Santos convence Conmebol

Jogar na Vila Belmiro lotada, com a torcida exercendo forte pressão sobre o juiz, é a estratégia do Santos para vencer bem o Independiente, de Medellin, Colômbia, na abertura das semifinais da Copa Libertadores, amanhã, às 21h40, ficando muito perto de chegar à decisão. E se o juiz for caseiro, daquele tipo que, na dúvida, decide em favor do mandante para ficar de bem com o público, melhor ainda. Até o técnico Leão, que gosta de repetir que “não troco a minha casa pela casa de ninguém”, a questão do local do jogo já estava definida e, inclusive, entre Pacaembu e Morumbi, ele havia escolhido a segunda alternativa. Porém, o que parecia impossível aconteceu e conseguir concretizar a primeira parte do plano, que era levar o jogo para a Vila Belmiro, foi mais fácil do que se imaginava. Agora resta esperar pelo comportamento do legítimo paraguaio Carlos Amarilla escalado com quatro dias de antecedência, na partida de amanhã à noite.

A única dificuldade está sendo explicar quais foram as armas utilizadas pelos dirigentes santistas para convencer a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) a ignorar o regulamento da Copa Libertadores da América, no quesito sobre o mando de jogo nas fases decisivas da competição, que determina estádio com capacidade mínima de 30 mil lugares. O presidente Marcelo Teixeira evita a imprensa e a assessoria de imprensa do clube oferece apenas informações vagas. Poucas horas após o time assegurar a vaga para as semifinais com a vitória por 1 a 0 contra o Cruz Azul, na Vila Belmiro, Ari Leal, assessor especial de Teixeira, partiu em missão especial para Assunção, capital do Paraguai, onde está a sede da Conmebol. Enquanto alguns dirigentes negam a viagem, outros dizem que foi mais uma visita de rotina de um dirigente santista ao presidente da Conmebol, Nicolás Leoz, que se tornou amigo dos santistas em setembro do ano passado, quando recebeu o título de Professor Emérito da Universidade Santa Cecília, da família Teixeira.

Antes da viagem de Ari Leal na semana passada, o Santos havia feito outra visita à Conmebol. Foi no dia seguinte ao jogo contra o Nacional, em Montevidéu, para se queixar do juiz argentino que levou o segundo tempo até aos 52 minutos, permitindo que o time da casa chegasse ao empate por 4 a 4. Coincidência ou não, de lá para cá, o Santos só tem sido beneficiado por erros de juizes na Libertadores, como no segundo gol marcado por Diego, precedido de uma falta de William no goleiro Oscar Perez.

Agora o que se comenta é que o Santos teria levado à Conmebol um convincente documento no qual garante segurança total ao visitante e enumera as suas razões para julgar importante mandar o seu jogo das semifinais em seu estádio. A Conmebol teria atendido de imediato o pedido, porém o Santos deixou para divulgar a informação apenas após o jogo de domingo contra o São Paulo. Não foi confirmada uma outra versão de que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) teria informado a Conmebol, a pedido do Santos, que a Vila Belmiro tem capacidade para 30 mil pessoas, mas que, por questões de segurança, o clube só coloca 20 mil ingressos à venda. Mas ninguém desmentiu que o Santos vai pagar as taxas à Conmebol sobre 30 mil pagantes.

Um dirigente, que pede para não ser identificado, considera inteligente a decisão de fazer o jogo das semifinais na Vila Belmiro, mesmo deixando de arrecadar quase o triplo se a partida fosse no Morumbi. Ele argumenta que ganhar a Libertadores tem uma valor inestimável e que os prejuízos de bilheteria serão compensados pelos US$ 800 mil de prêmio que a Conmebol dá ao campeão e os prêmios, previstos em contratos, que o clube vai receber da Bombril e da Umbro se conquistar o título.

Entidade ameaça punir

Mesmo com o grande público que a Vila Belmiro tem recebido nos últimos jogos, as normas de segurança ficaram mais rigorosas e não houve registro de incidentes graves. Para o jogo do Santos de hoje, contra o Independiente de Medellin, a PM deslocará 300 homens para garantir a segurança dos torcedores e o sistema de monitoramento por câmera de vídeo será mantido nessa partida, cujos ingressos tiveram aumento: a arquibancada passou para R$ 20,00.

A preocupação, porém, está num velho hábito dos torcedores santistas, que jogam todo tipo de objeto no gramado: chinelos, copos de água, pilhas e até mesmo os radinhos. Nos últimos jogos esse problema praticamente não existiu, a não ser na partida contra o Nacional, pela Libertadores.

E por ter acontecido nessa partida da Libertadores, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) enviou fax ao Santos ameaçando suspender o jogo caso não haja segurança ou que a torcida atire objetos no gramado. A correspondência cita esse incidente no jogo anterior e lembra que os árbitros “possuem autoridade suficiente para suspender os jogos”. E complementa a ameaça: “Serão ainda aplicadas as sanções equivalentes”.

Independiente abandonado

Um time abandonado em São Paulo. É assim que o Independiente de Medellín, adversário do Santos amanhã, na Vila Belmiro, pela semifinal da Copa Libertadores da América, está se sentindo. Quem mais reclama é o presidente do clube, Javier Velasquez. “Estranho este comportamento dos dirigentes do Santos. Chegamos em Cumbica na madrugada de domingo e não tinha nenhum representante do clube brasileiro para nos recepcionar. Não recebemos nem um telefonema. É desagradável”, disse o dirigente, lembrando que o Grêmio, eliminado pela sua equipe nas quartas-de-final da competição, “foi muito cordial.”

“O Santos nos ignorou”, disse Velasquez, que no entanto promete tratar a delegação santista com muita cordialidade no jogo de volta em Medellín, dia 18. “Nós somos educados. Lá, o Santos será bem tratado.” O dirigente disse que procurou a Conmebol para pedir explicações sobre o fato de o jogo ser disputado na Vila Belmiro, estádio que não tem capacidade para 30 mil pessoas, conforme exige o regulamento.

“Fui informado pelo Francisco Figueiredo (uruguaio que é vice-presidente da Confederação Sul-Americana) que o prefeito de Santos (Beto Mansur) garante que o estádio tem capacidade para 30 mil pessoas. O jeito é acreditar”, diz, desolado.

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