Weggis – Imagine a cena de um gandula sentado na cadeira do técnico da seleção brasileira, no Centro de Imprensa, atendendo a dezenas de jornalistas. Provavelmente isso nunca havia ocorrido no futebol. Mas como tudo tem sua primeira vez… Kevin Walchl, um suíço de 13 anos, transformou-se em celebridade ontem, deu entrevistas para emissoras de televisão e rádio do Brasil e de vários países da Europa.
Os minutos de fama do garoto ocorreram pouco antes do fim do treino da manhã. As atividades já estavam monótonas, cansativas. Os atletas faziam trabalho físico no centro do campo. Até que Rogério Ceni resolveu chamar Kevin, que trabalhava como gandula atrás de um dos gols. O são-paulino quis recompensá-lo por ter corrido atrás de tantas bolas e mandou que fosse para a meta. ?Ele estava nos ajudando bastante?, explicou.
Intimidade
O suíço aceitou na hora o convite e foi para o gol. Só que não pegou as luvas. Rogério, então, pediu a ele que pusesse a proteção e passou a chutar várias bolas a gol. Kevin mostrou intimidade com o esporte e fez boas defesas. A torcida foi ao delírio, vibrou e aplaudiu o garoto e o goleiro-artilheiro, no momento mais divertido do treino.
Rogério, no fim, conseguiu marcar um gol por cobertura. Mas não estragou a festa de Kevin. ?Foi muito legal, nunca vou esquecer esse momento?, disse o estudante. ?Vou contar a todos na escola? prosseguiu ele, esquecendo-se de que naquele momento os colegas já o tinham visto pela TV. ?Quem sabe agora arrumo uma namorada.?
Admiração
Kevin contou que joga como goleiro em sua escola, em Haltem, a cerca de uma hora de Weggis. E foi sincero ao admitir que não conhecia bem Rogério Ceni.
O garoto ganhou duplamente na loteria. Primeiro por ter sido escolhido num concurso como um dos gandulas. Depois por ter batido bola dentro do campo com um dos goleiros da seleção. Só falta a ele, agora, assistir a uma final de Copa do Mundo entre Brasil e Suíça, seu sonho como suíço e admirador do futebol brasileiro.
Parreira elogia festa e afasta treino fechado
Weggis – Carlos Alberto Parreira chegou a Weggis preocupado com o clima de festa excessiva na cidade suíça e avisou que, se houvesse bagunça nas arquibancadas, poderia fechar os treinos para o público.
Ontem, porém, depois de dois dias de atividades, o treinador elogiou o exemplar comportamento da torcida e afastou, pelo menos por enquanto, qualquer possibilidade de fechar os portões ou levar a seleção para treinar em local secreto.
?A manifestação da torcida tem sido carinhosa, está massageando o ego dos jogadores e não tem nos prejudicado em absolutamente nada.?
O treino da tarde foi o mais festivo até agora. Além de o Estádio de Weggis ter ficado lotado, milhares de pessoas ficaram do lado de fora assistindo ao bate-bola de cima dos morros mais próximos. Os donos de barracas com lanches, bebidas e suvenires faturaram alto. O movimento foi constante desde a manhã até o inicio da noite.
Educação
Apesar do ambiente alegre e do grande número de pessoas, os jogadores não foram prejudicados durante as atividades. Os suíços e brasileiros da região esbanjaram educação, não vaiaram em nenhum momento e fizeram festa moderada, gritando o nome de Ronaldinho Gaúcho, o maior ídolo da atualidade, e de Dida, que já disputou jogos no país.
Primeiro coletivo
O grupo volta a treinar hoje em dois períodos e, no domingo, deverá participar do primeiro coletivo. Há possibilidade de ser realizado um jogo entre reservas e titulares ou um confronto com o time sub-20 do Fluminense, que está em excursão pela Suíça. ?Estamos fazendo tudo de forma programada para que a equipe chegue ao auge após o terceiro jogo na Copa?, declarou Parreira. O Brasil estréia na Copa no dia 13 de junho, em Berlim, contra a Croácia.
Weggis atinge limite com brasileiros
Weggis – Escondidos atrás das montanhas a dois quilômetros do centro de Weggis, policiais de choque e caminhões com canhões de água estão de prontidão caso haja qualquer incidente ou manifestação durante os treinos da seleção brasileira. Ontem, em pleno feriado nacional na Suíça, Weggis teve sua população triplicada. ?Chegamos ao limite de nossa estrutura?, afirmou o chefe do comitê organizador de Weggis, Erwin Rudolf.
Críticas
Se os problemas de segurança ainda não surgiram, as primeiras críticas da população local começam a ser ouvidas pelos organizadores. A principal delas é com relação ao barulho feito pelos brasileiros que visitam os treinos da seleção e que aproveitam para fazer festa até a madrugada.
Os moradores que vivem nas proximidades das barraquinhas montadas e dos palcos de música foram ontem se queixar aos organizadores para pedir que se respeite o horário estabelecido para o fim das festas: 23h. ?Essa é a última vez que faremos um esquema de festa como essa, podem ter certeza disso?, afirmou um funcionário da prefeitura de Weggis.
Passeio
A bela montanha Rigi, na região de Lucerna, foi o local escolhido pela seleção para o primeiro passeio em terras suíças. A delegação deverá subir os 1.800 metros, nos próximos dias, em um trem a vapor de cerca de 120 anos, o mais antigo da Suíça.