Em um dia sem futebol no Paraná, os olhos dos desportistas do estado vão estar voltados para um prédio no centro do Rio de Janeiro.
A partir das 16h, no STJD, começa o julgamento do recurso do ?Caso Bruxo?, que tomou conta do noticiário em boa parte de 2005, teve duas sentenças e ainda não parece completamente esclarecido. Surgido e ?esquentado? por conta do trabalho da imprensa, o caso tem hoje seu último capítulo na esfera esportiva.
A história começou com as denúncias do dirigente do Operário, Sílvio Gubert, que em conversa com jornalistas da ESPN Brasil admitiu que existia um ?Bruxo? no futebol paranaense – que seria o responsável por ?acertar? resultados de partidas mediante altos pagamentos em dinheiro. O caso explodiu no Tribunal de Justiça Desportiva, que abriu inquérito para averiguar o que havia de verdade no caso.
Dali em diante, árbitros, dirigentes de clubes e da Federação Paranaense de Futebol começaram a ser ouvidos – e muitos entraram em contradição. Os depoimentos dados ao auditor do TJD, Otacílio Sacerdote Filho, acabaram dando aos responsáveis pela investigação a certeza que o caso teria que ir a julgamento.
O procurador que acompanhou os ?bruxos? foi Davis Bruel, que ofereceu denúncia a 13 pessoas: os dirigentes Genézio de Camargos (Foz do Iguaçu), Gílson Pacheco (Marechal Cândido Rondon) e Sílvio Gubert; os árbitros José Francisco de Oliveira, Amoreti Carlos da Cruz (aposentado), Antônio Salazar Moreno, Carlos Jack Rodrigues Magno, Marcos Tadeu Mafra e Sandro César da Rocha, os ex-diretores de arbitragem Valdir de Souza, Antônio Carvalho e Fernando Luiz Homann, e o diretor da FPF Johelson Pissaia.
No primeiro julgamento, que começou no dia 10 de outubro de 2005 e só terminou no dia seguinte, foram eliminados do futebol Camargos, Pacheco, Gubert e Oliveira – o ex-árbitro, conhecido como Cidão, deu entrevistas afirmando que iria ?contar tudo?, e que sabia quem comandava a ?máfia?.
O resultado acabou sendo
mal-recebido, e oito dias depois aconteceu uma inédita reconsideração, que acabou eliminando do futebol Salazar Moreno, Mafra, Sandro da Rocha e Johelson Pissaia.
A última instância no direito esportivo é o Superior Tribunal de Justiça Desportiva – que, por sinal, tem hoje a primeira reunião depois da modificação imposta pelo Conselho Nacional de Justiça, que proibiu que desembargadores da ativa façam parte do STJD – caso do ex-presidente do órgão, Luiz Zveiter. Por isso, também acontecerá hoje a eleição da nova mesa diretora do Tribunal.
Depois, vão para o banco dos réus Johelson Pissaia, Antônio Oliveira Salazar Moreno, Marcos Tadeu Silva Mafra, Sandro César da Rocha (que foram punidos), Amoreti Carlos da Cruz, Antônio Carvalho, Carlos Jack Rodrigues Magno, Fernando Luiz Homann e Valdir de Souza (que foram absolvidos). Além deles, vai estar lá o futebol paranaense, ansioso por uma decisão realmente justa.
Clima promete ser quente
Alguns nomes vão ficar bem evidentes durante o julgamento desta tarde, no Rio de Janeiro. O auditor do STJD Eduardo Machado Costa, o procurador Paulo Schmitt e o advogado Domingos Moro vão estar entre os protagonistas da decisão final do ?Caso Bruxo?. Será dos argumentos (e dos documentos deles) que os juízes do Superior Tribunal de Justiça Desportiva vão tirar os pontos para a absolvição ou punição dos acusados.
Eduardo Machado Costa é o relator do caso – foi ele quem recebeu o inquérito da procuradoria do STJD. Neste órgão, um dos nomes mais fortes é o de Paulo Schmitt, paranaense e procurador-geral do Tribunal. Domingos Moro será o defensor de seis envolvidos (quatro condenados e dois absolvidos). Em texto no FutebolPR, ele manifesta sua expectativa em relação ao julgamento. ?Antevejo as conseqüências e os prováveis resultados, mas preparo-me da melhor maneira possível para a tentativa de uma ?virada processual??, afirma.
Um dos possíveis caminhos da defesa é a ?incoerência? de algumas decisões – entre elas a punição aos árbitros no segundo julgamento e o aparecimento de novas denúncias no final do ano passado, que não foram analisadas pelo Tribunal paranaense. Entre elas, a do ?Caso Bruxo 2?, que estaria sendo enviada para a Procuradoria de Investigações Criminais (PIC) sem qualquer julgamento.
Laslowski e Escorsin tentam se explicar
E o ?Caso Bruxo 2?, também está na pauta de hoje. Mas não é nos tribunais, nem mesmo nas investigações da PIC. Às 17h, o procurador do TJD, Adão José Laslowski, e o presidente do órgão Bôrtolo Escorsin vão conceder uma entrevista coletiva na sede da Federação Paranaense de Futebol – e segundo a nota enviada pela assessoria da entidade, o assunto será exatamente a segunda leva de denúncias, que envolviam altos diretores da FPF.
Desde o último sábado surgiram informações de um possível arquivamento do caso ou do envio dos documentos para a PIC – notícia que agitou os bastidores do TJD, pois alguns auditores acreditavam que o caso iria a julgamento. O ?Caso Bruxo 2? tem origem na entrevista de um ex-jogador do Engenheiro Beltrão à Tribuna, afirmando que houve manipulação de resultados na Série Prata em 2004. Depois, entrevistas do árbitro José Francisco de Oliveira, o Cidão, e gravações de conversas entre ex-árbitros reforçaram as denúncias contra a cúpula da Federação Paranaense e do departamento de arbitragens da entidade.