Romário anuncia sua despedida dos gramados

Rio – O sonho do presidente do Vasco, Eurico Miranda, de ver Romário novamente com a camisa 11 cruzmaltina parece ter chegado ao fim ontem, com a notícia da aposentadoria do jogador.

Em entrevista exclusiva ao jornal O Globo, Romário anunciou que não pretende continuar jogando em 2005: ‘Parei. Não dá mais. Não tenho mais vontade’, declarou.

A decisão surpreendeu o dirigente vascaíno, que chegou a se reunir com Romário logo após sua saída do Fluminense, em outubro, para tratar da volta do atacante a São Januário. De acordo com a assessoria de imprensa do Vasco, o clube respeita a decisão do Baixinho e continuará de portas abertas caso ele mude de idéia. Ainda assim, um eventual retorno a São Januário dependeria de um patrocinador, frisou a assessoria.

Revelado pelo clube, em 1985, Romário foi bicampeão estadual em 1987/88, antes de se transferir para o PSV Eindhoven, da Holanda. O atacante voltou ao clube carioca em 2000, quando conquistou a Copa Mercosul e o campeonato brasileiro. A segunda passagem do Baixinho pelo Vasco durou até a metade de 2002, quando ele foi para o Fluminense. Desde então, o time do Vasco não usa mais o número 11 nos jogos, por ordem de Eurico Miranda.

Mesmo encerrando a carreira, Romário deverá defender pelo menos mais uma vez as cores do Vasco. Ele revelou na entrevista ao colunista Renato Maurício Prado que pretende fazer um jogo de despedida no Maracanã, atuando um tempo com o uniforme vascaíno e outro com a camisa do Flamengo, pelo qual jogou de 1995 a 1999. O tricolor das Laranjeiras, sua última equipe como profissional, foi excluído da auto-homenagem.

– Vou jogar com a camisa dos dois times que mais me marcaram – disse ele a O Globo.

Gênio, polêmico, mas muito na dele

Rio – Em 20 anos de carreira profissional, Romário marcou mais de 800 gols, ganhou 18 títulos, por clubes e seleção brasileira, e criou inúmeras polêmicas. Com a bola nos pés, se transformou em um dos maiores jogadores do futebol mundial em todos os tempos. Fora de campo, fez fama de rebelde, pela língua sempre afiada, e colecionou desafetos. O primeiro deles foi o técnico Gílson Nunes, que o cortou da seleção que viria a ser campeã mundial de juniores em 1985. Motivo: indisciplina.

Revelado pelo Vasco, que o recebeu ainda nas divisões de base, vindo do Olaria, Romário não demorou a conseguir vaga no ataque titular, ao lado de Roberto Dinamite.

O sonho de jogar na Europa se realizou após as Olimpíadas. No PSV Eindhoven, ganhou três títulos nacionais e três Copas da Holanda, além da Recopa Européia de 1989. No Barcelona, Romário viveu o auge da carreira. Um período vitorioso tanto no clube quanto na seleção. Com o uniforme azul e grená, foi campeão espanhol em 1994. Mas para jogar a Copa dos Estados Unidos, enfrentou uma via crucis. Depois de reclamar por ter sido convocado mas não escalado para um amistoso contra a Alemanha, em Porto Alegre, Romário ficou afastado da seleção durante quase toda a disputa das eliminatórias. Só foi chamado para o jogo decisivo porque o Brasil corria risco de não se classificar.

O auge nos EUA

Uma atuação de gala e os dois gols da vitória carimbaram seu passaporte para o mundial, o primeiro como titular absoluto. Nos gramados americanos, foi o principal nome da conquista do tetracampeonato, com cinco gols – um a menos do que os artilheiros do torneio, o búlgaro Stoichkov e o russo Salenko. Mas Romário mostrou que nem só de bola na rede vive um atacante. Suas atuações lhe renderam o título de melhor jogador de 1994, eleito pela Fifa.

Uma polêmica ganhou proporções após o corte de Romário da Copa do Mundo de 1998. Zico, que era coordenador técnico, e Zagallo, o treinador, foram ridicularizados com caricaturas nas portas dos banheiros de um bar do atacante no Rio de Janeiro. Os dois decidiram processar o craque. A picuinha com Zagallo começara dois anos antes, porque o técnico não quis levá-los aos Jogos Olímpicos de Atlanta, quando o Brasil ficou com a medalha de bronze.

Apesar da pressão popular, Romário ficou fora também da Copa do Mundo da Coréia do Sul e do Japão. Dessa vez, teve de assistir pela televisão a equipe de Luiz Felipe Scolari levantar o pentacampeonato. Ainda em 2002, transferiu-se para seu terceiro clube carioca, o Fluminense, onde encerrou a carreira. Nas Laranjeiras, não ganhou títulos e chamou atenção mais pelas polêmicas do que pelos gols.

Fim da carreira já se desenhava

Rio – A rescisão do contrato com o Fluminense foi o início do adeus. No dia 21 de outubro, o então presidente tricolor, David Fischel, avisou a Romário, por telefone, que seu ciclo nas Laranjeiras tinha chegado ao fim.

A três meses de completar 39 anos, sem muitas opções no mercado, aumentavam as especulações sobre a aposentadoria de Romário. O anúncio de um jogo em Los Angeles, com os colegas campeões do mundo em 1994, tinha cara de despedida, mas Romário apressou-se em dizer que era apenas o adeus internacional.

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