Um Atletiba sem maiores incidentes. Foi assim que o subcomandante da operação Atletiba, capitão Dabul, definiu a primeira partida válida pela final do campeonato paranaense de 2004. “A operação foi um sucesso e de um modo geral, as torcidas se comportaram bem.”
Em contato direto com a Tribuna algumas horas após o jogo, o policial passou os números do jogo que realmente importam à Polícia Militar. Ao todo, foram cinco advertências – por embriaguez e brigas – e três encaminhamentos à delegacia. “Um torcedor agrediu um policial e outro foi pego em flagrante, tentando roubar um carro, aproveitando-se do fato de os demais torcedores estarem dentro do estádio, concentrados no jogo. Esse menor também estava com um tênis roubado”, disse o capitão.
O trabalho de prevenção, ao que parece, vem dando certo. No clássico de sábado, mais uma vez houve rigor na revista na entrada do estádio, a fim de evitar que algum torcedor entrasse com objetos que pudessem servir de arma ou em estado de embriaguez acima do normal. Aliás, esse continua sendo um grande problema em espetáculos de futebol. Muitos torcedores exageram na dose e acabam perdendo o melhor da festa.
Precavidos, os torcedores procuravam seguir as orientações do policiamento. O coxa-branca Luiz Godói, por exemplo, esperou chegar ao Couto Pereira para vestir a camisa da torcida organizada Império Alviverde. “É muito perigoso andar pela cidade com a camisa do clube em dia de clássico. É mais prudente vesti-la aqui”, disse.
Tão logo acabou o clássico, os policiais contiveram a torcida coxa-branca, que ficou comemorando a vitória por quinze minutos, até que a torcida atleticana já tivesse deixado o Couto Pereira. Com esse procedimento, a polícia conseguiu evitar conflito na saída do estádio. Entretanto, o trabalho seguiu noite adentro, com o patrulhamento da Rone empenhado nos principais terminais de ônibus, nos quais nenhum incidente grave foi regitrado.
Coxas acertam o “bolão”
Empolgados com a decisão, torcedores dos dois lados, arriscavam palpites antes do jogo – naturalmente, ninguém arriscava um empate. A dona-de-casa Edna de Souza, empolgadíssima, disparou. “Vai ser 4 a 0, para liquidar a fatura de uma vez. E vai ter gol do Aristizábal, para que ele se redima dos gols perdidos contra o Olímpia.”
Os amigos Pierre Alexandre Boulos e Carlos Gustavo Carvalho pensaram em um placar menos elástico. “Vai dar 3 a 1”, disse Pierre. “O Atlético não vai marcar. Vai ser 3 a 0”, afirmou Carlos. Entretanto, numa coisa os dois concordavam: Luís Mário deixaria o seu.
Os placares arriscados pelos coxas não foram reais, mas as apostas nos atacantes Aristizábal e Luís Mário foram perfeitas. Os dois foram os autores da vitória por 2 a 1.
A pequena Maryane Wielevisk Gomes, de nove anos, estava certa da vitória. “Vai ser no mínimo 3 a 0”. Torcedora desde que estava na barriga da mãe, lembrou de um craque do passado que gostaria de ver em campo: Marquinhos Cambalhota. Entretanto, com Aristizábal e Luís Mário em campo, a pequena Maryane não sentiu tanta falta assim do artilheiro do paranaense de 2000, também decidido em um Atletiba.
Os atleticanos também estavam otimistas antes da partida. “O Atlético merece vencer porque é o time mais regular. Mas aposto em 2 a1, porque o jogo é na casa deles”, disse Vanderlei Stica de Castro. O estudante Robson Schneider apostou na vitória por 2 a 0. “O Jádson e Marcão podem decidir.” Ele pouco pôde ver de Jádson, substituído. Mas teve a chance de ver a cobrança perfeita de lateral de Marcão, que encontrou a cabeça de Igor no gol rubro-negro.
Vexame dos seguranças
O Coritiba tinha tudo para produzir uma grande festa e cumprir na íntegra o Estatuto do Torcedor. Mas foi o próprio torcedor alviverde o mais prejudicado pela ausência de orientadores e falta de preparo dos seguranças. Já o ouvidor do clube só recebe as queixas dos torcedores no primeiro dia útil após a realização da partida.
Estava tudo bem até o deficiente físico Luciano dos Santos tentar entrar no estádio. Mesmo com o ingresso comprado e na mão, foi humilhado pelos seguranças porque tentava entrar pela porta especial, mas sem estar com cadeira de rodas. Uma funcionária do Coritiba chegou a gritar “tira ele daqui”.
Depois de muita discussão, gritaria e confusão, o torcedor conseguiu entrar. “Tem pessoas mal-informadas na bilheteria. A gente foi na entrada para ele e mandaram jogar a gente pra fora. Eu não estava querendo entrar de graça, eu só estava tentando resolver a situação dele”, desabafou Alessandro Antunes, amigo de Luciano. A história foi confirmado por Paulo Roberto dos Santos, irmão de Luciano. “Com educação, a gente pediu para ele entrar por um lugar mais seguro, enquanto a gente iria para a fila, que estava enorme”, ponderou. Após o bate-boca, Luciano conseguiu ter sua entrada liberada.
De acordo com Vinícius Coelho, ouvidor nos jogos, as reclamações feitas pelos torcedores no quiosque da ouvidoria são encaminhadas por ele para os setores responsáveis durante a semana. Pela lei, o próprio ouvidor deveria receber as queixas e tentar resolvê-las o mais rápido possível.
As demais exigências do Estatudo do Torcedor, o Coritiba cumpriu à risca. Lugares numerados, câmeras de monitoramento espalhadas pelo estádio, sanitários limpos, entre outros.