No curto caminho de sua casa até a praia em Maresias, no litoral norte paulista, Miguel Pupo se abaixa e pega uma garrafa plástica que estava jogada na areia. Leva até o lixo mais próximo e continua caminhando, com sua prancha debaixo do braço e ao lado do irmão Samuel, que carrega o pesado troféu, símbolo de sua conquista mais recente em Portugal. A tranquilidade dos dois contrasta com a perspectiva de um grande feito que se aproxima.

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A família Pupo está ansiosa para a disputa das duas últimas etapas do ano do QS, a segunda divisão do Circuito Mundial de Surfe. Os irmãos Miguel e Samuel deram um show nas etapas europeias e agora têm tudo para carimbar em Haleiwa e Sunset Beach, eventos que distribuem 10 mil pontos aos campeões e valem pela Tríplice Coroa Havaiana, o acesso para a elite da modalidade em 2020.

Miguel Pupo, de 27 anos, já esteve entre os melhores durante oito temporadas. Mas em 2018, sem conseguir a vaga, disputou nove etapas sempre como substituto de algum atleta machucado. E neste ano teve de correr atrás de sua vaga fixa no QS. Com 21 mil pontos, está na quarta posição e tem tudo para conseguir. Desse total, 15.750 ele conseguiu na perna europeia, principalmente após vencer o Galicia Classic Surf Pro.

Já Samuel é o caçula da família e aos 18 anos sonha fazer sua estreia fixa no Circuito Mundial em 2020. Recentemente, ganhou o Billabong Pro Ericeira e com os 10 mil pontos saltou para a nona posição no ranking do QS. Os dez mais bem colocados garantem vaga na elite em 2020. “Ele estava depois da centésima colocação antes de irmos para a Europa, mas com os bons resultados em três eventos, subiu muito no ranking”, conta Miguel.

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SUPORTE – A trajetória de ambos na temporada foi distinta. Miguel, mais experiente, sofreu com a falta de apoio. “Eu cheguei a ficar desacreditado por um instante, perdi patrocínio, mas na minha vida pessoal foi tudo perfeito. Minhas filhas são meus maiores troféus”, diz, sobre as pequenas Luna e Serena. “Sem apoio, acabei desanimando, isso refletiu no meu surfe e os resultados não vieram. Passei por um momento difícil”, continua.

Ele e o pai bateram em muitas portas atrás de um patrocínio principal, e quando tudo parecia sem solução, ouviram o sim do empresário Rodrigo Pacheco, proprietário da construtora Nosso Lar. “Ninguém queria apostar em mim, mas ele falou que era uma honra estar no time dele”, comenta Miguel.

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Já Samuel possui desde os 12 anos contrato com a Rip Curl, empresa que também patrocina Gabriel Medina. Pouco antes de viajar para a Europa, ele renovou por mais três anos e festeja o longo vínculo. “Ela vem me acompanhando desde pequeno e para mim é muito importante devolver essa confiança que sempre depositou em mim”, diz o surfista.

Essa não é a única semelhança que Samuca tem com Gabriel Medina. Assim como o bicampeão mundial, ele também venceu o Rip Curl Grom Search Internacional, evento que serve para a marca de surfe descobrir novos talentos. O garoto de Maresias também tem no currículo o terceiro lugar no Mundial Pro Júnior no ano passado. Todos que acompanham a carreira de Samuca sabiam que era questão de tempo ele despontar no surfe.

“Sendo o mais novo, sempre teve expectativa maior em cima de mim. Consegui deixar isso de lado e minha paixão era competir. Ter o Miguel como irmão foi uma vantagem, pois disputava campeonatos amadores e ele me ajudava. Ter ele e meu pai, dois incríveis surfistas como espelho, é fantástico”, diz.