A tragédia que abalou Salvador pode se repetir em breve, em qualquer parte do Brasil. Inclusive aqui, no Paraná. O alerta é do Sindicato Nacional das Indústrias de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), que fez recentemente um estudo e constatou: a falta de segurança e conservação são problemas freqüentes em estádios de norte a sul do País.
Para avaliar a estrutura do futebol brasileiro, com vistas à Copa do Mundo de 2014, o Sinaenco visitou 29 estádios, em 18 cidades. No Paraná, o sindicato passou pelo Couto Pereira, Arena da Baixada e Vila Capanema e encontrou na casa do Coritiba as principais falhas de conservação e defeitos estruturais.
O desastre na Fonte Nova já havia sido praticamente anunciado. No relatório final do estudo, que pode ser obtido pela internet (www.copa2014.org.br), o Sinaenco já alertava para alguns sinais que mostravam que a estrutura do estádio poderia estar comprometida. Problemas que se repetem, com maior ou menor intensidade, em várias praças esportivas brasileiras, inclusive no Couto Pereira.
Alguns detalhes podem passar despercebidos pelo torcedor, mas não podem ser ignorados quando o assunto é segurança. São infiltrações, rachaduras, vigas expostas e corroídas, sinais de que um acidente de grandes proporções pode estar a caminho. ?Toda estrutura de concreto, quando está comprometida, começa a dar alguns avisos. Esses pontos são uma espécie de telegrama, avisando o que vai ocorrer lá na frente?, alerta o vice-presidente de arquitetura do Sinaenco, Eduardo Castro Melo.
Fotos mostradas no estudo do sindicato indicam que esses defeitos de conservação são facilmente verificados no Couto, como canos que lançam água diretamente sobre as arquibancadas, causando infiltrações. O resultado pode ser percebido através de vergalhões expostos e corroídos em alguns degraus de arquibancada e colunas de sustentação.
São situações de risco que poderiam ser evitadas, mas que após anos de descaso podem levar a graves danos estruturais. ?Quase todos os estádios mais antigos, construídos nas décadas de 1960 e 1970, têm esses problemas. Para se adequar à Copa do Mundo ou aos padrões exigidos atualmente, eles precisarão passar por grandes reformas estruturais ou ser totalmente reconstruídos?, conclui Castro Melo.
Estádio é polêmica também nas eleições
O futuro do Couto Pereira é um dos assuntos mais polêmicos da disputa eleitoral que envolve o Coritiba. Tanto a situação quanto a oposição do clube apresentam seus próprios projetos e têm planos diferentes para o estádio.
O atual presidente, Giovani Gionédis, já avisou que acha fundamental que o Coxa construa um novo estádio. Ele já teria inclusive um projeto pronto e estaria buscando um parceiro para a empreitada. ?O Coritiba deve construir uma arena multifuncional, com cerca de 40 a 45 mil lugares?, prometeu Gionédis quando falou pela primeira vez do projeto publicamente, em abril.
O problema é que o presidente do Coxa pretendia usar o terreno onde hoje está o Pinheirão, em uma parceria com a Federação Paranaense de Futebol (FPF). Atualmente interditado, o estádio virou um pepino para a própria Federação, que tenta se livrar dele para pagar suas dívidas. Além disso, a idéia enfrenta forte resistência de grande parte da torcida, que nem pensa em abandonar o Couto.
Assim, periodicamente surgem idéias e projetos para uma ampla reforma da casa coxa-branca. O mais recente foi apresentado pelo conselheiro Giovani Kassim. Para concluir o terceiro anel do estádio, ele prevê a reconstrução total das arquibancadas da Rua Mauá. As curvas e as cadeiras sociais seriam mantidas.
Vila e Arena têm problemas
A Vila Capanema e a Arena da Baixada também não escaparam do estudo do Sinaenco. Os estádios do Paraná e do Atlético, respectivamente, não apresentaram problemas que pudessem afetar suas estruturas, como verificados no Couto Pereira. Mas pecam em alguns detalhes que podem prejudicar o conforto e a segurança dos torcedores.
Na Vila, os principais defeitos apontados são placas e pilastras que dificultam a visibilidade do campo e a posição do banco de reservas, que fica colado ao alambrado. O Sinaenco também encontrou banheiros inacabados e instalações improvisadas para a imprensa.
A Arena foi apontada pelo estudo como um dos cinco melhores estádios do País, ao lado do Maracanã, Engenhão, Morumbi e Mangueirão. Mesmo assim, não ficou livre de críticas. A falta de visibilidade em alguns pontos do estádio foi destacada, assim como divisórias de vidro sem proteção nas pontas, que podem causar acidentes, e a água acumulada no fosso, que pode ser um foco de mosquitos transmissores de dengue.
A orientação invertida em relação ao eixo solar, que pode prejudicar a visibilidade de torcedores e atletas em jogos diurnos, é um defeito dos três estádios de Curitiba.
Parecer sobre superlotação
O Ministério Público adiou para hoje seu parecer sobre as denúncias de superlotação do Couto Pereira, no jogo entre Coritiba e Marília, no dia 16 de novembro. Na ocasião, 38.689 pessoas pagaram ingresso, enquanto a capacidade de público informada pelo Corpo de Bombeiros é de 35.759 torcedores.
O promotor João Henrique Vilela da Silveira, da Procuradoria de Defesa do Consumidor, pretendia resolver o problema ontem. ?Faltaram algumas informações importantes na documentação enviada pelos Bombeiros?, justificou, prometendo uma resposta para hoje.
Se ficar provada a superlotação, o Coxa pode perder pelo menos seis meses de mando de campo, segundo o Estatuto do Torcedor. A diretoria alviverde garante que o estádio está liberado para receber 38.743 pessoas, mas não mostra os laudos para a imprensa.
Avaliações periódicas
Para o Coritiba, os defeitos apontados pelo Sinaenco não colocam o torcedor em risco. O clube diz que faz avaliações periódicas do estádio e que a segurança do público foi atestada em diversas vistorias feitas pelos órgãos competentes, que liberaram o Couto Pereira para receber os jogos do Coxa.
A última dessas avaliações teria sido feita há cerca de dois meses, quando o clube implantou um novo sistema de prevenção e combate a incêndios. Ela teria sido comandada pelo engenheiro José Roberto Arruda, que é o diretor responsável pela manutenção do estádio. Segundo a assessoria de imprensa, ele está viajando e não poderia atender à reportagem.
Desde que o estádio foi concluído, em 1977, as arquibancadas nunca passaram por uma reforma estrutural. Apenas a cobertura das cadeiras sociais, que apresentavam sinais de infiltração e corrosão, sofreu uma reformulação, nos anos 80s. Outras mudanças, como a colocação de cadeiras, construção de novas lojas e instalação de elevadores, não alteraram a estrutura do Couto.
