“Trabalho” é a palavra mais usada por atletas e treinadores como solução para momentos de crise. Mas se a atividade for excessiva, o tiro pode sair pela culatra e até piorar o desempenho esportivo, além de causar outros males como osteoporose, anorexia e até perda de fertilidade.
A sobrecarga de exercícios e o limite do corpo humano são os temas que norteiam um seminário de cardiologia que acontece entre hoje e amanhã no Hospital Cardiológico Costantini, em Curitiba.
Para Turíbio Leite Barros Neto, professor de fisiologia do Esporte, fisiologista do São Paulo e pioneiro da atividade no meio do futebol brasileiro, a nova ciência da recuperação não acompanhou a evolução que teve o treinamento esportivo nas últimas duas décadas.
“Qualquer preparador físico está capacitado para aplicar um bom programa de treinos. Mas ainda há quadros de muito treinamento com recuperação deficiente”, diz o fisiologista, que está Curitiba para falar sobre o tema no seminário.
Para piorar, a exigência cada vez maior por resultados imediatos no esporte ajuda a desprezar o cuidado com o corpo em médio e longo prazo. E a estafa não costuma ser levada em conta na elaboração de calendários, especialmente no futebol.
Se o corpo não tem o descanso necessário, os efeitos podem ser cruéis em longo prazo. A literatura médica já criou a expressão “tríade da mulher atleta” para descrever esses sintomas: distúrbios no sono, perda de apetite e alteração no ciclo menstrual.
Além disso, há risco de osteoporose (fragilidade dos ossos pela perda de nutrientes). “Há casos até de suspensão da menstruação. Ou seja, a mulher deixa de ovular, com prejuízo para a fertilidade”, disse Turíbio.
E a mesma lei vale para os homens com o complicador de que não há um marcador visível para detectar problemas como o ciclo menstrual. Há casos de atletas homens que se tornam inférteis pela perda da produção de esperma.
“O transtorno também se verifica em não-atletas. Alguns casais que não conseguem engravidar quando o homem ou a mulher faz exercício em demasia”, afirma Turíbio.
Pouco a pouco, a fisiologia passou a acompanhar o futebol. O próprio Turíbio foi o primeiro profissional do setor, nos anos 80, no São Paulo. Hoje, todos os clubes de ponta do País têm ao menos um fisiologista. E os técnicos passaram a trabalhar em conjunto com a ciência. “Felizmente os técnicos hoje entendem a necessidade de poupar jogadores”, diz o médico.