São Paulo – O Brasil vai ficar fora do Pan-Americano Juvenil de Ginástica Artística, de 12 a 16 de outubro, em El Salvador. A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) informou que não tem recursos para pagar a viagem dos oito ginastas, quatro técnicos e dois árbitros qualificados para a competição. O dinheiro proveniente da Lei Piva foi gasto com a seleção permanente, segundo justificou a CBG o que, no entanto, não serve de consolo para os clubes e os ginastas que estavam se preparando para a competição.
Entre os ginastas que não vão ao Pan estão Diego Hypólito, de 18 anos, e Jade Barbosa, de 13, que recentemente mostrou ser capaz de repetir o duplo twist carpado de Daiane dos Santos.
“No Congresso Técnico do Campeonato Brasileiro Infantil logo após a seletiva para o Pan (dia 23, em Barretos) a representante da CBG comunicou que não haverá recursos. Os clubes de São Paulo ficaram indignados. Não sei como foram gastos os recursos de R$ 1,440 milhão da Lei Piva porque nunca fomos consultados”, afirma a presidente da Federação Paulista de Ginástica, Clarice Morales.
A dirigente conta que recebeu, no dia 29 de julho, o formulário para a inscrição na seletiva e juntamente uma circular da CBG dizendo que os clubes deveriam se inscrever e pagar para ir a Barretos, que até aquele momento não haviam recursos para a competição.
Os clubes envolvidos, que têm atletas classificados – Flamengo, Serc/São Caetano, São Paulo/Guaru e AABB – dizem que ficaram sabendo em Barretos que não haveria dinheiro para a viagem. “Nessa seletiva, a CBG comunicou que não tem verba para bancar o custo de cerca de R$ 4 mil por atleta”, confirma Ana Paula Luck, coordenadora do Departamento de Ginástica do Flamengo. Estão classificados pelo clube os ginastas Diego Hypólito, de 18 anos, Victor Rosas, 18, Jade Barbosa, 13, e Thais Cevada, 15, mais os técnicos Viviane Cardoso e Renato Araújo.
O Flamengo afirma que tentará obter um patrocínio, mas sabe que o prazo até o Pan é pequeno. Ana Paula observa que Jade e Thaís já dependeram dos pais para ir à seletiva, cada uma gastou R$ 300,00 e nenhum dos ginastas nem os técnicos têm condições de pagar pela viagem a El Salvador.
O técnico Robson Caballero, que prepara o ginasta Caio Américo Costa, de 17 anos, disse que a AABB ainda estuda o assunto, mas entende que seria uma grande frustração para o garoto não ir ao Pan. “É a primeira vez que ele estava indo para a seleção.” Ele próprio, convocado para ir como árbitro, não pode pagar as despesas com a viagem. “Eu só iria se a CBG pagasse.”
Marcos Suzarte, da Serc/São Caetano, é técnico de Luiz Augusto Lorini dos Anjos, de 17 anos, e afirma que a entidade não pode pagar por uma viagem em que os atletas vão defender o Brasil. “Defender o clube é uma situação e viajar para representar o País é outra. O Luiz treinou para ir ao Pan toda a temporada, vai ser uma frustração muito grande ficar. Podemos até entender, mas isso não impede a frustração.”
Até ontem, Ulisses Francisco Pinto, da Divisão Técnica da Secretaria de Esportes de Guarulhos, achava que o assunto ainda não está resolvido. Entendia que a resposta da CBG não era definitiva e que a entidade estava trabalhando para levar os ginastas ao Pan.
“Estamos saindo de uma Olimpíada, onde a ginástica brasileira foi valorizada e agora a CBG não tem recursos? A confederação teria de bancar essa viagem. O Comitê Olímpico Brasileiro poderia ajudar.” Ulisses disse que pretende protestar em nome do São Paulo/Guaru caso fique confirmado que a CBG não pagará para o Brasil ir ao Pan Juvenil. “Tem de ter planejamento.”
Verba foi gasta com olímpicos
A coordenadora de seleções da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), Eliane Martins, disse ontem que todas as federações foram informadas em 28 de julho das dificuldades de se ter verba para cobrir as despesas com o Pan-Americano Juvenil, que será realizado em El Salvador, entre 12 e 17 de outubro. Os recursos recebidos pela CBG, por meio do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), provenientes da Lei Piva, foram gastos na preparação da seleção permanente. “Esgotamos a verba do ano”, afirmou Eliane.
Segundo ela, eventos como o pan normalmente são cobertos pelo Ministério dos Esportes. Por isso, no começo de julho a CBG fizera pedido de verbas, recebendo a resposta de que não havia recursos disponíveis. “Foi enviada uma circular para todas as federações dizendo que, até aquele momento, não tinha verba”, acentuou. “Desde julho estava todo mundo sabendo.”
Posteriormente, quando foi marcada a seletiva, que selecionaria um atleta masculino e quatro femininas, a coordenadora disse que novamente houve contato com o ministério, que reiterou não ter recursos para esse evento. “Todos que se inscreveram estavam cientes”, repetiu Eliane.
Segundo ela, a CBG vai dar os uniformes aos atletas juvenis e pagar o seguro saúde e as passagens e estadias dos árbitros utilizando recursos dos patrocínios que possui.
Segundo ela, o restante está comprometido. Apesar de os recursos da Coca-Cola e da Brasil Telecom serem exclusivos para a seleção feminina de ginástica olímpica, a CBG vai utilizá-los para garantir a disputa das etapas da Copa do Mundo para os atletas que têm chances de classificação, entre eles o ainda juvenil Diego Hypólito.