeaux e vivo um grande momento.

Falar em Copa do Mundo é algo muito distante. Assim sendo, qual seu objetivo na seleção?

Primeiro é mostrar para o Tite que mereço ter mais oportunidades e se tornar uma opção. E depois, o foco é a Copa América no ano que vem. Imagine defender a seleção brasileira em um campeonato no seu país! Isso é uma satisfação imensa. Seria gratificante ter todo o país torcendo por você. Impossível não se motivar com isso.

Em julho, saiu a notícia que você havia acertado com o Krasnodar, da Rússia, mas você continua no Bordeaux. O que ocorreu?

Realmente tive uma proposta muito boa, ficamos negociando por quase um mês. Estava tudo certo mesmo. Salário, tempo de contrato, tudo… mas na “hora H”, conversei com a minha família, pensei no meu filho, questão de adaptação e achei que, embora financeiramente fosse algo irrecusável, eu iria para um clube em que começaria do zero e sem saber se daria certo. Aqui, já tenho meu lugar e talvez possa aparecer mais.