São Paulo – O jogo servia apenas para que o patrocinador pudesse ganhar algum dinheiro. O adversário era o de pior ranking da história da CBF, mas mesmo assim, os jogadores da seleção brasileira fizeram a sua parte. Contratados para dar espetáculo, retribuiram à altura e golearam Hong Kong por 7 a 1 na manhã desta quarta-feira de Cinzas, sem fazer grandes esforços. Como o sistema de marcação do adversário era praticamente inexistente, Ronaldinho Gaúcho e Robinho, em especial, aproveitaram para esbanjar virtuosismo.

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Além da cota de U$ 1 milhão paga pela Federação de Futebol de Hong Kong à patrocinadora da seleção, o primeiro jogo do ano serviu também para que Parreira observasse o comportamento de Robinho. Beneficiado pelas ausências de Ronaldo e Adriano, o jogador do Santos não se importou com a fragilidade do adversário e jogou para ganhar seu lugar no time. Pela primeira vez iniciando uma partida como titular, ele correu, deu passes de calcanhar, abusou dos dribles e marcou dois gols – um deles, no primeiro tempo, anulado por impedimento. Assim, deixou o campo como um dos principais destaques.

A goleada

A equipe brasileira jogava como queria e os gols não demoraram a aparecer. O zagueiro Lúcio abriu a contagem aos 20 minutos do primeiro tempo, com um gol de cabeça, após cruzamento de Robinho. Dez minutos depois, Roberto Carlos ampliou para 2 a 0, num chute de longa distância. Ricardo Oliveira fez 3 a 0 aos 46, num chute por cobertura.

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O passeio continuou no segundo tempo. Logo aos 4 minutos, Ronaldinho Gaúcho tabela com Robinho e toca por cobertura na saída do goleiro para fazer 4 a 0. Ricardo Oliveira fez o quinto ( o segundo seu) aos 12, desviando um cruzamento de Juninho Pernambucano. Robinho fez o seu aos 32, de cabeça, e Alex marcou o sétimo numa cobrança de pênalti, dois minutos depois. Já próximo do final, na segunda finalização em todo o jogo, Hong Kong fez o seu gol de honra, com Lee Zse Ming. Com esse golzinho no final, todo mundo saiu do Hong Kong Stadium satisfeito.

Hong Kong: Fan Chun Yip (Xiao Go Ji); Feng Ji Zhi, Lee Wai Man, Man Pei Tak e Wong Chun Yue (Lee Sze Ming); Szeto Man Chun, Lau Chi Keung, Law Chun Bong (Chu Kei) e Poon Yiu Cheuk; Au Wai Lun e Cheung Sai Ho. Técnicos: Lai Sun Cheung e Tsang Wai Chung.

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Brasil: Júlio César; Cafu (Belletti), Lúcio, Juan e Roberto Carlos (Gilberto); Emerson, Juninho Pernambucano (Elano), Zé Roberto (Renato) e Ronaldinho Gaúcho (Alex); Robinho e Ricardo Oliveira (Júlio Baptista). Técnico: Carlos Alberto Parreira.

Robinho passa no vestibular de Parreira

Hong Kong – O sistema de som do Hong Kong Stadium anunciou, um pouco antes do início do amistoso em que o Brasil goleou Hong Kong por 7 a 1, o nome de todos os jogadores que entrariam em campo. Ronaldinho Gaúcho foi aplaudidíssimo, o mesmo ocorreu com Roberto Carlos. Robinho passou completamente despercebido – ninguém o conhecia. Alguns minutos mais tarde, no entanto, ganhou a simpatia e o respeito do público, com belas jogadas, dribles bonitos, passes precisos e um gol. Deixou de ser anônimo. O reconhecimento mais importante chegaria após o confronto.

Carlos Alberto Parreira aprovou sua atuação e deixou a porta da seleção aberta para seu retorno. Mesmo levando em conta a fragilidade do adversário.

Robinho realmente foi bem nos aspectos táticos e técnicos e, assim, praticamente garantiu um lugar no grupo para as próximas convocações.

Deverá estar na lista dos chamados para os jogos contra Peru, no dia 27 de março, e Uruguai, dia 30, ambos pelas eliminatórias, e cada vez mais vê seu sonho de ir à Copa do Mundo de 2006 se aproximar.

"O Robinho tem talento e precisa jogar, ganhar experiência", analisou Parreira. "Ele tem marcado mais gols pelo Santos, fez um ótimo campeonato brasileiro, está crescendo", complementou. O técnico brasileiro, que o convocou pela primeira vez há pouco menos de dois anos, para um amistoso contra o México, em Guadalajara, acha que sua evolução é clara, o poder de finalização melhorou, mas faz questão de dizer que ainda espera algumas mudanças. "Ele precisava de mais corpo e está ganhando massa muscular, acho que tem de estar mais presente na área, pode ainda crescer."

Parreira confia bastante em seu futebol e acredita que pode ajudar o jogador a atingir nível ainda superior em relação ao atual. Com um pouco mais de experiência, o santista de 21 anos passará a brigar por uma vaga de titular. Por enquanto, será convocado para a reserva. A concorrência é grande. Ronaldo e Kaká retornarão na próxima partida, assim como Adriano, da Internazionale de Milão, que deverá ficar no banco contra o Peru.

Como não poderia deixar de ser, Robinho deixou o campo satisfeito, distribuindo sorrisos, cumprimentando os adversários. "Fico feliz por ter ajudado a seleção e espero continuar nessa boa fase." O atacante ganhou elogios dos colegas, principalmente de Ronaldinho Gaúcho, com quem fez algumas bonitas tabelas. Para quem vestiu a camisa titular da seleção pela primeira vez, Robinho esbanjou tranqüilidade.

Logo no começo do amistoso, fez boa jogada, mas errou o chute. Um pouco depois, marcou um gol, que acabou sendo anulado – estava impedido. O primeiro gol, esse validado pela arbitragem, saiu de seus pés. Fez cruzamento perfeito para Lúcio abrir o placar. Um pouco antes do intervalo, desperdiçou excelente oportunidade. De dentro da pequena área, arrematou para fora.

Sua ansiedade por marcar um gol e dar mais brilho à atuação ficava clara no modo como jogava. Esse aspecto talvez o tenha prejudicado um pouco. De qualquer maneira, o objetivo acabou sendo alcançado. Após cruzamento de Júlio Baptista, completou de cabeça. Foi o sexto e penúltimo gol da seleção brasileira contra a quase amadora equipe de Hong Kong.

Marcação garante Emerson como titular

Hong Kong – Quem tem mais motivos para comemorar os 7 a 1 sobre a seleção de Hong Kong é o volante Emerson, que reestreou na equipe brasileira depois de cerca de 15 meses de ausência. A força na marcação no meio-de-campo no amistoso de ontem rendeu ao atleta rasgados elogios de Carlos Alberto Parreira e a condição de titular para os próximos jogos.

O treinador, que costuma ser contido nas declarações e procura manter reservadas suas decisões, não deu voltas para dizer à imprensa que Emerson tem posição garantida entre os 11 que iniciarão os jogos contra Peru, no dia 27, e Uruguai, no dia 30, pelas eliminatórias. Gostou tanto de seu desempenho que já lhe deu a tarja de capitão no segundo tempo da partida diante de Hong Kong, assim que Cafu, o capitão, deixou o campo para a entrada de Belletti.

"O Emerson jogou bem, sua presença física em campo é importante", analisou Parreira. "O time ganha força na marcação, volume de jogo e você consegue liberar os dois laterais", acrescentou.

"É preciso ser homem para encarar um jogo em Montevidéu e o Emerson é forte, pesado." Emerson foi avisado pelos jornalistas de que se tornou titular do time após a boa atuação diante do frágil time de Hong Kong. Satisfeito, declarou estar vivendo bom momento na carreira e afirmou que, agora, espera manter o nível para seguir em alta com Parreira.

O jogador da Juventus, de Turim, foi bastante questionado pelos repórteres sobre as críticas pesadas que recebe da imprensa brasileira, mas fez questão de usar a diplomacia para abordar o tema. "Paciência, o que eu vou fazer? Não vai mudar nada, se eu ficar irritado, mas acho que as críticas deveriam ser construtivas."

Muita gente é contra sua convocação por considerá-lo um volante brucutu e não técnico. Na Europa, contudo, seu conceito é bastante elevado.

Outro que saiu de Hong Kong em alta foi Ricardo Oliveira, do Bétis. O atacante teve bom desempenho e marcou dois gols, mas dificilmente será convocado para os próximos jogos. Luís Fabiano, que não foi liberado pelo Porto para participar do amistoso, começa a ficar sem nenhum espaço na seleção.