Romário promete gol e lágrimas

São Paulo – Depois de 18 anos, 55 gols e títulos como o da Copa do Mundo de 1994, Romário se despede hoje da seleção brasileira principal.

O último ato do artilheiro com a camisa que define como "a mais importante do mundo" será no amistoso contra a Guatemala, às 21h45, no Pacaembu, jogo que faz parte das comemorações dos 40 anos da Rede Globo. Aos 39 anos, ele tem um desejo: despedir-se fazendo o que sempre fez: gols. E uma certeza: não vai conseguir conter as lágrimas.

Craque de indiscutíveis qualidades – definição, entre outros, de Robinho, seu companheiro de ataque amanhã à noite -, muitas vezes adorado pelos gols que fez e outras tantas odiado pelas confusões que arranjou (várias com a boca; algumas com socos e pontapés), Romário admite que não esperava a homenagem. Franco, não nega que preferia se despedir no Maracanã. "Dizer que aqui (São Paulo) é o lugar ideal não seria verdade. São Paulo não é minha casa. O Rio é. O ideal seria o jogo no Maracanã, a minha casa. E o Romário que vai entrar em campo não é o Romário dos clubes. É o Romário da seleção. Eu sempre tive cara de Brasil", disse.

O fato de estar encerrando sua trajetória (iniciada na vitória por 1 a 0 sobre o Eire em 1987) num jogo em que a seleção não conta com as principais estrelas não tem importância, garante. "Se entendesse que a homenagem não está à altura do que mereço, não estaria aqui. Agradeço ao Parreira e ao Zagal-lo pela lembrança."

Ele não acredita que sua fraqueza possa criar um clima de animosidade por parte da torcida nesta quarta à noite. Vaias? Se ocorrerem, não irá se importar. "Não sou unanimidade nem na minha família. E se vaiaram até o Pelé, por que não vão vaiar o Romário?" Ele espera, claro, aplausos e sabe como conseguir nos 40 minutos que ficará em campo. "Vai ter gol. Vou pedir para o pessoal passar todas as bolas para mim. Despedida de artilheiro tem de ter gol."

O Baixinho só sente desconforto em falar da despedida. "Vai ter choradeira no Paca-embu", prevê.

Passando o bastão

Mas ao falar de Robinho, Romário se entusiasma novamente. "Ele já é uma realidade, já mostrou que pode dar grandes alegrias ao nosso futebol. E em três anos será eleito o melhor do mundo, como já foram o Ronaldo, o Rivaldo, o Ronaldinho Gaúcho."

Conselho para o jovem santista? "Nunca fui exemplo para ninguém. Mas se o Robinho não fizer 90% do que fiz fora de campo e fizer 60% do que fiz dentro, será um grande jogador."

Dono da excelente média de 0,75 gol por jogo (0,80 se aos gols pela seleção principal forem somados os 15 que fez em 11 partidas pela seleção olímpica), Romário só perde, neste quesito para Pelé, que tem média de 0,83 (95 gols em 114 jogos). E não acha que perderá o segundo lugar. "Alguém ultrapassar essa média? Que esteja vivo? Não creio", disse. "No futuro, não sei."

É uma alfinetada em Ronaldo. Mas ele reconhece que o atacante do Real é um fenômeno, como é Ronaldinho Gaúcho. "E o Brasil tem outros ótimos atacantes, como França e Luiz Fabiano."

Romário voltou a dizer que poderia ter disputado mais duas copas (98 e 2002) e duas olimpíadas. "Mas não guardo mágoa, nem sou menos feliz por causa disso." Porém, entende que, quando parar, irá fazer falta, dentro e fora de campo. "É que os grandes jogadores de hoje, por vários motivos, não conseguem passar a emoção que sempre passei."

Festa? Eles querem saber é de jogar

São Paulo – Fora Romário, ninguém quer saber de festa no amistoso de hoje. Restando pouco mais de um ano para a Copa da Alemanha, o jogo contra a Guatemala será talvez a maior e última chance de diversos jogadores para tentar uma vaga nas rodadas finais das eliminatórias e no mundial. O lateral Leo, titular em razão do afastamento de Gustavo Nery, não nega que pode ser o jogo da sua vida na seleção. "É mais ou menos por aí. Surgiu a oportunidade e vou fazer tudo para aproveitá-la", afirma.

Os volantes Magrão e Mineiro também apostam tudo no amistoso. "Para nós, não vai ter festa. Vou jogar com seriedade e procurar a vitória a todo custo", diz o palmeirense. "Temos oportunidade única de mostrar que queremos estar aqui."

Magrão acha que, do grupo, apenas Robinho está mais próximo da Copa. "O Robinho é um jogador que vem jogando no nível dos que estão lá fora. Para mim, minha chance ainda é zero. A Copa está muito longe e eu estou engatinhando aqui na seleção", diz.

O técnico Carlos Alberto Parreira respalda a atitude dos atletas. "Esse é um jogo importante para fazer observações pois tem muito jogador que não vem sendo chamado e, no futebol brasileiro, sempre há surpresa."

Outro de olho num espaço é o atacante Grafite. Convocado pela primeira vez, começará no banco dando lugar ao homenageado Romário, mas pode entrar ainda no primeiro tempo. "Tenho uma ansiedade boa para estrear. Quero buscar espaço na cabeça do Parreira e tentar uma vaga para a Copa", diz o são-paulino.

Também novato e com poucas chances de ir ao mundial do ano que vem, o meia Carlos Alberto, de 20 anos, se permite alguma esperança. "Tenho o sonho de ir para a Copa. A concorrência é muito grande, mas sonhar não custa nada", afirma. "Mas tenho a idade a meu favor. Se não for nessa, tem as próximas, então não preciso me preocupar com isso agora."

Ex-colega de Romário no Fluminense, o corintiano duvida que o artilheiro do tetra fique só na festa de amanhã. "O Romário merece essa homenagem, mas é meio fominha, não sei se vai ser a última não."

Pentacampeões

Além dos mais novos, a seleção de hoje conta com dois experientes pentacampeões, também na berlinda em relação ao grupo que deve ir à Alemanha e em busca de espaço: Rogério Ceni e Ricardinho. "Me sinto muito mais maduro que na última Copa", diz o goleiro são-paulino. "Mas não me frustro se não estou na seleção. Com a qualidade dos brasileiros, ficar de fora não é demérito algum. Se fosse, 99,5% dos jogadores não teria capacidade de jogar."

O meia do Santos confirma. "A partida é muito importante para todos os convocados. Por faltar um pouco mais de um ano e ser o futebol brasileiro, tudo pode acontecer. Na seleção, sempre tem busca por espaço."

Guatemala desfalcada

São Paulo – A Guatemala já é um adversário fraco. O que dizer, então, da Guatemala desfalcada de cinco titulares? Pois é esse o time que enfrenta a seleção brasileira sonhando com um empate -como em fevereiro de 98, no 1 a 1 na Copa Ouro, em Miami, única vez em que as duas seleções se enfrentaram.

A delegação chegou com apenas 17 jogadores. Carlos Ruiz, que atua no Dallas, da liga norte-americana, não conseguiu visto a tempo e é um dos desfalques. Os outros são o lateral Rodríguez e o meia Ramirez, não liberados por seus clubes, também nos Estados Unidos, além dos atacantes Plata e Pezzarossi, contundidos. Plata, que no domingo transformou-se no maior artilheiro da história da Guatemala, com 321 gols, é a ausência mais sentida.

A Guatemala jogará com apenas um atacante, Sandoval. O meia Castillo terá a missão de ajudá-lo um pouco no ataque. Os outros nove jogadores estarão defendendo o gol de Miguel Klee. No domingo, Klee, goleiro do Coban, foi expulso da partida contra o Comunicaciones, por agredir o zagueiro Pivaral. O detalhe é que Pivaral joga no mesmo time de Klee.

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