Os jogadores do Santos embarcam hoje para Buenos Aires convencidos de que terão de jogar com muita tranqüilidade para evitar a pressão, a catimba e a violência do Boca Juniors, na disputa da primeira partida da final da Libertadores da América, amanhã, no Estádio La Bombonera. Partem também com a recordação da decisão do brasileiro do ano passado, quando os comentários eram de que o time iria parar diante da pressão da torcida corintiana, mas isso não ocorreu.
Entre os jogadores, todos falam que estão conscientes disso, mas sabem também que não será fácil. Fábio Costa assistiu às partidas do adversário e percebeu o objetivo dos argentinos. “Jogando em casa, eles conseguiram tirar dois jogadores do América de Cáli de campo e também o Robgol, do Paysandu, facilitando o jogo de volta, que venceram.”
Fábio Costa disse que o Santos precisa “estar atento, porque eles vão querer desestabilizar nossos jogadores, especialmente Diego e Robinho, e temos de estar muito tranqüilos para evitar que a catimba e a violência que eles tentarão impor nos tirem de nosso objetivo principal que é trazer um bom resultado”.
O capitão Paulo Almeida também está vacinado e procura passar para os companheiros qual a atitude diante das provocações. “Se receber um tapa, é lógico que a gente fica com raiva, mas é preciso manter toda tranqüilidade porque o juiz pode não ter visto a agressão e pode ver o revide e expulsar alguém.”
Leão já conversou sobre isso com os jogadores e Paulo Almeida receita: “Não temos de ser machos de brigar e querer provocar; temos de ser machos e inteligentes para fazer o melhor pelo time”. Paulo Almeida lembra que o Corinthians ficou muito nervoso diante do River Plate e acabou perdendo as duas partidas. “Serve como um exemplo para nós e, como será um jogo de 180 minutos, teremos muito tempo para decidir as coisas.”
Final
Os jogadores do Santos parecem estar revivendo a final do brasileiro do ano passado. Robinho, um dos principais destaques do Santos naquela decisão, espera repetir a atuação. “Gosto de jogar uma final, pois trabalhamos o ano todo para isso e só quero estar numa noite boa para ajudar a equipe e a voltar a fazer gols.”
Para vencer a partida em Buenos Aires, o meia Diego acha que o Santos não pode mudar sua maneira de jogar. “O Boca é um time que é muito forte coletivamente e tem uma boa organização tática, mas não podemos jogar na retranca, pois nossa equipe não sabe jogar de forma defensiva.”
Diego entende que o cuidado com a catimba deve ser grande. “O jogador brasileiro é até mais malandro do que o argentino, só que acaba perdendo essa malandragem quando está de cabeça quente.” Por isso, acha que a ordem é entrar em campo só para jogar futebol, sem entrar na provocação argentina.
Léo concorda parcialmente com Diego: “O brasileiro é mais malandro, mas é também mais cabeça quente”. Afinado com a ordem de não aceitar provocação, o lateral entra no refrão: “Deu um tapa, deixa dar tapa, esquece e vai jogar futebol”. Mas fez uma ressalva: “Na volta, a gente acerta”.
Árbitros
A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) anunciou ontem os árbitros dos dois jogos finais da Copa Libertadores da América, entre Santos e Boca Juniors. Amanhã, em Buenos Aires, o escolhido foi o colombiano Oscar Ruiz. E, no dia 2 de julho, em São Paulo, será o uruguaio Jorge Larrionda.
Dario acredita numa vitória dos meninos da Vila
Dario Pereyra, técnico do Grêmio, fala com convicção: “O Santos tem grandes chances de vencer o Boca Juniors, em plena Bombonera”. O treinador fala com conhecimento de causa. No comando do modesto Paysandu, ele conseguiu derrotar a equipe argentina em seu temido alçapão, nas oitavas-de-final da Libertadores que entra na fase decisiva.
“Esse time do Boca Juniors joga melhor fora de casa. Não é uma equipe armada para atacar. O Carlos Bianchi armou o Boca para atuar nos contra-ataques, explorando os erros do adversário. O time joga em função da velocidade do Delgado, Schelotto e Tevez. Se o time do Santos mostrar personalidade, traz um bom resultado de lá”, avisa Dario.
Dario só tem elogios para o time de Leão. “O Santos tem mostrado muita personalidade. Tenho certeza de que não vai tremer em Buenos Aires.”
Mas, se Leão precisar, Dario tem uma boa sugestão para evitar que os meninos da Vila sintam a pressão da ruidosa torcida argentina.
Uma providência tomada por Dario Pereyra para evitar a tremedeira dos novatos foi levar os jogadores ao Museu do Boca, que fica localizado dentro do estádio.
“Quando você entra no museu é como se estivesse entrando na Bombonera lotada. O som da torcida é reproduzido e ali dá para perceber o quanto é ensurdecedor o barulho que os torcedores fazem quando o estádio está lotado. O som reproduzido chega muito perto da realidade”, diz ele.
A providência deu excelente resultado.
“Mesmo atuando com dois jogadores a menos a maior parte do jogo, o Paysandu fez uma partida quase perfeita. O Boca não conseguiu entrar na nossa área. Adiantamos a marcação e bloqueamos o time deles na intermediária. Dali, partíamos em velocidade, explorando principalmente os dribles do Iarley, que ficou colado à linha de fundo pelo lado esquerdo. Foi por aquele setor que fizemos o gol da vitória”, recorda Dario.
Esta estratégia, segundo o treinador, pode não ser tão eficaz para o Santos de Leão. “O Santos tem outra maneira de atuar. É um time que possui mais jogadores habilidosos do que o Paysandu. Por isso, deve ser mais ofensivo”, diz.
Ricardo sonha com gols e título
O centroavante Ricardo Oliveira treinou apenas um tempo no coletivo de ontem à tarde, mas não preocupou a quem assistia, e está confirmado para o primeiro jogo da decisão da Copa Libertadores da América, contra o Boca Juniors. Afinal, ele ficara 38 dias afastado dos campos por contusão no joelho, retornou na quarta-feira na partida contra o Independiente e atuou os 90 minutos sem problemas. Ontem, bem melhor, ele era um dos jogadores mais animados do grupo e não escondia seus dois objetivos imediatos. “Primeiro, quero ser campeão da Libertadores, depois, ser o artilheiro.”
Para receber a faixa, precisa disputar ainda duas partidas contra o Boca Juniors e para ficar com a artilharia não precisa de muita coisa: mesmo afastado das três últimas partidas marcou nove gols e é o artilheiro isolado da competição, seguido pelo argentino Schelotto, com seis. Assim, ele está bem próximo de um sonho que nunca escondeu de ninguém e que foi o argumento definitivo para assinar o contrato com o Santos, o de disputar a Libertadores da América pela primeira vez. Com a contusão, ele chegou a ver o sonho se desfazer, mas o time conseguiu chegar à final e ele voltou a atuar. Para amanhã, espera estar bem melhor do que na última partida. “O jogo dá essa condição de adquirir o ritmo”, disse ele, ansioso por fazer o que não conseguiu contra o Independiente: o gol. “Tive oportunidades, mas não consegui e agora pretendo voltar a fazer meus gols, porque a vontade é muito grande.”
Segundo ele, o Boca Juniors é um time que marca muito bem. “Por isso, é preciso que a gente se movimente bastante para criar os espaços e as oportunidades de gol.” Para ele, o bom resultado é a vitória. “Não vamos para lá pensando em empatar, pois sempre jogamos para vencer; sabemos que temos condições, mas conhecemos também as dificuldades.”
Com a volta de Ricardo Oliveira, Robinho acha que a defesa argentina terá de se dividir. “Com ele em campo, a marcação não fica muito em cima de mim e tudo o que pretendo é que me deixem um pouco livre para jogar”, disse Robinho, que considera o colega “referência no ataque”.
Schelotto está recuperado
Recuperado de contusão muscular na perna direita, o atacante Guillermo Barros Schelotto confirmou que volta ao time do Boca Juniors na final da Copa Libertadores, contra o Santos, amanhã, em Buenos Aires. “Estou muito bem, com muita vontade, mas me falta um pouco (de ritmo) porque não joguei as semifinais e não pude treinar bem durante alguns dias”, afirmou o atacante, que marcou cinco gols nas oitavas e nas quartas-de-final do torneio.
Principal jogador do Boca, Schelotto tem ainda a experiência de já ter disputado e vencido as finais da Libertadores em 2000 e 2001. “É lindo voltar a jogar uma final da Libertadores, uma chance que poucos têm”, afirmou o atacante argentino.
Outro destaque do Boca, o meia Carlos Tevez, sentiu dores no joelho esquerdo durante o treino de domingo, mas deve jogar amanhã. Segundo o departamento médico do clube, ele já havia sofrido uma contusão no local há dez dias, mas, agora, tudo não passou de um “susto”.