Em sua última entrevista coletiva às vésperas do fim de seus 12 anos no comando do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge fez um alerta ao Rio e pediu, nesta quarta-feira, que as obras para os Jogos de 2016 sejam aceleradas, principalmente o aeroporto. Mas, assim como fez a Fifa em relação à Copa do Mundo, ele opta por se distanciar das críticas no Brasil em relação aos custos do grandes eventos esportivos e aponta que não foi ele quem pediu para que o governo usasse dinheiro público na Olimpíada.

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Para Rogge, a utilização de “dinheiro público é uma decisão soberana de cada governo que organiza os Jogos”. Ou seja: o uso de dinheiro público não foi um pedido nem uma exigência do COI ao Rio.

Quatro anos depois que o Rio recebeu o direito de sediar o evento, a cidade ainda não sabe qual será o orçamento do evento. Em 2009, falou-se que poderia custar R$ 27 bilhões em obras e mais US$ 7 milhões na parte operacional. Mas ninguém duvida que o valor agora será superior.

A atitude de Rogge é similar a que foi adotada pela Fifa durante a Copa das Confederações diante dos protestos nas ruas, insistindo que não foi a entidade quem pediu para levar o evento ao Brasil e não foi ela quem exigiu os investimentos que o País está fazendo.

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O belga deixa seu cargo em setembro, quando ocorre a eleição para o futuro presidente da entidade. Entre seus principais legados está a decisão de levar o evento pela primeira vez à América do Sul, no Rio, em 2016.

Mas, no COI, nem todos pensam como Rogge. Parte da entidade e os próprios candidatos ao comando estimam que as queixas dos brasileiros “precisam ser escutadas”. Os novos dirigentes chegam a declarar que a entidade terá de modificar a forma pela qual as cidades são escolhidas.

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Rogge, porém, prefere dar como solução às críticas uma maior comunicação para que os benefícios do evento sejam explicados. “Investimentos públicos não são para o curto prazo ou para as semanas dos Jogos ou o mês da Copa. Os investimentos são para longo prazo e vão ajudar as comunidades”, declarou.

Questionado se não temia ser alvo dos mesmo protestos que a Fifa sofreu no mês passado, Rogge insistiu que a solução é “explicar ao público que os investimentos irão gerar um legado sustentável”. “Os Jogos são para o bem e ajudam a sociedade. Isso precisa ser explicado”, declarou, aproveitando para destacar que também aposta que a Copa do Mundo será um “grande sucesso”.

COBRANÇAS – Se Rogge deixa o poder, ele não sai sem antes fazer um alerta ao Rio. “Os trabalhos tem caminhado. Mas há muito o que deve ser obtido antes de 2016”, alertou. “Estamos pedindo que acelerem (os trabalhos)”, insistiu.

Um dos pontos de preocupação de Rogge é o aeroporto internacional do Rio. “Pedimos que haja uma aceleração do aeroporto”, insistiu. O COI teme que, diante de uma infraestrutura pouco adequada para receber turistas, o evento se transforme apenas em uma festa brasileira.

A Infraero garante que as reformas estão ocorrendo, justamente para aumentar a capacidade dos terminais e poder receber mais de 44 milhões de passageiros por ano.

Rogge ainda contou como o COI chegou a estar preocupado com a falta de avanços nas obras para a área das disputas do golfe da Olimpíada, algo que já teria sido resolvido, e ainda apontou que a questão da segurança num evento dessa dimensão será “sempre uma prioridade”.

FIM – Mas o belga não se arrepende de ter levado o evento pela primeira vez para a América do Sul. “Continuo otimista e não há questão sobre a qualidade dos Jogos”.

Sempre sério e com um ar de monarca, Rogge deixa o COI numa situação bem mais confortável do que aquela que ele assumiu. O belga limitou o número de esportes e atletas nas olimpíadas, justamente para que os custos do evento fossem mantidos a um certo nível.

O projeto de adicionar um novo esporte em 2016 foi abandonado nesta semana, justamente para evitar o que Rogge chama de “inflação” nos custos do evento.

Pelo menos quatro modalidades pediam a introdução de novas disciplinas: a federação de ciclismo queria a disputa do BMX estilo livre. No triatlo, a meta era revezamento misto. O judô queria disputa por equipes. Mas o grande favorito era o basquete 3×3.

Rogge, porém, não sairá sem mais uma decisão a ser tomada: a escolha da sede de 2020. Tóquio e Madri aparecem como as favoritas. Mas Istambul quer entrar para a história como a primeira a levar os Jogos para uma região do mundo que jamais sediou o evento esportivo, algo que atrai Rogge.

Tendo conduzido seis edições dos Jogos Olímpicos, Rogge deu neste mais um sinal de sua diplomacia: garantiu que jamais irá declarar que um evento foi o melhor da história.