Jô não bebe há dois anos e sete meses. A contagem é importante, pois ele quase afundou a carreira no álcool. Em 2012, foi dispensado do Internacional depois de não se apresentar para um jogo na Copa Libertadores. Ressaca. Três anos depois, recebeu o cartão azul do Atlético Mineiro por ser o parceiro de Ronaldinho Gaúcho nas baladas que varavam a noite.
A volta por cima veio com a religião, dois anos atrás. O artilheiro virou evangélico e frequenta a Igreja Universal do Reino de Deus. Por causa dos jogos e treinos, ele não vai a todos os cultos. De vez em quando, aparece na igreja, que fica na avenida Azevedo Soares, na zona leste de São Paulo. Tem um convite para conhecer o Templo de Salomão, referência da Universal na capital paulista, para dar seu depoimento. Compensa a baixa frequência com disciplina. O samba ficou para trás. A família jura que os palavrões também.
Jô decidiu mudar quando sua vida estava descambando. Entre 2011 e 2012, teve uma passagem ruim pelo Internacional. A gota dágua foi a partida diante do The Strongest, da Bolívia, quando não apareceu para viajar depois de uma noite de bebedeira. Quando viu a notícia na tevê, dona Tânia, sua mãe, empregada doméstica e pernambucana arretada, saiu de São Paulo e foi a Porto Alegre. Chegou a tempo de encerrar a festa, quando o sol já estava alto. Os vizinhos contam que muita gente saiu do apartamento sem se vestir direito.
Mesmo com a fama de baladeiro, o Atlético Mineiro decidiu dar uma chance ao atacante espigado e especialista no jogo aéreo. Foi campeão da Libertadores em 2013, mas reincidente nas estripulias. A parceria com Ronaldinho Gaúcho dentro de campo se estendia às baladas. Em novembro de 2014, foi afastado por indisciplina. Relatos extraoficiais apontam que teriam levado mulheres para concentração da equipe em Curitiba. Foi o segundo sumiço em três meses. Disse aos dirigentes que não conseguia superar a separação da mulher, Claudia Silva. Não colou e ele foi dispensado. De novo.
A família tinha medo de que se tornasse um novo Adriano, outro atacante que confessou problemas com o alcoolismo e parou de jogar. “O Jô não gastou o dinheiro todo na balada. Ficou deslumbrado quando voltou da Europa, mas foi só por um ou dois anos”, minimizou o pai, o ex-taxista Dario de Assis Silva, que ia a todos os treinamentos do filho quando ele subiu no Corinthians.
A passagem de Jô pela Europa merece registro positivo. Rodou por CSKA Moscou, Manchester City, Everton e Galatasaray. O auge foi na Rússia com 69 gols em 83 jogos entre 2005 e 2008. Foi na volta ao Brasil que perdeu o prumo. O atacante de 30 anos fala abertamente sobre o álcool, tabu para os boleiros. “Foi um processo bem longo e complicado. Você passa por várias situações e tem de provar a cada dia o que quer se tornar. Só eu sei o que passei, quantas vezes chorei sozinho, mas consegui superar tudo isso e hoje posso dar alegria para a minha família e ao Corinthians”.
A tríade para sua redenção é formada, além da família e da religião, pela mulher Claudia. Eles se conheceram na Rússia, quando ela fez um show como passista da Salgueiro, e estão juntos há 11 anos. Claudia conta que previu o gol da vitória sobre o Palmeiras, em fevereiro. Foi ali que Jô mostrou que a sua volta por cima também havia entrado em campo.
O Paulistão fecha círculo na vida do atacante criado no terrão, apelido da base do clube. Jô foi o mais jovem a atuar no profissional do Corinthians, com 16 anos, 3 meses e 29 dias. Outra marca que não esquece.