?Se não fosse da cidade, dificilmente eu agüentaria uma situação dessas.? Assim, o meia Rodrigo Batatinha resume o ostracismo na ?turma do Carandiru? que passou no Coritiba por 40 dias. Responsabilizado, entre outros, pela má fase do time sob a tutela de Estevam Soares, o jogador de 28 anos foi resgatado por Paulo Bonamigo e se tornou peça fundamental na campanha da Série B. Como titular ou entrando durante os jogos, ele tem dado conta do recado e vai respondendo aos críticos como deve fazer: dentro de campo.
?São fases que a gente passa dentro da profissão. Achei estranha a forma como fui afastado, mas nunca desanimei e continuei treinando forte porque sabia que só dessa maneira poderia reverter essa situação?, analisa Batatinha. Ele e mais 15 foram afastados por Estevam e a maioria acabou indo embora. ?Para falar a verdade, agüentei bem por estar em Curitiba, que é a minha cidade. Ficar dois meses treinando só a parte física é muito difícil, mas como estava em casa e com a minha família consegui suportar essa situação?, desabafa.
Mágoa de Estevam? ?Eram jogadores (os afastados pelo ex-treinador) que não estavam sendo aproveitados. Não sei se era pelo momento da equipe na época, que não estava conseguindo os resultados esperados, se foi para mexer com o grupo, mas são coisas que acontecem. Tenho que tocar a bola para frente e desejar sorte para ele onde quer que ele esteja?, diz. E Bonamigo? ?É um professor que a gente tem que agradecer por ter dado a oportunidade que vem dando?.
E o treinador também agradece o desempenho do meia. ?Foi importante quando ele ficou trabalhando na ?turma do Carandiru?, como a gente chama aqui. Ele foi muito profissional, continuou se dedicando e, quando cheguei, procurei informações sobre o comportamento e as informações todas eram positivas?, elogia Bona. E as oportunidades estão vindo mesmo, como titular ou reserva, e transformando o atual momento num dos melhores da carreira do meia.
?Ele está buscando o espaço e é bom porque cria uma responsabilidade, nos que estão jogando, muito grande, porque sabem que tem um jogador que está pedindo passagem?, destaca o treinador. Depois do gol decisivo na partida de sexta-feira contra o Remo, esse momento pode até crescer ainda mais e o meia se tornar um dos titulares do Coxa. ?Futebol são momentos e o momento que vem passando o Coritiba é bom, então, eu fazendo parte desse momento faz com que seja um dos meus melhores momentos com certeza?, finaliza Batatinha.
Baixinho, mas dá conta do recado
Tamanho é documento? Batatinha acha que não e prova que seus ?apenas? 1,62 centímetros são suficientes para jogar futebol, marcar gols e ser importante para uma equipe de futebol. Apesar das críticas? ?Desde o início da minha carreira foi assim, que até certo ponto são válidas. Mas eu não posso ficar preocupado com isso porque senão eu nem teria iniciado a minha carreira de profissional do futebol?, rebate.
E como fazer para encarar os grandalhões? ?Tenho que suprir essa falta de estatura com uma melhor impulsão e sendo mais rápido que o adversário?, dá a receita. Para o meia, no futebol há espaço para todos e ele vai se encaixando. ?Estamos trabalhando contra todas as adversidades a cada dia. Tem pessoas que, por uma partida onde o jogador não vai bem, já julgam e formam uma opinão?, aponta.
Para ele, a solução é apenas jogar bola e mostrar o potencial em campo. ?Ali não precisa nem palavras. Você conseguindo corresponder à expectativa das pessoas que acreditam no teu trabalho, você consegue passar por cima daquelas que colocam o seu potencial em dúvida?, completa.
Batatinha é um exemplo fora de campo
Se no futebol Batatinha tem que ?matar um leão por dia?, fora dele, o meia é um pacato morador do Bigorrilho, religioso e dedicado pai de família. Mais do que isso, aproveitou suas andanças pelo mundo para aprender línguas, conhecer culturas diferentes e aproveitar tudo isso quando parar de jogar futebol. Prestes a completar 29 anos, ele já defendeu Yokohama Flugels/JAP, Paris-Saint Germain B/FRA, Portimonense/POR e Lobos Buap/MEX.
Para o Japão, ele foi com apenas 17 anos e aprendeu a se virar. ?Fui na empolgação e não tive dificuldade de adaptação. Você aprende um pouco do idioma e dá para se virar. Tinha bastante tempo vago e procurei aprender. Do pouco que aprendi, eu ainda guardo comigo?, diz Batatinha, que foi para o outro lado do mundo como forma de pagamento ao empréstimo do atacante Aldrovani. Lá, ele foi companheiro de feras como Evair, Zinho e César Sampaio.
Só não ficou na terra do sol nascente porque não houve acerto financeiro. Mas, logo em seguida já estava de malas prontas para a França. ?Foram dois anos que tive de crescimento a nível cultural. Até hoje domino o idioma e foi uma grande experiência de vida?, destaca. Já em Portugal, ele viveu o drama de perder, com o Portimonense, o acesso à primeira divisão em casa na última rodada. ?Tínhamos uma grande equipe e, por detalhes, não conseguimos subir. Estávamos ganhando por 2 a 0 até os 30? do segundo tempo e deixamos a equipe adversária virar?, relembra.
Por fim, no México, Batatinha foi para a Benemérita Universidad Autônoma do México, mais conhecido por Lobos Buap, e ficou pouco tempo. ?Teve alguns problemas com os empresários e os dirigentes, mas a gente sempre tira proveito e é mais um idioma que você aprende. Na parte cultural também foi muito importante?, finaliza.
Time – O Coritiba embarca hoje para Itu onde vai ficar concentrado durante toda a semana para as partidas contra Guarani, às 20h30 de terça-feira – em Campinhas, e contra a Portuguesa, às 16h de sábado – em São Paulo. Por isso, a delegação segue com 24 jogadores para uma espécie de intertemporada rápida no interior paulista. Diante do Bugre, o goleiro Artur estará de volta. Já contra a Lusa, a expectativa é pela recuperação do volante Paulo Miranda e do atacanteÂnderson Gomes.
Bonamigo avalia a vitória coxa
?Eu tenho que ficar chateado apenas pelos 15 primeiros minutos do segundo tempo, quando a equipe ficou desatenta e um pouco desconcentrada.? Assim, o técnico Paulo Bonamigo resumiu o desempenho do Coritiba na vitória apertada de sexta sobre o Remo por 3×2. Para ele, o time tinha que ter mantido a mesma pegada do primeiro tempo, mas vacilou e acabou sofrendo o empate em duas bobeiras seguidas. ?Entramos marcando muito atrás e deixando de fazer aquela pressão que normalmente a nossa equipe faz?, analisou.
Apesar disso, ele ressaltou a capacidade de reação do time após os dois gols sofridos. ?Não é qualquer equipe que toma dois gols dentro de casa, mantém o equilíbrio, pressiona o adversário e vai buscar a vitória como a nossa equipe fez?, elogiou. Para o treinador, em nenhum momento o alviverde subestimou o Remo, mesmo com o adversário na rabeira da competição. ?Falamos na palestra para equilibrarmos a confiança e não acharmos que somos a melhor equipe do mundo. Temos nossas limitações, mas somos muito fortes quando somos determinados e temos esse espírito aguerrido?, ressaltou.