Nos próximos dias, a equipe Honda vai testar o carro para a temporada 2009 da Fórmula 1 com três pilotos brasileiros – o veterano Rubens Barrichello e os novatos Lucas di Grassi e Bruno Senna. Os três disputam as vagas restantes do grid da principal categoria do automobilismo. Para os garotos, a chance que eles sonhavam desde pequenos – e o auge de uma carreira que começa no kart. Mas chegar à F1, apesar de ser o objetivo de todos os jovens que dirigem carros de corrida, é cada vez mais difícil. A combinação de ótimos resultados, dinheiro dos patrocinadores e apoio da mídia precisa acontecer na hora certa.

continua após a publicidade

Mas não ir para a Fórmula 1 está deixando de ser totalmente frustrante para os pilotos. Mais que isto – hoje, é cada vez mais possível ter uma carreira longe dos monopostos, e até mesmo sem ir para a Europa ou para os Estados Unidos. Um caminho aberto para todos é o da Stock Car, que neste ano teve sua temporada mais lucrativa, atraindo mais patrocinadores e permitindo que pilotos tenham contratos vantajosos. E a garotada, que disputa as duas categorias de “acesso” à Stock (Copa Vicar e Stock Júnior), está olhando para a categoria com outros olhos.

Isto porque a atenção do público está se voltando para o automobilismo nacional. “Já sinto esta diferença nas ruas. A Stock Car é comentada por vários segmentos de público, não só aquele torcedor fanático. É assunto de bar”, afirma o paranaense Thiago Marques, no seu sétimo ano na categoria. Isto ficou claro nas duas etapas de Curitiba, que tiveram casa cheia no Autódromo Internacional de Pinhais, e na Corrida do Milhão, do Rio de Janeiro.

O paranaense ganhou até torcida organizada. “O impressionante é o ritmo de crescimento, que é muito rápido em pouco tempo”, conta Thiago, que tem 180 fãs cadastrados e um blog para facilitar o contato com o público. Para o piloto, é o momento mais importante da Stock, o que atrai pilotos, imprensa e principalmente patrocinadores. “O patrocinador tem sua marca exposta em um evento que atinge milhares de pessoas no Brasil inteiro. Com exceção do futebol, não há paralelos parecidos com o que acontece com o automobilismo nacional, em especial a Stock Car”, diz Thiago Marques.

continua após a publicidade

Pomposamente chamada de “Copa Nextel Stock Car” (graças a um patrocinador), e tendo hoje em Brasília a segunda prova da série decisiva (quer dizer, “Eurofarma Superfinal”), o campeonato mais importante do automobilismo brasileiro tem três “filhotes” – além das duas citadas acima, a Pick-Up Racing. Juntas, as quatro categorias movimentam mais de 120 pilotos, dos mais experientes como Ingo Hoffmann, até os mais jovens, como Lucas Finger, paranaense de 21 anos.

Finger disputa a Stock Jr., que pode ser considerado o primeiro passo para os jovens pilotos depois do kart. Ele tem planos de chegar na Copa Nextel, seguindo a trajetória de Thiago Marques, que foi campeão da Light em 2001. O Estado acompanhou o encontro deles, e também do paulista João Marcelo, que também disputa a Stock Jr. – eles conversaram sobre as categorias, as dificuldades de adaptação e a possibilidade de fazer carreira longe dos monopostos.

continua após a publicidade

João Marcelo – Qual seria o passo ideal depois da Junior?

Thiago Marques – Sem dúvida, ir direto para a Copa Vicar ou Pick Up. O carro é bem parecido com a Stock Car e a vantagem que é bem mais barato. A Copa Vicar é mais competitiva, mas a Pick Up tem preço menor – por um retorno que deve crescer. Depende também do pacote de TV, isso ajuda muito a vender patrocínio – posso dizer isso pelo caso da Copa Nextel. Fui campeão da Light em 2001 e desde 2002 estou na Stock e a cada ano que a parceria da Globo aumenta, fica mais fácil dar o retorno para o patrocinador.

Lucas Finger – E o aprendizado do carro, qual é a parte mais difícil?

Thiago Marques – Tem uma diferença bem interessan,te, que é a maior possibilidade de acerto do carro. Há muitos ajustes que são feitos no carro e já neste passo seguinte, da Light ou Pick Up, vocês podem ter contato, como o acerto de diferencial, o set up de molas e suspensão, da barra estabilizado. O aprendizado do carro é importantíssimo, porque o chassi é praticamente o mesmo, ainda que, em 2009, a gente vai estrear novo carro na Copa Nextel.

João Marcelo – E como é lidar com esta diferença tão pequena no grid, com todos os carros no mesmo segundo?

Thiago Marques – Sem dúvida, é bem complicado. Por isso, a categoria de base tem que te ajudar a ir no limite cada vez mais: uma freada mais forte em um trecho, uma retomada de velocidade mais ágil… isso você desenvolve com o passar dos anos. O nível é muito alto e você tem que se acostumar com isso rapidamente.

Lucas Finger – Você acha que o caminho de direcionar sua carreira no turismo é o ideal, como nós estamos fazendo?

Thiago Marques – Com certeza. Eu mesmo nunca participei de outro campeonato, nem mesmo kart. Comecei direto na Stock Light e fui campeão em 2001. Acho que, se o a objetivo de vocês é fazer carreira na Copa Nextel, o ideal mesmo é buscar um campeonato de base, começando pela Jr e depois Vicar ou Pick Up. Você aprende muito sobre o carro e não precisa se readaptar, como os pilotos de fórmula, por exemplo.