São Paulo – O sucesso do vôlei feminino cubano nasceu no Brasil. É o que garante o ex-técnico da seleção brasileira Samy Mehlinsky. Segundo ele, uma série de imprevistos antes dos Jogos Pan-Americanos de Chicago, em 1959, foram decisivos na criação de uma das maiores potências esportivas internacionais.
Tudo começou quando o técnico da seleção brasileira feminina de vôlei em 59, Adolfo Guilherme, que estava em São Lourenço (MG) preparando a equipe para o Pan de Chicago, teve de viajar às pressas para Belo Horizonte por causa de um mal-estar de sua mulher. ?Eu era técnico do time masculino e, como nosso grupo também estava em São Lourenço, ele me pediu para que o substituísse enquanto estivesse fora?, conta Mehlinsky.
Guilherme precisou ficar em Belo Horizonte e, durante esse período, as duas equipes continuaram a trabalhar sob o comando de um mesmo treinador. Na seqüência, os times viajaram para a segunda fase de preparação, em Volta Redonda (RJ). Na cidade fluminense, Mehlinsky foi informado de que a viagem da delegação de vôlei para Chicago seria antecipada.
Todos embarcariam para os Estados Unidos 15 dias antes do início do Pan. ?Na verdade, as reservas do avião eram para a seleção de futebol, mas o técnico ainda não tinha feito os cortes no time. Como éramos as únicas equipes já definidas e treinando, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) decidiu que o vôlei viajaria para Chicago no lugar do futebol.?
Guilherme ainda precisou ficar em Belo Horizonte e Mehlinsky viajou com as duas delegações para os Estados Unidos. Durante os treinos, mais um imprevisto. ?Um dos jogadores da seleção masculina, Décio Viotti, se contundiu. Como a equipe de Cuba já estava em Chicago, pedimos um atleta emprestado.? Mehlinsky teve permissão para escolher o jogador e optou por alguém polivalente que cortava e levantava, chamado Eugênio.
O jovem treinava com o time masculino e, nas horas de folga, acompanhava Mehlinsky nos treinos da seleção feminina, já que Guilherme só chegaria aos Estados Unidos dois dias antes da estréia da equipe brasileira. ?Decidi fazer algumas mudanças, em especial aumentar o tamanho das levantadoras para que elas também atacassem quando estivessem na rede e fossem capazes de se infiltrar tanto pela direita quanto pela esquerda e pelo centro?, conta Mehlinsky.
O sistema foi mantido por Guilherme, que convidou o colega a continuar colaborando no trabalho que resultou na primeira medalha de ouro pan-americana do Brasil em esportes coletivos.
Mehlinsky, que hoje trabalha na Confederação Brasileira de Vôlei, disse que, em certa ocasião, contou sua história a Bernardinho, que retrucou: ?Então é você o culpado??. O treinador, no entanto, prefere pensar que, por obra do acaso, fez parte da história do vôlei cubano.