São Paulo – Foi aquela ultrapassagem, na última volta do GP de Mônaco. Depois de engolir sapos à vontade na Ferrari, em geral reclamando do que não tinha razão, mas com alguns motivos para se chatear (os GPs da Áustria de 2001 e 2002, especialmente), Rubens Barrichello reclamou em público. Disse que não considerava mais Michael Schumacher seu companheiro de equipe. E, pela primeira vez desde que chegou a Maranello, para a temporada de 2000, fala abertamente em sair.
Foi ontem em Montreal que o brasileiro quantificou as chances de permanecer na equipe com a qual tem contrato até o final do ano que vem. Foi preciso e objetivo: 50%. Duas semanas atrás, confrontado com a possibilidade na Alemanha, fora firme: ?Tenho mais um ano de contrato e vou cumprir?.
O que teria feito Rubens mudar o discurso, em entrevista à emissora inglesa ITV, não se sabe. Há quem aposte que ele tem uma carta na manga, e esta seria a BAR de Gil de Ferran, chefe do time e seu amigo, que no ano que vem perde Jenson Button para a Williams. ?Enquanto a Ferrari e eu estivermos apaixonados e acreditando um no trabalho do outro, continuamos. Mas digo que é 50-50 porque existe vida fora da Ferrari e tudo pode acontecer.?
A paixão, por exemplo, não existe mais. Talvez nunca tenha existido, mas apesar disso ninguém pode reclamar de Rubens no time, em termos de desempenho. Afinal, desde que ele chegou a Ferrari ganhou todos os títulos mundiais que disputou, tanto os de pilotos como de construtores. Se seu papel não foi decisivo em todos, não se pode negar que importância, teve. A confiança, essa foi abalada com o destempero de Rubens após a prova de Monte Carlo.
Como a Ferrari vive um mau momento na temporada, com apenas 31 pontos, em quinto lugar entre as equipes (eram 106 no ano passado, depois de sete corridas), a tendência é de desentendimentos internos. O time não tem sabido reagir às adversidades. Ontem, na abertura dos treinos para o GP do Canadá, ficou em décimo com Barrichello e 16.º com Schumacher.
Isso numa pista onde, teoricamente, deveria andar bem, por sua semelhança com Imola, onde o alemão, neste ano, fez sua melhor apresentação. O mais rápido ontem foi Pedro de la Rosa, piloto de testes da McLaren.
Hoje acontece o treino que define o grid, a partir das 14h de Brasília. Há grande possibilidade de chuva em Montreal. Água que, se vier, ajuda os pilotos ferraristas e esfria um pouco a crise que se vislumbra em Maranello com mais uma declaração forte de Rubens.
Na corda bamba
Bastou dar corda para que Jacques Villeneuve mandasse ver nas críticas à Sauber. Falando ao jornal canadense La Presse, o piloto contou que a equipe ignora seus conselhos e a experiência que carrega por ser campeão mundial.
Depois do dono da equipe o detonar ele disse que a escuderia suíça só tem olhos para o C24 e que uma parceria com a BMW seria bem recebida.