Robinho, apenas um garoto

Rio (AG) – O carisma de Robinho é arrebatador. Com apenas 21 anos, o jogador do Santos é o centro das atenções por onde quer que passe.

Na seleção brasileira não é diferente. Ele agrada a gregos e troianos. Ronaldo adotou o craque com cara de menino logo no primeiro contato. Romário também ficou encantado com o eterno bom humor de Robinho quando os dois se conheceram há pouco mais de um mês, na despedida do veterano com a camisa amarela.

Agora é o técnico Parreira que se rende ao talento e ao carisma do atacante santista, que transformou seus dribles e pedaladas em obra-prima. Melhor para o futebol brasileiro.

Agência O Globo: Você imitava algum jogador quando era garoto?

Robinho: Eu tinha uns 12 anos e via o Ronaldo jogando no Barcelona. Queria ter uma carreira que nem a dele. Jogar num grande clube da Europa, fazer aqueles gols. Mas não me espelhei nele, até porque temos características diferentes.

AG: Afinal, você vai mesmo para o Real Madrid depois da Copa das Confederações?

Robinho: Não posso dizer que sim nem que não.

AG: Mas você está se preparando para jogar no exterior?

Robinho: Nunca escondi que meu sonho é jogar um dia na Europa. Sei que, quando isso acontecer, muita coisa vai mudar.

AG: O quê, por exemplo?

Robinho: Dentro de campo, vou encontrar uma marcação mais forte. Isso não tenho dúvida. Sei que lá o profissionalismo também é maior do que o que estamos acostumados a ter no Brasil.

AG: E, na vida pessoal, vai mudar alguma coisa? Você já está estudando espanhol?

Robinho: Quando chegar a hora, tenho que estar preparado psicologicamente para enfrentar as dificuldades. Saudade dos amigos, por exemplo, sei que vou sentir muito, mas vou levar minha mãe, a Dona Marina, comigo. Sem ela não vou. Quanto ao idioma, se eu for mesmo para a Espanha, acho que não terei muita dificuldade. A gente disputa a Libertadores e está acostumado com o espanhol. Dá para entender muita coisa.

AG: Até 2002, você era apenas mais uma promessa do time de juniores do Santos. Sua vida pessoal mudou muito da conquista do título brasileiro para cá?

Robinho: Sem dúvida. Hoje o assédio é bem maior, principalmente por parte das crianças. Recebo muitas cartas de meninos e meninas. Mas eu gosto. Eles dizem que quando crescerem querem ser que nem eu. Fico orgulhoso, satisfeito. Até mesmo crianças que torcem por Corinthians, Palmeiras e São Paulo demonstram gostar de mim.

AG: E o assédio feminino? Também aumentou?

Robinho: Só um pouco. Mas sei me desvencilhar.

AG: Você tem namorada?

Robinho: Tenho minha noiva, a Vivian. Estamos noivos há três anos, mas nos conhecemos há 11 anos.

AG: Como você conheceu ela?

Robinho: Ele era filha de um treinador de um time de futsal que eu jogava. Mas só começamos a namorar há uns cinco anos. Antes não dava para fazer nada, né?

AG: Pretende levá-la para a Europa?

Robinho: Ainda não conversamos sobre isso. Mas é possível.

AG: Qual é sua relação com o Pelé?

Robinho: Temos nos visto muito pouco. A última vez que estive com ele foi na gravação de um comercial na Vila Belmiro. Mas estou sempre com o Edinho, seu filho.

AG: Ele te dá conselhos?

Robinho: Hoje em dia, não. Mas já deu sim, quando estava cuidando das divisões de base do Santos.

AG: Você ainda se lembra de algum conselho do Rei do Futebol?

Robinho: Eu era muito garoto e ele chegou para mim e disse que, se eu continuasse me dedicando nos treinos, tinha tudo para chegar ao time do Santos. Nunca me esqueci disso e ele estava certo.

AG: A comemoração dos seus gols dando um soco no ar é uma homenagem ao Pelé?

Robinho: Pior que não. Faço isso desde pequeno, depois de ver alguns jogadores comemorando desta maneira. Só depois que fiquei sabendo que o Rei tinha imortalizado esta comemoração.

AG: Desde 2002 que tinha gente pedindo sua convocação para a seleção brasileira. Você acha que demorou a ser convocado?

Robinho: Não, acho que foi na hora certa. O Parreira é um treinador experiente, que conhece muito a seleção. Ele sabe lançar um jogador.

AG: O fracasso no Pré-olímpico do Chile, em 2004, ajudou você a amadurecer?

Robinho: Com certeza. Sei que atrapalhei o grupo com aquela brincadeira de abaixar a calça do Diego na concentração. Não foi por isso que perdemos a classificação, mas ajudou a tumultuar o ambiente.

AG: Serviu como lição?

Robinho: Isso mesmo. Brincadeira tem hora e lugar certos.

AG: Apesar de ser um novato na seleção, você já tem status de ídolo. Você tem carisma?

Robinho: Procuro ser o Robinho de sempre. Feliz, humilde e alegre.

Desgaste físico não preocupa

Eduardo Maluf

Teresópolis (AE) – O meia Alex, do Fenerbahce, com dores musculares, foi cortado da Copa das Confederações. O zagueiro Luisão, do Benfica, também com problemas físicos, está fora das partidas contra o Paraguai, esta tarde, e a Argentina, quarta-feira – ambas pelas eliminatórias. E Juninho Pernambucano deixou o treino de sexta-feira com dores. Mas, de acordo com o preparador físico da seleção, Moracy Sant’Anna, o maior desgaste para os jogadores neste fim de temporada européia é mental e não físico.

Moracy explica que os atletas, é claro, sentem cansaço por estar sem férias há quase um ano, mas se apresentam em boas condições. "No início de temporada, é até pior, porque os jogadores voltam às atividades fora de forma, depois das férias, e sentem dores com os exercícios", acrescentou o preparador. "No meio da temporada, é a melhor época, só reclama quem é rabugento mesmo."

O preparador físico da seleção brasileira, que trabalhou nas Copas de 82, 86 (ambas como auxiliar de Gilberto Tim) e 94, acredita que a preocupação maior é, curiosamente, com a questão emocional. Por quê? "Os jogadores acabaram de decidir campeonatos, disputar finais e acabam ficando desgastados mentalmente", explicou.

Como o Paraguai e a Argentina, os dois próximos adversários nas eliminatórias, também têm a base formada por atletas vindos da Europa, não haverá tanta diferença nos aspectos físico e psicológico.

Luiz Rosan, fisioterapeuta da seleção (que trabalha no Santos), tem discurso um pouco diferente do de Moracy. Em sua visão, pelo menos cinco do elenco estão esgotados. Mas, preocupada com a cabeça dos jogadores, e não só com o físico, a comissão técnica convidou o terapeuta motivacional Evandro Motta para conversar com o grupo, em Teresópolis, antes da viagem para Porto Alegre, local do confronto com o Paraguai. "O grupo é muito bom, eu me sinto um privilegiado em trabalhar com eles", afirma Motta, que esteve em Curitiba esta semana acompanhando o Santos, onde também trabalha. "Estou com a seleção, o Santos, o Fluminense e o Paulista de Jundiaí. Por enquanto, estamos bem em todas as competições", brinca.

Ronaldinho não promete show

Porto Alegre (AE) – Nascido em Porto Alegre, em 1980, Ronaldinho festeja o fato de jogar em sua casa pela seleção brasileira. Na verdade, estará mais ou menos em casa. A cidade é a sua, o estádio não. Revelado pelo Grêmio, o craque se acostumou a atuar no Olímpico, que estará vazio neste domingo, com as portas fechadas. O confronto com o Paraguai será no estádio do rival Internacional, o Beira-Rio.

Ronaldinho acredita que o fato não mudará em nada seu desempenho nem o comportamento do torcedor. A torcida do Inter, que dividirá as arquibancadas com os gremistas, também o admira. O meia tornou-se um patrimônio do estado do Rio Grande do Sul, é idolatrado e respeitado por todos. "Jogar pela seleção e vencer na cidade onde eu nasci é muito bom, motivo de grande alegria."

Nos últimos anos, Ronaldinho passou a ser o grande, e talvez o único, motivo de orgulho dos gaúchos no futebol. O Grêmio despencou, passou a conviver com uma enorme crise financeira (coincidência ou não, após a transferência do jogador para o Paris Saint-Germain) e caiu para a Série B do campeonato brasileiro. O Inter, embora mantenha aproveitamento razoável, não disputa há anos títulos de competições nacionais – apenas regionais.

Hoje, um dia atípico para a capital do Rio Grande do Sul. Dia de festa. E para a família Assis Moreira mais ainda. "Meus irmãos, minha mãe, todos estarão me prestigiando. A família é grande e os amigos também vão ao estádio para me ver. Isso é maravilhoso", contou Ronaldinho, que comemora a presença de Robinho no ataque. "Ele se movimenta demais e facilita o trabalho dos meias."

Apesar da expectativa do público por um show da seleção, principalmente por parte do melhor do mundo em 2004, eleito em votação da Fifa, o jogador pede calma, paciência. Lembra que a marcação será pesada e que o Paraguai jogará de forma bastante defensiva. "Primeiro temos de pensar em vencer, mas, se conseguirmos fazer uma grande exibição, melhor ainda", comenta o armador. O craque do Barcelona realmente não vem conseguindo dar espetáculo pela seleção. Quem sabe hoje, em sua casa, seja o dia. (EM)

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo