Porto Alegre – Depois de passar seis dias recluso, sem sair às ruas e sem atender a imprensa, Ronaldinho Gaúcho começou a celebrar com seus conterrâneos o título de melhor jogador de futebol do mundo em 2004 que ganhou da Fifa. Ontem, ele foi ao Palácio Piratini receber do governador Germano Rigotto a medalha Negrinho do Pastoreio, honraria concedida a personalidades que prestam relevantes serviços em favor do homem, do estado ou da pátria. "Minha vida está maravilhosa", disse, ao comentar o momento que vive.

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Na coletiva, Ronaldinho Gaúcho anunciou o plano de montar algum projeto na área de responsabilidade social para o segundo semestre do ano que vem. "Sempre pensei em seguir o exemplo de alguns jogadores e fazer algo pelos necessitados", revelou. Também disse, brincando, que está impedido de casar por ordens de sua mãe, Miguelina. "Mas quero ter uma família grande, com muitos filhos." Aos 24 anos, o craque do Barcelona e da seleção brasileira mostra querer muito mais do que o título de melhor do mundo de um ano só. "Tudo isso me motiva a treinar cada vez mais porque quero repetir este momento muitas vezes", comenta. "Sou muito sonhador e quero conquistar todos os títulos que ainda não tenho", avisou.

Ronaldo também rebateu a crítica que eventualmente recebe por jogar melhor no Barcelona do que na seleção brasileira. Destacou que no clube, quando a bola chega num lado do campo, acaba sendo automaticamente enviada aos seus pés pelos companheiros. Não disse, mas deu a entender que na seleção o repertório de jogadas é maior e dividido com mais jogadores.

Ídolo

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O craque gaúcho aproveitou a entrevista para elogiar o ídolo que está se despedindo do futebol, Romário. "Foi vendo ele jogar em 1994 que eu decidi que queria ser aquilo ali, o caminho que eu queria seguir", contou, orgulhoso por ter tido tempo de repartir quartos de concentração e de jogar ao lado do ídolo na seleção. "Os jogadores da minha idade só têm que agradecer pelo que ele fez no futebol." Provocado a falar sobre a mal resolvida relação com o Grêmio, Ronaldinho Gaúcho admitiu estar triste por ver o clube no qual se formou jogador estar rebaixado à segunda divisão do futebol brasileiro.

Também revelou o desejo de deixar a marca de seus pés na calçada da fama do clube. E para afagar os gremistas, contou que costuma rever os dribles que aplicava na defesa do Internacional e os gols que fazia no rival.

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Festa pro melhor do mundo

Porto Alegre – A entrega da medalha teve jeito de festa. Em meio aos discursos oficiais, Ronaldinho Gaúcho procurava rostos conhecidos na platéia de 200 pessoas para sorrir ou acenar. Ele só deixou a timidez de lado quando foi chamado a cantar, junto com o grupo Samba Tri, a música Goleador, feita em sua homenagem.

Depois da festa oficial, Ronaldinho Gaúcho volta a ser o centro das atenções numa festa popular, hoje, no Beira-Rio, quando participa do jogo anual do Trianon, time organizado pelo cabeleireiro Nei Oliveira que reúne a nata do futebol gaúcho e alguns craques convidados.

A presença de Ronaldinho vai dar outra característica à partida, promovida há 40 anos sempre com caráter beneficente. Nos anos anteriores, o Trianon reunia alguns craques convidados por Nei Oliveira e se exibia em gramados do interior do Rio Grande do Sul contra times ou seleções amadoras locais. Desta vez nem terá adversário. Será um jogo entre o Trianon 1 e o Trianon 2.

Os times serão divididos pouco antes de o jogo começar e entregues aos dois técnicos, Nei Oliveira e Ivo Wortmann. É certo que, além de Ronaldinho, estarão em campo Assis, irmão do melhor do mundo, o goleiro Diego, do Atlético, Dunga, Denílson, Ailton, Ricardo Oliveira, Tinga, Argel, Scheidt, Paulo Baier, Roger, Lúcio e Daniel Carvalho, entre outros. O brasileiro naturalizado português Deco pode ser uma surpresa. A exibição de Ronaldinho deve levar 40 mil pessoas ao estádio do Internacional e será transmitida pela televisão para diversos países.

Mobilização semelhante só ocorreu em 1983, quando Falcão, então no Roma, vestiu a camisa do Trianon para matar a saudade dos colorados. "Mas também passaram por aqui o Zico, convidado pelo Carpegiani, e o Ronaldo Nazário, convidado pelo Paulo Roberto", destaca Nei Oliveira, revelando que o sucesso do Trianon deve-se à amizade que mantém com os jogadores, seus clientes, e à credibilidade que a promoção tem. "Eles (os jogadores) sabem para onde vai a renda e gostam de participar."