“Ser cortado da Copa de 2002 salvou a minha vida”, diz Emerson

Emerson sempre fez questão de ser discreto. Nos vários momentos importantes que viveu, fugiu da polêmica. Preferiu o silêncio. Mas o tempo foi passando e, aos 32 anos, o volante do Milan mudou. Está mais solto e deixa transparecer em público a coragem que sempre teve.

Em entrevista exclusiva à reportagem, fez várias revelações e reclamou muito do tratamento que a CBF dá para Kaká. "O Kaká, melhor jogador do mundo, enfrentou toda a diretoria do Milan para tentar jogar a Olimpíada. Teve de chegar um diretor e falar ?não adianta que não vamos deixar?. Eu estava junto e vi como ele ficou decepcionado. Ele tinha de ser respeitado pela CBF".

AGÊNCIA ESTADO – O que sobrou da Copa de 2006?

EMERSON – Uma tristeza pelo desperdício. Nós tínhamos uma seleção muito forte. Não treinamos com a seriedade que deveríamos. Na Suíça, com público de 15 mil pessoas, não ouvíamos o que o Parreira falava. Ficávamos constrangidos de perguntar de novo e também teve o pecado mortal.

AE – Qual foi?

EMERSON – Acreditarmos na história de que éramos os melhores disparados. Isso subiu na cabeça de todos. Foi fatal. Fatal.

AE – O Cafu disse que se sentiu como um marginal. As pessoas olhavam para ele com desprezo pela perda da Copa do Mundo.

EMERSON – Grande absurdo. Se o Cafu fosse inglês teria uma estátua no lugar mais importante da Inglaterra. Houve muita injustiça com ele, Roberto Carlos. Enfim, o povo brasileiro não estava preparado para perder a Copa.

AE – E você foi perseguido também?

EMERSON – Não. Eu fiquei muito tempo na Europa com a minha filha Deixei a poeira baixar. Ficou um gosto ruim na boca. Dava para ganhar.

AE – O destino o atrapalhou a ganhar uma Copa? O que aconteceu em 2002 foi incrível…

EMERSON – É verdade. Eu seria o capitão da seleção do Felipão. Fui jogar no gol perto da estréia e acabei com uma bela contusão no ombro. Fui cortado. Mas eu vou falar o que nunca disse para ninguém. Ser cortado salvou a minha vida. Ela mudou. E foi para muito melhor.

AE – Como assim?

EMERSON – Nem sei se deveria falar. Mas vou dizer assim mesmo. Eu era muito infeliz no casamento. Tinha certeza que se o Brasil fosse campeão eu iria arrastá-lo pela vida inteira. Quando eu fui cortado resolvi fazer um balanço sério da minha vida. A primeira coisa que fiz foi acabar com o meu casamento. A partir daí, só tive coisa boa. Continuo solteiro até hoje.

AE – Você viveu momentos tumultuados no Real Madrid. A sua ligação com o Capello acabou te marcando de uma maneira negativa?

EMERSON – Essa é uma das grandes injustiças. O Capello é um dos melhores treinadores do mundo. Ele gosta do meu estilo de jogar e me levou da Juventus para o Real Madrid. Quando cheguei, senti toda a inveja dos outros jogadores que me consideravam o queridinho do Capello. O ambiente do Real era péssimo. As pessoas não têm idéia do que era aquilo.

AE – Era vaidade?

EMERSON – Você tocou na palavra certa: vaidade. Os jogadores pegavam os jornais depois de todas as partidas e ficavam comparando quem tirava a menor nota. Os piores eram ridicularizados. Com um clima desses, não adianta montar uma seleção mundial que as conquistas não vêm.

AE – O Milan decepcionou nesta temporada. Foi quinto no Italiano e não se classificou para a Champions League (Copa dos Campeões). O que aconteceu?

EMERSON – O clube queria tanto a Champions que descuidou do Italiano. A desclassificação para o Arsenal acabou pesando. O Kaká colaborou demais. Jogou com dores terríveis por dois meses. Precisava ser operado, mas não podia sair do time.

AE – Você é muito ligado ao Luxemburgo. Quando acabar seu contrato em 2009 vai voltar para jogar no Palmeiras com ele?

EMERSON – Não vou negar nunca a influência do Vanderlei na minha carreira. Eu era um meia avançado. Ele me colocou como volante e mudou a minha vida. Passei a ser jogador de seleção e de grandes times da Europa. Mas tenho um grande amor ao Grêmio. Não sei se voltarei a jogar em um time brasileiro que não seja o Grêmio.

AE – E vai criar a fundação Emerson para ajudar crianças carentes?

EMERSON – É um projeto que tenho. Preciso retribuir um pouco de tudo de bom que recebi na vida. Será em Pelotas, onde nasci.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo