A camisa do Liverpool é toda vermelha, cor que também está na camisa do São Paulo. É a única semelhança entre os dois times que disputam, hoje, a partir das 8h20, a final do Campeonato Mundial de Clubes da Fifa. O primeiro nos moldes atuais, com os campeões de cada continente.
Yokohama, Japão (AE) – O São Paulo é um time tipicamente brasileiro. Dos 23 inscritos, apenas o uruguaio Lugano é de outra nacionalidade. O Liverpool tem jogadores de dez nacionalidades e três continentes. O São Paulo joga com três zagueiros e o Liverpool em um 4-4-2 ortodoxo. Os ingleses estão há 11 jogos sem sofrer gols e o São Paulo aposta no ataque.
De um lado, estará o forte jogo aéreo e bem-estudado fundamento do passe. Do outro, o drible e as jogadas dos laterais. O São Paulo chegou ao Japão no dia 7 de dezembro, o Liverpool apenas no dia 12. Está mais interessado na Liga dos Campeões. O São Paulo abandonou o Brasileiro para vencer no Japão.
Ambos apostam na vitória, mas têm um respeito muito grande pelo adversário. A Comissão Técnica do São Paulo ficou impressionada, por exemplo, como os jogadores do Liverpool defenderam o seu gol, mesmo no último minuto de jogo, quando o time já vencia por 3 a 0. "Nós queríamos o recorde de ficar 11 jogos sem sofrer gols. Agora, queremos o 12.º, diz o zagueiro Carragher.
Para conseguir seu terceiro título mundial, o São Paulo resolveu apostar tudo em suas características "brasileiras." Há muito, Paulo Autuori tem dito que aposta na individualidade e criatividade para vencer. Durante os treinos, ele insiste exaustivamente nas jogadas de homem contra homem. É preciso arriscar sempre. Mesmo porque Rogério Ceni está batendo faltas como nunca.
O treinador quer que o Liverpool tenha diante de si um quadro tático adverso, ao contrário de sua estréia, contra o Saprissa. E, em conversas com os jogadores, é possível ver como a missão está sendo levada a sério. "De jeito nenhum eles vão tocar a bola com aquela facilidade. O Saprissa esperou o Liverpool em seu campo e perdeu fácil. Nós vamos atacar a defesa deles", diz Aloísio.
Autuori quer uma atuação constante dos laterais, principalmente Cicinho. Para ele, o 3-5-2 só se justifica quando a questão defensiva é solucionada pelos três zagueiros e mais um volante. Hoje, vai abrir mão desse conceito. Mineiro deve ter uma postura mais defensiva do que o normal. É o medo dos chutes de fora da área de Gerrard, o craque do adversário.
Souza e Grafite são as armas do banco para correr atrás da vitória. Renan e Denílson podem entrar para segurar o jogo. Paulo Autuori tem tudo planejado. Desde a sua chegada, entendeu que a torcida tem loucura por competições internacionais. E não brigou contra os fatos. Preparou o time para o mundial, em acordo com os preparadores físicos.
O clube gastou muito em busca de uma melhor infra-estrutura. Não há desculpas para a derrota. Apenas uma melhor partida do Liverpool, mas isso não seria desculpa. Seria reconhecimento.
Antes dos jogos, no telão, um filme de um minuto, produzido pela Fifa, mostra seis samurais com cara de mau encarando-se mutuamente. Estão prontos para lutar. Quem será o Rei dos Reis? Pergunta o narrador. Os dois samurais mais fortes sobraram. Hoje decidem quem é o vencedor.
Crouch endossa sua contratação
Yokohama, Japão (AE) – Peter Crouch está mostrando, no mundial, que o treinador Rafael Benítez acertou ao pedir a sua contratação, em julho. E que o Liverpool não vai se arrepender por haver pago 7 milhões de libras (R$ 28,3 milhões) ao Southampton. As dúvidas começaram a terminar nos últimos quatro jogos, quando fez 3 gols. Dois deles contra o Saprissa, na estréia.
Antes, o atacante de 24 anos e 2 metros de altura, estava sem marcar há 18 partidas e seis meses. Mesmo assim, Benítez o apoiou, deixando Fernando Morientes, da seleção espanhola, no banco.
A admiração por Crouch começou no ano passado, quando o Liverpool foi derrotado por 2 a 0 para o Southampton. Crouch não marcou, mas jogou muito bem, o que acabou lhe valendo o contrato de quatro anos que tem agora. Aquela partida e também o fato de haver marcado 16 gols em 24 jogos pelo Southampton na temporada anterior.
A chegada ao Liverpool lhe valeu também vaga na seleção inglesa. Fez três jogos e ainda não marcou. Um grande time e a seleção. É um mundo novo a que Crouch tenta se adaptar. "Nós estamos tentando uma grande vitória, que pode nos dar o título de campeão do mundo. Há pouco tempo, eu queria qualquer vitória. Tudo ajudava nosso time a não cair. Hoje, estou no topo. Tenho pressão, mas é muito melhor do que a pressão de estar no fim da tábua de classificação."
Há um certo deslumbramento nas palavras de Crouch. "Olho para trás e fico feliz de ver que cheguei tão longe. Vou poder jogar no estádio em que se disputou o final da Copa de 2002. É inacreditável, uma coisa muito bonita para a minha carreira". (LAS)
Liverpool passeia; São Paulo no campo
Yokohama, Japão (AE) -Djibril Cissé, atacante do Livepool, não tem dúvida "O São Paulo é muito fraco. Nós vamos ganhar de 5 a 0", disse a um torcedor brasileiro, ontem. Na tarde anterior à decisão, o Liverpool foi às compras. Cissé estava acompanhado de Sinama Pongolle, também francês e pelo australiano Harry Kewell, na loja da Adidas, no shopping East Quartier, ao lado da estação Sakuragicho do Metrô, em Yokohama.
"O Cissé é muito simpático. Ele comprou mais de 50 itens da loja e gastou 300 mil ienes (R$ 6 mil reais) com nossos produtos", disse Yosimuri Wada, que atendeu o francês. A simpatia de Cissé e companheiros se esgotou no trato com os vendedores da loja.
Eles pediram que os 20 fãs, que se colocavam fora da loja fossem impedidos de entrar e de tirar fotos. Na saída, após uma hora, deram um ou outro autógrafo, sem demonstrar nenhum prazer. Muito diferente da postura que jogadores brasileiros adotam em relação com os torcedores.
Enquanto o Liverpool passeava, o São Paulo não saía da concentração, até as 17h45, quando se dirigiu ao Estádio Internacional de Yokohama, para o reconhecimento do gramado, que durou das sete às oito da noite.
Para Lugano, o fato de os jogadores do time inglês usarem a tarde anterior ao jogo para fazer compras não significa um desprezo ao mundial. "O Diego Forlán jogou no Manchester e me disse que nunca participou de concentração. Saía de casa e ia jogar. Não sei se isso atrapalha o Liverpool. Tomara que sim", disse o uruguaio.
Lugano impressionou-se muito com o toque de bola do Liverpool na partida contra o Saprissa. "Eles não erraram um passe durante o jogo. Os companheiros acham que a marcação era fraca, mas. Mesmo sem ninguém em campo é difícil ficar o tempo todo sem errar um passe."
Aloísio não participou do treinamento. Estava gripado faz muito frio em Yokohama, mas está escalado para o jogo. "Não tem nada de errado com o Aloísio. Vai jogar", disse Paulo Autuori.
Ainda neste sábado, havia boatos de que Joseph Blatter, presidente da Fifa, havia dado ordem para que o estádio estivesse cheio hoje à noite (horário local), de qualquer forma. A idéia seria distribuir ingressos entre estudantes.
O público no mundial está decepcionando a Fifa. Os estádios nunca recebem mais do que a metade de sua capacidade. Os jornais dão pouquíssimo destaque e começam a aparecer idéias para que o mundial caia no gosto do público. Fala-se em garantir uma vaga para o país-sede. Ou, até mesmo em o evento se realizar de dois em dois anos. A Fifa, que gastou US$ 15 milhões apenas com a premiação aos seis participantes, não gosta de prejuízo em suas competições. (LAS)
Amoroso avisa: "Eu vou arrebentar"
Yokohama, Japão (AE) – São dez e meia da noite de sexta-feira, em Yokohama. Márcio Amoroso dos Santos é pontual e chega no lobby do Sheraton Baia Hotel na hora marcada para a entrevista. "Só falo do jogo. Não falo de contrato com o São Paulo", recita em voz alta a imposição que quebraria logo depois.
Ele falou bastante. E passa sinceridade no que fala. Parece ser mesmo um são-paulino recém-convertido, como garante. "Não sou mercenário. Quero ficar aqui porque amo esse clube. Só peço um contrato de três anos", diz.
Se jogar como prevê, certamente o clube terá um motivo a mais para ficar com ele. Amoroso tem certeza absoluta e, novamente, é difícil não acreditar que fará uma partida excepcional. "É a minha Copa do Mundo. Não me levaram em duas e agora quero esse título. A torcida do São Paulo vai comemorar muito, tenho certeza."
Amoroso tem um retrospecto de cumprir promessas. E de sempre falar o que pensa. Por isso, ganhou tanto amor da torcida do São Paulo e passou a irritar os corintianos ao deixar claro que não é fã do futebol do adversário. Isso conta quase tanto quanto os 16 gols que marcou em 28 partidas, desde que estreou contra o River Plate, no dia 22 de junho, contra o River Plate, no Morumbi, pela semifinal da Libertadores.
"Foi Deus que me colocou no São Paulo naquele momento tão especial do clube. Cheguei, me dei bem com todos e ainda ganhamos a Libertadores. A camisa do São Paulo caiu muito bem em mim", diz.
A torcida concorda. E não quer sua saída. Mesmo que tenha, como consolo, o título. Que ele considera provável. "Ninguém veio aqui comprar máquina digital ou passear.
AE – É a sua despedida?
Amoroso – Tomara que não. Quero ficar porque adoro o São Paulo. Estou aqui há cinco meses, mas parece que faz tempo, que fui revelado aqui.
