Suwon, Coréia do Sul (AE) – A seleção brasileira entra em campo na madrugada de amanhã (3h30, horário de Brasília) em Suwon, para a partida contra a Costa Rica, com um espírito que pouco lembra uma copa do mundo. Já classificado para as oitavas-de-final, o técnico Luiz Felipe Scolari resolveu fazer novas experiências e pela terceira vez em três jogos, põe em campo um time diferente.
Contrariando a tese de que um time só ganha entrosamento se for mantido numa seqüência de jogos, o técnico decidiu “poupar” alguns titulares. Além disso, entendeu que deveria realizar mudanças de ordem tática na equipe, mesmo estando às portas da fase decisiva.
A grande novidade do time que enfrenta a Costa Rica no jogo da madrugada é o atacante Edílson. O jogador do Cruzeiro ganhou a vaga aberta com a ausência de Ronaldinho Gaúcho – “poupado” por estar pendurado com um cartão amarelo – nos minutos finais do treino desta terça-feira. Até então, Ricardinho estava praticamente confirmado como titular.
A decisão provocou surpresa até mesmo para Edílson. “O Felipão não me disse nada. Estou sabendo agora por vocês”, disse o atacante, quando deixava o restaurante e ia para o elevador junto de outros companheiros. Scolari havia anunciado um pouco antes para imprensa que seria ele, e não Ricardinho, que entraria na equipe.
A justificativa para a mudança, de acordo com o treinador, seria a necessidade de o time jogar mais pelo lado direito. Os costarriquenhos, revelaram vídeos estudados pela comissão técnica, abusam das jogadas pela esquerda, o que deixaria mais espaços naquele setor. Assim, Rivaldo, que até então era o companheiro de Ronaldo no ataque, vai ser deslocado para o meio-campo.
Para quem apostava em Ricardinho para fazer o papel de armador pela esquerda, ficou o desapontamento. “Como eu sempre digo, temos um grupo de 23 jogadores. E vai continuar sendo assim”, afirmou Scolari.
Outras mudanças vão acontecer na defesa. Depois de uma estréia ruim, Edmílson volta à zaga no lugar de Roque Junior, outro “pendurado” com um cartão amarelo. Edmílson havia jogado a estréia contra a Turquia, mas foi tão mal que acabou sendo sacado. Anderson Polga entrou no jogo seguinte, contra a China.
No caso dos cartões, há uma justificativa. Os jogadores que terminarem a primeira etapa com apenas um cartão, entram na fase seguinte “zerados”. No entanto, se sofrerem a segunda advertência, terão necessariamente de cumprir suspensão automática no jogo válido pelas oitavas-de-final.
A terceira mudança vai se dar por ordem médica. Roberto Carlos, reclama de dores musculares e será poupado. Deverá dar lugar a Junior. O treinador garante que Roberto Carlos tem condição de jogar, mas preferiu não arriscar. “Embora a equipe médica tenha dito que o risco (de lesão) é zero, optamos por deixá-lo fora, se recuperando para o próximo jogo”, explicou. Na próxima fase, oitavas-de-final, o Brasil vai enfrentar o segundo colocado do Grupo H, provavelmente Rússia ou Bélgica.
Júnior, à “sombra” do titular
Ulsan
– A sina de Júnior tem sido a de substituir Roberto Carlos. Primeiro, no Palmeiras, a partir de 1995 até o ano passado. Agora, na seleção. O lateral-esquerdo titular deve ser poupado no jogo com a Costa Rica, por fadiga muscular, e isso abriria espaço para a entrada do atleta do Parma. A alteração é quase certa, mas Felipão leva o mistério até a hora da partida. “Para mim, não haverá dificuldade alguma de entrar”, admitiu ontem Júnior, confirmado na seleção na arrancada final de preparação, depois de aprovar em amistosos. “Estou integrado ao grupo, sei o que o treinador quer de mim e acima de tudo estou me sentindo bem”, garantiu, depois de participar do time principal no coletivo na concentração de Ulsan.Júnior é um dos atletas de confiança de Felipão, com quem trabalhou no Palmeiras por várias temporadas. No início, não fez parte das listas de convocação, mas ganhou a preferência no fim, por ser aplicado. Calado, introvertido, em geral passa despercebido no grupo. Mas cumpre as funções que lhe são determinadas. “Ter o respaldo do técnico é tudo”, intui.
Também não o incomoda o fato de ser a “sombra” de Roberto Carlos. Ele o substituiu no Palmeiras no meio do ano de 95, quando a Internazionale de Milão comprou seu passe da Parmalat. No time paulista, ganhou o torneio regional de 96, a Copa do Brasil de 98, a Mercosul de 99, a Libertadores da América de 99, o Rio-São Paulo de 2000. “Foi uma fase boa”, constata.
Roberto Carlos, no entanto, não entrega os pontos. O titular da seleção desde a Copa de 98 se recuperou de dores musculares, treinou nesta terça-feira e admitiu que preferia continuar no time. “É só o treinador pedir que eu entro, sem problemas”, avisou, confiante. “Numa hora dessas todo mundo quer jogar. E comigo não é diferente”, observou. “Mas aceito o que for determinado”, foi a tradicional saída diplomática.
Edílson se diz surpreso
Edmundo Leite
Ulsan
(AE) – O atacante Edílson é sempre um dos que passam com tranqüilidade pelo salão do segundo andar do hotel onde a seleção brasileira está concentrada. As atenções sempre estão voltadas para astros, como Ronaldo, Rivaldo e Roberto Carlos, que em algumas ocasiões até evitam transitar pelo local onde os repórteres costumam se reúnem. Ontem à noite (manhã no Brasil) foi diferente.Depois do jantar, o jogador do Cruzeiro foi o centro das atenções, por causa da repentina escalação no time titular que enfrentará a Costa Rica. “O Felipão não me disse nada. Estou sabendo agora por vocês”, disse o atacante, quando deixava o restaurante e ia para o elevador junto de outros companheiros.
Scolari havia anunciado um pouco antes para imprensa que seria ele, e não Ricardinho, que iria entrar na equipe. “O importante é entrar para ajudar o time. Nós trabalhamos para estar sempre pronto quando precisar”. Edílson está consciente que a vaga não é definitiva e que foi escalado em função do adversário, como definiu Scolari.
Pelé sugere Kaká a Felipão
São Paulo
(AE) – Pelé disse ontem que o técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, deveria aproveitar o jogo contra a Costa Rica e dar a Kaká a mesma oportunidade que ele teve em 1958, mas com pressão muito menor. “Fizeram a experiência comigo”, disse. “Por que não fazer com o Kaká?” Na Copa da Suécia, Pelé entrou no jogo contra o País de Gales numa situação oposta à da partida de amanhã. Se o Brasil perdesse estaria fora. A situação agora é mais cômoda, já que a seleção decide apenas a liderança do grupo.Durante a entrevista coletiva que concedeu ontem no Hospital do Coração, onde se recuperava de uma crise alérgica, Pelé fez elogios a Cafu, Roberto Carlos e Lúcio e atribuiu à falta de treinos a dificuldade para o time se adaptar ao esquema com três zagueiros. “Nossa escola nunca foi de três zagueiros”, disse.