Depois de nomes como Daniel Alves, Ronaldinho Gaúcho e Pelé, nesta quinta-feira foi a vez de Ronaldo publicar um texto no site “The Players Tribune”, utilizado para personalidades do esporte contarem suas histórias. Como os outros brasileiros, o ex-atacante falou de sua relação com o futebol e relembrou sua trajetória desde a infância.
Ronaldo destacou sua relação próxima com o esporte desde a infância em Bento Ribeiro, no Rio, onde se acostumou a bater bola no quintal da casa e a torcer pelo Flamengo e a seleção brasileira. O ex-atacante inclusive iniciou o texto falando sobre a sensação de pintar as ruas do bairro de verde e amarelo antes da Copa do Mundo de 1982, sem saber que um dia estaria ele sendo protagonista de um título mundial para o País.
“Para ser sincero, eu nem mesmo me recordo qual foi o primeiro jogo do Flamengo que eu fui assistir com meu pai no Maracanã. É estranho, mas a única coisa com a qual eu consigo comparar é com andar para frente, sabe? É claro que houve um tempo quando você não andava, mas você não conhece a vida sem isso. E eu simplesmente não conheço a minha vida sem futebol”, relata.
Ronaldo explodiu para o futebol cedo. Com 16 anos, realizou sua primeira partida como profissional pelo Cruzeiro, e com 17, fez parte do grupo da seleção brasileira que conquistou o tetracampeonato mundial nos Estados Unidos. Ele próprio reconhece a rapidez com que tudo aconteceu, mas garante que a força de vontade foi seu maior diferencial.
“Eu olhava para cada oportunidade como um passo em direção a me tornar um jogador de futebol. Era como uma espécie de ameaça em minha cabeça. Eu não podia pensar em nada além disso – muito embora meus pais quisessem que eu me concentrasse na escola. Eu estava pensando comigo mesmo: eu vou ser o maior jogador de futebol de todos os tempos”, conta.
Em meio à reviravolta que sua vida daria com a chegada precoce à seleção e a fama repentina, o ex-jogador destacou um ex-companheiro como nome fundamental para ajudá-lo a amadurecer. Durante a Copa de 1994, foi a proximidade com o então ídolo Romário que fez Ronaldo colocar os pés no chão antes de seguir os caminhos do companheiro na Europa, primeiro pelo PSV e depois pelo Barcelona.
“Aquele verão (de 1994) mudou a minha vida e a minha carreira. Porque também foi a primeira vez que eu me encontrei com Romário”, lembra. “Romário sempre foi atencioso com os jogadores mais jovens, especialmente comigo. Talvez porque nós dois éramos atacantes, ou porque ele viu em mim a mesma dedicação e força de vontade. Mas houve muitas ocasiões depois dos treinos que só ficávamos nós conversando. É estranho, mas eu sentia que ele via o esporte como eu via. Que o esporte poderia ser essa evolução, uma série de passos que você dava até que pudesse alcançar o próximo nível. E o próximo. Até que você fosse o melhor dos melhores. E o próximo passo, ele me disse, tinha que ser na Europa.”
Mas se afirma que não se conhece sem o futebol, Ronaldo recorda que sentiu como se a “vida fosse levada embora” após os acontecimentos entre 1998 e 1999. Um ano depois da convulsão no dia da decisão da Copa da França, o atacante sofreu a lesão mais grave da carreira, no joelho direito, com a camisa da Inter de Milão. Foram três anos afastado até o retorno triunfal na Copa de 2002, dando o pentacampeonato mundial a Brasil.
“Eu tive uma contusão muito grave no joelho. Era tão grave que algumas pessoas diziam que eu jamais voltaria a jogar futebol novamente. Que eu nem mesmo voltaria a caminhar. Foi então que os meus limites foram realmente testados. Para mim, a vida parecia começar e terminar no campo de futebol. Quando meu joelho foi destruído, eu senti que a minha vida tinha sido levada embora.”
O título no Japão, a passagem pelo Real Madrid e a nova volta por cima, desta vez com a camisa do Corinthians, deram a Ronaldo um fim merecido de carreira. Mas o astro garante que o “vício” pelo futebol continua vivo.
“Para mim, um campo de futebol é a coisa mais perfeita do mundo. Pode ser no estádio, na praia, ou em um quintal de grama com árvores frutíferas. Não importa”, afirma. “Eu vou encerrar assim: eu vivi os meus sonhos. Quantas pessoas podem dizer isso a respeito de suas vidas? Ter visto e vivido com tantas cores.”