Dona do primeiro ouro olímpico do judô feminino, Sarah Menezes passou pelos Jogos do Rio-2016 sem brilho e deu por encerrada a sua trajetória na categoria ligeiro (até 48 kg), na qual alcançou projeção mundial. Após uma semana de treinamento em Pindamonhangaba (SP), a judoca está pronta para recomeçar na meio-leve (até 52 kg). “Vejo um recomeço positivo, vai ser um aprendizado. É um desafio bem grande, estou motivada a pontuar nessa nova categoria e a me sentir bem durante esse período”, afirmou.

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À medida que a judoca ficou mais velha, enxugar 6 kg deixou de ser uma tarefa fácil e a briga com a balança endureceu. O sacrifício de Sarah, que costuma pesar até 54 kg fora de competição, foi determinante para a mudança. “Ela passou três ciclos olímpicos na mesma categoria, começou na seleção uma menina e se tornou uma mulher. Além da questão do peso, ela quer novas experiências”, justificou Rosicleia Campos, treinadora da seleção feminina.

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A transição requer tempo e paciência e, para a comissão técnica, é um caminho sem volta no caso da medalhista olímpica. “É sem retorno. Ela já vinha com dificuldade de perder peso, não tem a menor condição física de lutar mais na faixa dos 48 kg”, enfatizou Rosicleia Campos.

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Sarah Menezes, entretanto, discorda da opinião da treinadora. “É um ano de adaptação, eu vou testar e, se eu não me sentir bem, posso voltar. Vai depender de mim, não dos técnicos. Vai depender de como eu vou me comportar com o peso, isso é que vai dizer em qual categoria eu vou ficar”, afirmou.

Acostumado a se reinventar no tatame, Tiago Camilo tem duas medalhas olímpicas em categorias diferentes. Para o judoca de 34 anos, é preciso aceitar a transformação com naturalidade. “Acredito que tenha sido uma decisão acertada, agora é se adaptar e encarar como algo normal”, aconselhou o colega.

A atleta do Piauí prefere não se aprofundar nas discrepâncias entre as faixas de peso antes de participar de sua primeira competição oficial, mas já adianta que deve sentir diferença na força empregada por suas oponentes. Segundo Rosicleia Campos, a judoca precisará fazer ajustes nas questões técnicas e táticas. “As atletas da categoria até 52 kg são mais altas, mais longilíneas, têm uma envergadura maior e o ombro fica mais longe, diferentemente das atletas do ligeiro, que são menores, mais rápidas e explosivas”, disse.

O primeiro teste da brasileira será no Aberto Europeu de Sofia, na Bulgária, no dia 4 de fevereiro. A competição servirá como preparação para o Grand Slam de Paris. Sarah Menezes fará companhia a Érika Miranda e também na categoria meio-leve.

“Sarah é uma campeã olímpica, o nível da categoria 52 kg vai aumentar ainda mais, vai ter uma disputa muito saudável. O judô brasileiro é quem ganha”, projetou Érika Miranda, que vê a concorrência interna como estímulo. Neste ano, o foco é o Mundial de Budapeste, na Hungria, em setembro. As compatriotas esperam estar lado a lado, já que a competição permite duas judocas na mesma categoria.

CATEGORIA 48 KG – A transição de Sarah Menezes abre espaço para novos rostos na seleção brasileira de judô na categoria ligeiro (até 48 kg). Na primeira seletiva do ano, as três vagas da equipe foram preenchidas pelas estreantes Steffanie Arissa Koyama e Larissa Pimenta, de 17 anos, e por Gabriela Chibana, que atuou como apoio de Sarah nas duas últimas edições dos Jogos Olímpicos.

No entanto, a configuração ainda pode sofrer alterações. Gabriela, prima de Charles, ficou com o terceiro lugar no processo seletivo e precisará passar por uma repescagem, ainda sem data definida. A adversária será Nathália Brígida, que se recupera de uma cirurgia no ombro direito devido a uma lesão decorrente de desgaste físico. A judoca de 23 anos se destacou no último ciclo e fez uma disputa acirrada com Sarah Menezes pela vaga olímpica. Consequentemente, a comissão técnica resolveu lhe dar uma segunda chance.

“Vejo uma renovação boa das atletas da nossa categoria, a batalha continua. Isso é bom porque a gente nunca fica estável, tem de estar buscando melhorar para se firmar na seleção. E mostra também que a categoria está crescendo. Vejo como um próximo desafio”, comentou Nathália Brígida, que se diz mais madura.

Em Pindamonhangaba, Gabriela Chibana usou os treinos para readquirir ritmo depois de ficar quatro meses afastada por contusão e assegurar uma condição física vantajosa para a luta decisiva com a concorrente.

O encontro da seleção também teve um significado especial para Larissa Pimenta, a caçula do grupo. A judoca buscou acompanhar o ritmo das colegas e manter os pés no chão. “Tento não me colocar como uma atleta da seleção principal, mas como alguém da base, estou começando a evoluir agora, tem de ter cabeça boa”, afirmou. No Japão, a nipo-brasileira Steffanie Arissa Koyama não participou da primeira atividade da seleção.