Quando todos acham que o fundo do poço chegou, cava-se ainda mais. O pensamento, já bem conhecido, reflete com fidelidade a bagunça que marca os bastidores do futebol brasileiro nos últimos – e muitos – anos. O mais recente exemplo é a briga que a Rede Globo e o SBT protagonizam na Justiça pelo direito de transmissão do campeonato paulista. Mas se engana quem pensa que a situação está próxima de uma solução. Com a proximidade do campeonato brasileiro, que começa em março, o imbróglio, ao que tudo indica, está apenas no começo.
E explicações para justificar tal linha de raciocínio não faltam. A principal delas, defendida por alguns dirigentes dos mais tradicionais clubes do País, atesta que a Globo perdeu o passo na negociação a respeito do brasileirão. Em outras palavras, demorou para definir o contrato para a transmissão da atual temporada e agora se vê diante da possibilidade, até pouco tempo atrás impensável, de perdê-la. “A negociação vem se arrastando desde a metade do brasileiro do ano passado”, conta uma pessoa que participa das conversas, mas não quer ser identificada. “Agora, os clubes não estão com pressa para concluir o acordo, já que o dinheiro da TV deixou de ser imprescindível.”
Deixou de ser imprescindível? Como explicar isso se até há pouco tempo implorava-se pelas cotas? Simples! Hoje, os clubes estão divididos em dois grupos distintos. O primeiro, que conta com a maioria, é formado por aqueles que têm dívidas gigantescas, quase impagáveis, representados, entre outros, pelos “grandes” do Rio: Flamengo, Vasco e Botafogo. Do outro lado estão as agremiações que, com esforço, conseguiram reduzir seus gastos com o futebol e adaptá-los à realidade financeira, caso de Corinthians, São Paulo e Cruzeiro. “De um lado estão aqueles que devem tanto que esse dinheiro, embora muito bem-vindo, não é solução para o problema, tamanho o rombo dos cofres. Já os que conseguiram se ajustar são capazes de se manter mesmo sem esse dinheiro. Então, para que pressa em definir a negociação? Vamos aguardar a melhor oferta.”
Faca e o queijo
Sem pressa, os dirigentes apostam no desespero da emissora carioca. Além da concorrência paulista – a rede de Sílvio Santos já ofereceu R$ 200 milhões, diante de R$ 140 milhões da concorrente -, a Globo está em uma verdadeira saia-justa, pois já vendeu parte de suas cotas de patrocínio do Brasileirão. O que dizer aos anunciantes se perder os direitos de transmissão?
Contra o SBT pesa a instabilidade de seu proprietário. “Tem sempre o risco de o Sílvio Santos se cansar de tudo isso e resolver trocar o futebol pelo Show de Calouros!”, observa um dirigente.
Nem o esforço para ser diplomático conseguiu fazer o presidente do Clube do 13, Fábio Koff, esconder a satisfação pela “batalha” entre as TVs. “Por um lado é ruim, porque abala a credibilidade do produto futebol diante dos potenciais investidores. Essas pessoas precisam ter confiança naquilo em que depositam seu dinheiro”, afirma o cartola. “Por outro, a concorrência é sempre bem-vinda. Vamos torcer para que tudo seja resolvido o mais rapidamente possível.”